domingo, junho 8, 2025
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Israel repete em Gaza experiência da longa guerra no Líbano

Pouco mais de quarenta anos separam a invasão israelense ao Líbano, em 1982, do atual conflito na Faixa de Gaza, iniciado depois do ataque do grupo terrorista Hamas em outubro de 2023. A entrada de Israel no território libanês ocorreu em 6 de junho daquele ano. E, mesmo com períodos de trégua e sem combates, só foi terminar no ano 2000.

Apesar das diferenças geográficas e políticas, os dois episódios têm semelhanças: uso maciço da força militar, grande número de civis mortos e a ambição de desarticular grupos armados considerados ameaças existenciais por Israel.

A invasão do Líbano, em junho de 1982, foi oficialmente motivada por um atentado contra o embaixador de Israel no Reino Unido, atribuído a um grupo palestino dissidente, o Abu Nidal. 

Naquele dia, um ataque no centro de Londres conduzido por dois jordanianos e um iraquiano ligados ao grupo, quase matou o embaixador de Israel no Reino Unido, Shlomo Argov. Shlomo sobreviveu com sequelas graves.

E morreu no Hospital Hadassah em 2003, aos 73 anos, em decorrência dos ferimentos sofridos no ataque. Parte de seu corpo havia ficado paralisada e ele permaneceu sob cuidados hospitalares permanentes por 21 anos.

Israel usou o episódio como argumento para lançar uma ampla ofensiva contra a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), que operava no sul do Líbano e era liderada por Yasser Arafat. 

O objetivo era remover a OLP da fronteira norte de Israel e instalar um governo libanês mais favorável. O governo israelense buscava neutralizar incursões de terroristas do grupo em território israelense e já havia realizado uma incursão de menor escala em 1978.

Os então primeiro-ministro e ministro da Defesa israelenses, Menachem Begin e Ariel Sharon, retaliaram o atentado com a chamada Operação Paz para a Galileia.

Foi quando, em 6 de junho de 1982, Israel invadiu o Líbano pela segunda vez, dessa vez em uma incursão de maior escala, que chegou até Beirute.

No caso de Gaza, a ofensiva israelense foi desencadeada por um ataque brutal do Hamas, em 7 de outubro de 2023, que resultou na morte de cerca de 1,2 mil pessoas em Israel e na captura de centenas de reféns. 

A resposta foi uma campanha militar com o objetivo declarado de destruir o Hamas e resgatar os reféns. Já é a mais intensa operação israelense desde 1982.

Ambos os conflitos deixaram um rastro de destruição. Em 1982, estima-se que entre 17 mil e 19 mil pessoas, a maioria delas civis, tenham morrido durante os combates. 

O episódio mais violento foi o massacre de Sabra e Shatila, no qual milícias cristãs aliadas de Israel mataram milhares de palestinos nestes dois campos de refugiados. 

A presença israelense no Líbano também acelerou o surgimento do Hezbollah, grupo xiita que se tornaria o principal inimigo de Israel no Líbano.

Na guerra em Gaza, além de milhares de palestinos mortos, muitos deles pertencentes ao grupo terrorista, boa parte da infraestrutura da região foi destruída, com mais de 60% das casas afetadas e 1,9 milhão de pessoas deslocadas internamente. 

A crise humanitária provocada pelo bloqueio, pelos ataques e por saques do grupo terrorista se acirrou nos últimos meses, quando Israel intensificou a incursão em busca dos 58 reféns que ainda estão sob controle dos terroristas.

Incursões de Israel no Líbano e em Gaza

Tanto em 1982 quanto na atual entrada em Gaza, Israel justificou suas ações com base na legítima defesa e na necessidade de eliminar ameaças armadas próximas ao seu território. 

Em ambos os casos, os alvos foram grupos palestinos com estruturas militares e aspirações políticas: primeiro a OLP no Líbano; agora, o Hamas em Gaza.

O desdobramento da ação em Gaza, aliás, levou as Forças de Defesa de Israel a novos ataques no Líbano, ao novamente penetrar no país e chegar até Beirute, para combater o Hezbollah, aliado do Hamas. Tal incursão ocorreu entre fevereiro e outubro de 2024.

A diferença no atual momento é que a OLP tinha um caráter laico. O Hamas, ao contrário, é essencialmente religioso, interpretando de forma radical o Islã. Pertence à ala sunita dos muçulmanos.

O desfecho de um destes casos já é sabido. Israel só foi retirar suas tropas do Líbano 18 anos depois, em 2000. 

Naquela época, o Hezbollah já se fortalecera como novo ator de resistência depois da expulsão da OLP. Em Gaza ainda é incerto qual será o cenário pós-guerra. 

Mas autoridades norte-americanas e israelenses já adiantaram que o Day After do fim desta guerra será crucial. A ideia é evitar que o vácuo de poder e a devastação alimentem novos ciclos de radicalização.



Via Revista Oeste

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