(*) por Yuri Quadros
Imagine acordar ao som de sirenes cortando a madrugada. Não o barulho familiar de uma ambulância passando, mas aquele uivo que faz o estômago apertar — o aviso de que algo terrível está vindo do céu. Foi assim que Jerusalém despertou quando centenas de drones iranianos emergiram do deserto como um enxame fantasmagórico, obrigando famílias inteiras a correr para abrigos enquanto o céu se iluminava com clarões antimísseis.
Sistemas avançados de defesa antiaérea conseguiram interceptar grande parte do ataque, mas centros urbanos como Tel-Aviv e Haifa foram atingidos. Vitória técnica nas primeiras horas dessa nova fase — mas a mensagem de Teerã chegara intacta: Vocês abriram uma porta manchada de sangue.
Rewind. Menos de 24 horas antes, duzentos caças israelenses rasgaram o céu persa numa ofensiva sem precedentes. O resultado? Três generais mortos, seis cientistas nucleares eliminados — enquanto Jerusalém justificava como um ataque preventivo para impedir que o programa nuclear iraniano cruzasse o ponto de não retorno.
Agora, você pode pensar: “Mais uma briga no Oriente Médio, né?” Mas deixe-me te contar por que essa não é apenas mais uma escaramuça — é, provavelmente, a batalha mais importante pela sobrevivência da ordem liberal desde que o Ocidente perdeu Constantinopla há séculos, sua última grande fortaleza na região.
Há uma ironia histórica deliciosa aqui. Quando os últimos cruzados partiram de Acre, em 1291, levaram consigo qualquer presença significativa da civilização ocidental no coração do Oriente Médio. Por 700 anos, a região ficou nas mãos de impérios islâmicos autoritários — otomanos, árabes, persas.
Israel contra a barbárie
Hoje, uma pequena democracia de 9 milhões de almas faz o que os antigos reinos católicos não conseguiram: manter um bastião da liberdade ocidental numa região onde autocratas sonham em ressuscitar califados. Enquanto nós debatemos questões identitárias nas universidades, eles enfrentam um regime que condena mulheres à morte por apedrejamento por não usarem o véu corretamente e financia terroristas de Beirute a Sanaa.
Israel não é apenas um país; é o último posto avançado de uma civilização que valoriza os direitos individuais, o Estado de Direito e a liberdade de consciência. E, diferentemente dos antigos cruzados, que vieram de longe para lutar em terra estranha, os israelenses já estão lá — e não pretendem sair.
O que enfrentamos hoje é uma aliança explícita entre Teerã, Moscou e Pequim — três potências autoritárias unidas pelo ódio comum à ordem liberal ocidental. O Irã fornece drones para Putin massacrar ucranianos. A China compra petróleo iraniano violando sanções. A Rússia vende tecnologia nuclear aos aiatolás.
Quando Israel ataca instalações nucleares iranianas, não está defendendo apenas seu território — está impedindo que fanáticos religiosos tenham acesso a armas que podem vaporizar não só Tel-Aviv, mas eventualmente Paris, Londres ou Nova York. Porque, convenhamos, quem acredita que os aiatolás vão parar em Israel, especialmente quando afirmam constantemente que todo o Ocidente é seu inimigo?
O fator petróleo
Cerca de um quinto de todo o petróleo mundial passa pelo estreito de Ormuz. O Irã exporta “apenas” 1,7 milhão de barris diários, mas essa quantia representa quase todo o fluxo que chega às refinarias chinesas via Golfo Pérsico. E a China consome 15% de todo o petróleo do planeta.
Quando o mercado viu os primeiros clarões, o Brent saltou mais de 8%, tocando os 74 dólares o barril. Aqui está a questão: quem você prefere controlando essa torneira vital? Uma democracia imperfeita, mas transparente, ou um regime que usa a receita do petróleo para financiar terrorismo global?
A resposta deveria ser óbvia. Israel não luta apenas por sua sobrevivência — luta para manter os valores ocidentais e, de bônus, para que as rotas energéticas globais fiquem longe de fanáticos que sonham com o apocalipse.
Israel carrega hoje um fardo único: defender valores ocidentais numa geografia hostil, cercado por 500 milhões de árabes e persas. Sua doutrina da “primeira tacada” não nasce de aventureirismo militar, mas da compreensão cristalina de que, com fronteiras do tamanho de Sergipe e inimigos nucleares, não se pode dar ao luxo de esperar o primeiro golpe.
O apoio discreto de Washington e o silêncio calculado das capitais europeias revelam uma verdade constrangedora: o Ocidente quer que Israel faça o trabalho sujo, mas prefere não sujar as próprias mãos. É cômodo ter um proxy democrático enfrentando o eixo autoritário enquanto fingimos neutralidade moral — quando não fazemos o oposto e falamos abertamente em premiar o atentado de 7 de outubro reconhecendo um Estado palestino, como faz a França de Macron (enquanto tira selfies com Lula).
Os objetivos do Irã
O Irã dos aiatolás não é apenas mais um ator regional — é a cabeça de uma hidra autoritária que se estende da Venezuela aos campos de concentração de Xinjiang. Eles financiam ditadores, treinam terroristas e exportam miséria humana como política de Estado.
É por isso que autocracias regionais odeiam tanto Israel: não por causa da questão palestina (eles se importam zero com os palestinos), mas porque Israel prova que é possível ter liberdade, prosperidade e dignidade humana na região. É um exemplo perigoso demais para ser tolerado.
No fim das contas, aqui estamos nós: beneficiários indiretos de uma batalha que preferimos ignorar. Entre a coragem de levantar guerra e o medo de cruzar linhas morais invisíveis, o Ocidente redescobre uma verdade que Santo Tomás de Aquino conhecia bem: às vezes, a defesa do bem comum exige decisões difíceis, mas moralmente lícitas, que requerem prudência e fortaleza — mesmo quando pesam sobre a consciência reta.
E, enquanto isso, nas madrugadas de Jerusalém — onde Cristo chorou sobre a cidade que não o reconheceu —, as sirenes nos lembram que a Providência às vezes usa instrumentos imperfeitos para preservar aquilo que não devemos perder.
Yuri Quadros é diretor de formação do Instituto de Formação de Líderes de Belo Horizonte e conselheiro da Rede Liberdade e Kleberson Amaral, Fellow do Instituto de Formação de Líderes de Belo Horizonte