Início Destaque Tráfico para a Europa teve ajuda de servidores de Portugal

Tráfico para a Europa teve ajuda de servidores de Portugal

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Uma investigação da Polícia Judiciária (PJ) de Portugal revelou um esquema sofisticado de corrupção e tráfico internacional de drogas que envolve agentes da Autoridade Tributária e Aduaneira (AT) e traficantes da América do Sul. A operação, batizada de Phortos, resultou na apreensão de 1,3 tonelada de cocaína e na prisão de sete pessoas. 

Vídeos entregues às autoridades revelam detalhes das negociações entre criminosos e inspetores aduaneiros para liberar cargas de entorpecentes sem fiscalização. A CNN Portugal teve acesso às gravações e divulgou o caso na última segunda-feira, 2. 

As imagens mostram conversas com dois inspetores da AT, equivalente portuguesa da Receita Federal. O autor das gravações é Luís Mayer, considerado o cérebro de uma organização criminosa dedicada à importação e ao tráfico marítimo de cocaína da América do Sul. 

No vídeo, os servidores públicos negociam a liberação de um contêiner carregado com cocaína no Porto de Lisboa, mediante pagamento de suborno no valor de € 700 mil (cerca de R$ 4,1 milhões). Mayer gravou com uma câmera oculta, uma estratégia para garantir aos superiores do cartel que a droga seria transportada sem problemas, pois os agentes do Estado já estariam do lado dos traficantes. 

“Estamos todos tratados. Falamos com a turma toda. Faltam sete/sete. Tudo certinho, direitinho”, diz um dos inspetores. “O que é sete/sete?”, pergunta Mayer. “São setecentos mil [euros]”, responde o servidor.

Cocaína foi transportada em contêineres de frutos do mar

A carga, avaliada em mais de € 30 milhões, foi liberada pelo Porto de Lisboa sem fiscalização. A droga foi transportada em contêineres de lula congelada e armazenada por dois dias em um galpão da empresa Frutifrio, na cidade de Óbidos, antes de seguir para outros países da Europa. A empresa teria sido contratada de última hora e, segundo a PJ, não sabia da natureza da carga.

Apesar da aparente tranquilidade na operação criminosa, a Polícia Judiciária já monitorava o grupo e conseguiu seguir o rastro da droga até o destino final. Sete pessoas, com idades entre 26 e 60 anos, foram presas em flagrante. Entre os detidos estão Luís Mayer e Fábio Cândido, considerados peças-chave da organização.

Durante o interrogatório, Mayer confessou o envolvimento no esquema e entregou dois vídeos gravados secretamente. Em um deles, ele registra uma conversa com um servidor da alfândega de Setúbal, que detalha como os contêineres com cocaína passavam sem inspeção tanto ali quanto em Lisboa.

“Tenho dois vídeos que sou eu a gravar os dois indivíduos que têm influência na alfândega de Setúbal, na seleção dos contentores que passam com droga ou não”, relatou à polícia. 

A organização criminosa usava empresas de fachada para acobertar a importação da droga. Entre elas, a empresa Linos, de Torres Vedras, foi apontada como cúmplice ativa no esquema. Segundo Mayer, a companhia tinha total ciência do tráfico e recebeu € 500 mil como compensação pela participação.

“O senhor Lino que eu falo aqui [na gravação] é o senhor Nuno, o filho do senhor Lino Pai [dono da empresa]”, disse Mayer à polícia. “Esse senhor estava consciente da existência da carga e de que estavam a importar cocaína?”, perguntou um agente da PJ. “Perfeitamente consciente”, respondeu Mayer.

Polícia também investiga corrupção de servidores em Portugal

Além da investigação por tráfico, a PJ iniciou uma segunda frente de apuração, desta vez focada na corrupção de servidores públicos. Nas buscas realizadas em fevereiro, a polícia encontrou € 500 mil em dinheiro vivo escondidos em casas de suspeitos — em locais como lareiras e forros de móveis. 

No total, 32 mandados foram cumpridos, os quais incluem 18 buscas em empresas e órgãos públicos. A Polícia Judiciária e o Ministério Público de Portugal seguem investigando outras ramificações do esquema.

A nova fase da operação resultou na abertura de um inquérito separado, com 15 pessoas formalmente acusadas, entre elas os dois inspetores da Receita portuguesa flagrados nos vídeos no momento de aceitar propina. Também foram identificadas contas bancárias no exterior com depósitos milionários ligados aos suspeitos.



Via Revista Oeste

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