Nos últimos dias, está ocorrendo uma valorização do real frente ao dólar,, depois de um forte avanço da moeda norte-americana. Esta reversão tem sido influenciada por fatores externos, entre eles a estratégia econômica dos Estados Unidos (EUA) de elevar tarifas comerciais, especialmente sob a liderança de Donald Trump.
A análise é do economista Sérgio Belém Teixeira, formado pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e diretor da empresa de inteligência de mercado.
Para ele, as medidas do governo Trump vêm provocando um enfraquecimento global da moeda norte-americana. Ciente do risco do enfraquecimento do dólar, o governo, com a ação, buscou tornar os produtos do país mais baratos para o mundo, o que, em tese, estimula exportações e ajuda no fortalecimento da indústria.
No entanto a desvalorização do dólar passou a exigir maior cautela por parte dos investidores, de acordo com o economista.
“O que está acontecendo, e que já impacta os mercados, é uma reorganização da política econômica norte-americana”, afirma Belém a Oeste. “A elevação de tarifas, somada a posturas mais assertivas nas negociações comerciais, vem contribuindo para a perda de força do dólar frente a diversas moedas, não apenas o real.”
Tecnicamente, segundo ele, o dólar se enfraquece porque as tarifas encarecem produtos importados e podem desacelerar o crescimento econômico dos EUA, reduzindo a atratividade dos ativos em dólares para investidores internacionais.
Além disso, prossegue ele, o aumento das barreiras comerciais cria algumas incertezas que levam à realocação dos investimentos para outras moedas e mercados.
“A tendência de enfraquecimento do dólar é generalizada e não está ligada apenas ao Brasil”, observa Belém. “A normalização desse movimento vai depender de como os EUA conduzirão sua política econômica nos próximos meses.”
Ambiente externo impede valorização do dólar
Enquanto isso, o Brasil caminha para um cenário de queda gradual da taxa de juros, o que, segundo Belém, em condições normais provocaria saída de capital estrangeiro e valorização do dólar.
Contudo, o ambiente externo tem amenizado essa pressão. Mesmo com o início da desmontagem do carry trade (lucro com diferenças de juros entre países), o real permanece relativamente estável, um efeito indireto da desvalorização global do dólar.
“Hoje estamos vendo o câmbio em torno de R$ 5,60 a R$ 5,61″, diz Belém. “Podemos ver flutuações até R$ 5,70, mas também há possibilidade de quedas momentâneas para R$ 5,50, conforme oscila o risco percebido.”