O cardeal Giovanni Angelo Becciu anunciou que não participará do conclave que escolherá o sucessor do papa Francisco, marcado para a noite da próxima quarta-feira, 7. A decisão foi formalizada em uma declaração pública nesta terça-feira, 29.
Na ocasião, Becciu afirmou: “Tendo em mente o bem da Igreja, que servi e continuarei a servir com fidelidade e amor, bem como contribuir à comunhão e à serenidade do conclave, decidi obedecer, como sempre fiz, à vontade do papa Francisco de não entrar em conclave, permanecendo convencido de minha inocência”.
A renúncia de Becciu ocorreu depois de uma reunião realizada nesta segunda-feira, 28, no Vaticano. Durante a Congregação Geral na Sala Paulo VI, o cardeal Pietro Parolin teria apresentado a Becciu duas cartas assinadas pelo papa Francisco que formalizavam sua exclusão do processo eleitoral.
As cartas não foram publicadas oficialmente, mas sabe-se que a primeira possui assinatura manuscrita do pontífice, enquanto a segunda traz apenas a inicial “F”. A ausência de divulgação oficial gerou dúvidas sobre o valor jurídico dos documentos, mas Becciu concluiu que contestar a exclusão significaria desafiar a autoridade papal.
Nos dias anteriores, o cardeal havia sustentado que não poderia ser impedido de participar do conclave, uma vez que teria recebido o perdão de Francisco. No entanto, a insistência no tema paralisou os trabalhos da congregação de cardeais, cuja pauta foi, pela quinta vez consecutiva, dominada pela polêmica em torno da suspensão dos direitos de Becciu.
Com a retirada voluntária, o Vaticano busca restabelecer a serenidade necessária para a realização do conclave e a escolha do novo líder da Igreja Católica depois da morte do papa Francisco, na segunda-feira, 21.
Quem é o cardeal banido pelo papa Francisco
Giovanni Angelo Becciu, nascido em 1948 na Sardenha, foi um dos homens mais influentes da Cúria Romana. Ele chegou a ocupar o posto de substituto para Assuntos Gerais da Secretaria de Estado — uma espécie de chefe de gabinete do papa.
Em 2018, foi elevado ao cardinalato por Francisco e nomeado prefeito da Congregação para as Causas dos Santos. No entanto, sua trajetória desmoronou dois anos depois, quando renunciou sob pressão depois de ser implicado em um escândalo de corrupção com investimentos imobiliários milionários em Londres.

Ele acumulou vasta experiência diplomática em missões da Santa Sé na África, Oceania, Europa e América, além de ter atuado como núncio apostólico em Angola, São Tomé e Príncipe e Cuba. Fluente em várias línguas e conhecido por sua habilidade política, era considerado, até a queda, um dos nomes de confiança para missões delicadas dentro do Vaticano.
Becciu foi o primeiro cardeal a ser julgado criminalmente por um tribunal da Santa Sé. Em 2023, foi condenado a cinco anos e meio de prisão por peculato, abuso de poder e suborno, além de ter sido multado e declarado inelegível para exercer cargos públicos. Apesar de manter o título de cardeal, perdeu seus privilégios, como o direito de participar de conclaves.