Sem comida, cama e apenas com o uso de soro, isotônicos e água de coco. Esse é o retrato exibido sobre a rotina do deputado Glauber Braga (Psol-RJ), instalado de forma improvisada na Câmara dos Deputados.
Há quatro dias, o parlamentar adotou a greve de fome como forma de protesto contra a decisão do Conselho de Ética que recomendou sua cassação. A medida, entretanto, dividiu opiniões entre integrantes da base do governo e oposicionistas.
Apesar de ter sensibilizado figuras próximas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Márcio Macedo, e a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann — que visitaram Glauber —, a ação não surtiu o mesmo efeito entre integrantes do centrão e da oposição.
Entre parlamentares contrários ao governo, a leitura é de que a greve de fome é um “ato teatral” ou “cênico”. Interpelado por Oeste, o deputado Kim Kataguiri (União – SP) foi categórico ao comentar o comportamento de Braga depois do parecer do colegiado.
“Esse tipo de teatrinho não comove ninguém”, disse o deputado. “Muito menos o presidente da comissão, que foi insultado reiteradas vezes e, mesmo assim, conduziu os trabalhos com ordem e respeito.”
A Câmara julga Glauber por agressão ao militante Gabriel Costenaro, integrante do Movimento Brasil Livre, grupo político liderado por Kataguiri.
A narrativa de perseguição
Ainda segundo o parlamentar do União Brasil, não há indício de perseguição política por parte do deputado Arthur Lira (PP-AL), ex-presidente da Câmara. Aliados de Glauber Braga citaram o nome de Lira como suposto articulador do processo de cassação.
“Quem acusa tem de provar”, afirmou Kataguiri. “Essa narrativa é uma tentativa barata de vitimização. O motivo da cassação está escancarado: Glauber partiu para a agressão física, com testemunhas, câmeras, tudo registrado. Foi falta de decoro. O Parlamento não pode normalizar esse tipo de comportamento criminoso. Se fosse um deputado de direita que tivesse feito o mesmo, a esquerda já estaria pedindo prisão.”
Glauber Braga provoca desgaste na esquerda
O Psol, por sua vez, insiste que a punição é desproporcional e tem caráter político. No entanto, a pressão do partido não tem produzido efeito entre integrantes do centrão — bloco majoritário na Câmara — nem entre deputados da oposição. Para esses grupos, o gesto de Glauber Braga expõe um desgaste institucional crescente entre o Legislativo e os setores mais radicalizados da esquerda.
Apesar da visibilidade, a greve de fome não mudou o cenário no Conselho de Ética. O plenário da Casa deve analisar o caso nas próximas semanas. Até lá, Glauber Braga segue em protesto.
O que diz a assessoria do psolista
A assessoria do parlamentar se manifestou, por meio de nota, neste domingo. “Glauber Braga está há mais de 103 horas em greve de fome, instalado no Plenário 5 da Câmara dos Deputados, onde foi realizada a reunião do Conselho de Ética”, diz o texto.
A nota também afirma que a decisão pela cassação do psolista é resultado de uma “articulação golpista”.
