Início Destaque França censura estandes israelenses no Salão de Paris

França censura estandes israelenses no Salão de Paris

0

O primeiro dia do Salão Internacional de Aeronáutica e Espaço de Paris, nesta segunda-feira, 16, foi marcado por uma crise diplomática entre França e Israel. A controvérsia começou com a decisão das autoridades francesas de vedar o acesso a estandes de empresas israelenses de armamentos, medida executada por meio da instalação de grandes painéis pretos que cobriram os espaços de exposição.

De acordo com o Ministério da Defesa de Israel, a ação foi uma resposta ao descumprimento de uma instrução dos organizadores, que, por orientação do governo francês, determinaram a retirada de “armas ditas ofensivas” dos estandes israelenses.

Israel afirma ter rejeitado essa exigência e que, em represália, “essa ação unilateral foi realizada no coração da noite”. O ministério também publicou fotografias para sustentar sua alegação e classificou a medida como “sem precedentes” e “contrária às normas que regem exposições de segurança em todo o mundo”.

Em nota oficial publicada em seu canal institucional, o Ministério da Defesa israelense afirmou que “pouco antes da abertura do Salão Aéreo de Paris, autoridades organizadoras, em nome do governo francês, exigiram a remoção de sistemas de defesa pertencentes à indústria de defesa israelense dos estandes da exposição”.

O diretor-geral do Ministério da Defesa, general Eyal Zamir, declarou que o governo francês agiu de forma unilateral, sem aviso prévio. Segundo ele, “essa é uma ação grave e inaceitável contra a indústria de defesa israelense”.

Ainda de acordo com Zamir, “as empresas israelenses estavam agindo com total transparência e em conformidade com os regulamentos” e que o ministério “continuará representando com orgulho a indústria de defesa de Israel no mundo todo”.

Em outra nota oficial divulgada posteriormente, o governo israelense ampliou suas críticas e afirmou que a decisão francesa foi “politicamente motivada” e impulsionada por “considerações comerciais”.

O texto sustenta que isso ocorre “justamente quando Israel lidera os esforços globais para neutralizar a ameaça do Irã e da sua rede terrorista, que ameaça o Oriente Médio, a Europa e o mundo inteiro”.

O comunicado também acusa o governo da França de “ceder a pressões políticas internas e externas” com o objetivo de “excluir a indústria de defesa israelense”, ao destacar que os visitantes poderão “testemunhar a diferença entre as exposições abertas e modernas das empresas israelenses e os estandes cobertos e censurados”.

O presidente de Israel, Isaac Herzog, também se manifestou. Em entrevista à emissora LCI, classificou a decisão como “escandalosa” e afirmou que os “pavilhões israelenses (…) foram cercados e trancados, impedindo qualquer acesso” durante o evento.

França é alvo de críticas diretas de Herzog

Herzog declarou ainda que “empresas israelenses assinaram contratos com os organizadores, elas pagaram”, e comparou a situação à criação de “um gueto israelense”. Ele pediu que a medida “seja corrigida imediatamente”.

O Salão do Bourget ocorre entre os dias 16 e 22 de junho, em Seine-Saint-Denis. Em nota, os organizadores confirmaram que “executaram uma instrução oriunda das autoridades da França antes da abertura do Salão, relativa à retirada de certos equipamentos apresentados em estandes israelenses”.

Segundo os responsáveis, a decisão afetou apenas “alguns expositores”, mas garantiram que “as empresas em questão continuam autorizadas a expor no Salão” e que “o diálogo está em andamento para que as diferentes partes encontrem uma solução favorável à situação”.

O primeiro-ministro francês, François Bayrou, justificou a decisão com base “na situação na região”, nas “tensões extremas” e nas “escolhas diplomáticas da França”. Ele mencionou, em particular, “a preocupação (…) em relação a Gaza” como razão para a postura do governo.

Bayrou também afirmou que havia a necessidade de “manter uma certa distância” diante da presença de armamentos ofensivos de origem israelense no evento. “Como essas armas ofensivas não foram retiradas, os estandes foram – provisoriamente, espero – fechados.”

Entre os nove estandes na área ligada ao Ministério da Defesa de Israel, “quatro empresas cumpriram as regras”, enquanto outras, como Uvision, Elbit Systems, Israel Aerospace Industries e Rafael, “não respeitaram o quadro e foram sancionadas”. Essas empresas só poderão retomar suas atividades no salão caso aceitem retirar os armamentos em questão.

A presença de empresas israelenses também chegou ao Judiciário. Na terça-feira, o Tribunal Judicial de Bobigny rejeitou o pedido de associações que solicitavam a exclusão das empresas israelenses do evento, com a alegação de risco de perpetuação de crimes internacionais. A decisão foi confirmada pela Corte de Apelação de Paris.

Entidades internacionais também se manifestaram. A Anistia Internacional denunciou “a presença de sociedades que vendem armas utilizadas em Gaza” no evento e criticou “as entregas de material militar francês a Israel”, afirmação negada por Paris.

Dias antes, a Liga dos Direitos Humanos protocolou uma queixa com constituição de parte civil contra a empresa francesa Eurolinks e a israelense IMI Systems. A acusação inclui suspeitas de cumplicidade em crimes contra a humanidade e genocídio.

A Eurolinks é acusada de fornecer componentes militares, como elos para metralhadoras, à IMI Systems, subsidiária da Elbit Systems, “conhecida por ser a maior empresa de armamentos de Israel”, conforme descrito na denúncia.



Via Revista Oeste

SEM COMENTÁRIOS

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Sair da versão mobile