quinta-feira, novembro 21, 2024
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Havia “indisciplinados“, mas Forças Armadas não queriam golpe, diz ministro da Defesa à CNN

O ministro da Defesa, José Múcio, disse à CNN que havia um grupo de “indisciplinados” dentro das Forças Armadas, mas Exército, Marinha e Aeronáutica não queriam aderir a um movimento golpista. Segundo ele, isso ficou evidente no dia 8 de janeiro de 2023.

As instituições estavam absolutamente ao lado da democracia. Exército, Aeronáutica e Marinha estavam absolutamente a favor da Constituição. Evidentemente que você tinha (indisciplinados). Como num clube de futebol, tem um jogador indisciplinado no jogo, você tira o indisciplinado, mas o time continua

José Múcio

“Eles não queriam o golpe. Em nenhum momento se falou nisso. Sentimos uma coesão muito grande. Estavam todos os comandantes lá nesta noite (do 8 de janeiro), disse Múcio.

O ministro se reuniu com os comandantes de Exército, Marinha e Aeronáutica horas após ocorrer a depredação às sedes dos Poderes. Naquele momento, o acampamento em frente ao quartel-general (QG) do Exército, de onde parte dos vândalos partiu em direção à Esplanada, ainda não havia sido desfeito.

De acordo com Múcio, os acampamentos montados em frente a quartéis e unidades militares pelo país fizeram parte de uma “dissidência interna” das Forças Armadas, principalmente do Exército.

Segundo Múcio, havia dois tipos de oficiais: os “legalistas, que seguiam os preceitos constitucionais”, e os que “não tinham se conformado com o resultado das eleições”.

“Ali [nos acampamentos] tinha militares indignados que iam trabalhar e deixavam a família. Virou um fim de tarde para muitas famílias”, afirmou.

Para o ministro, não havia “nada” em que se apoiar para determinar a retirada “abrupta” das pessoas dos acampamentos. “A Justiça poderia ter dito ‘tire’, mas não disse. Havia uma certa conivência, nós percebemos. E talvez não mexer permitiu que chegássemos a isso”, declarou.

Em Brasília, o acampamento montado desde novembro de 2022 em frente ao QG do Exército serviu como uma espécie de base de onde saiu boa parte dos invasores das sedes dos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023.

Não podíamos tomar a iniciativa (de tirar), porque íamos mexer com muita gente que nós não podíamos mexer. Eu tinha consciência que aquilo era uma coisa muito delicada para a gente tomar uma providência que não tivesse muita responsabilidade e tivesse muito bem respaldada

José Múcio

O ministro da Defesa disse que passou a acompanhar os acampamentos para avaliar a situação. “Ia todos os dias quando vinha para o trabalho, passava sempre preocupado se o número estava aumentando ou diminuindo. Mas a Justiça não se manifestou para mandar tirar”, disse.

As declarações de Múcio fazem parte de entrevista ao especial da CNN sobre atos do dia 8 de janeiro, quando as sedes dos Três Poderes foram invadidas e depredadas. A série de reportagens será exibida ao longo da próxima semana.

O acampamento em frente ao QG do Exército reunia caravanas de diversas partes do Brasil e tinha infraestrutura de apoio, com tendas e barracas de alimentação, oração, fornecimento de energia, e banheiros.

Integrantes do acampamento ostentavam faixas e bradavam palavras de ordem de teor golpista e inconstitucional, como intervenção militar, destituição dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e questionamentos sobre o resultado da última eleição, vencida por Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Pessoas que estavam no local foram presas em 9 de janeiro. Os que não invadiram nenhum prédio público foram enquadrados por incitação ao crime e associação criminosa. As ações penais abertas foram suspensas para que a Procuradoria-Geral da República (PGR) avalie a possibilidade de fechar acordos com os réus. Até o momento, foram validades 38 acordos.

Múcio afirmou que, no começo de dezembro de 2022, a inteligência do Exército calculava em 45 mil o número de pessoas acampadas em frente a unidades militares em todo o país. Em 7 de janeiro, a quantidade de pessoas em frente ao QG do Exército beirava 1.500, segundo o ministro.

Múcio disse que ouviu do então comandante do Exército, general Júlio César de Arruda, em 8 de janeiro, que o acampamento estava diminuindo e poderia “desaparecer” nos próximos dias.

“Só que havia grupos externos convocando as pessoas para virem para cá [Brasília]. No final de semana tinha sempre mais gente, que vinham das cidades vizinhas de Brasília”, afirmou Múcio.

Para o ministro da Defesa, muitas das pessoas que chegaram à Praça dos Três Poderes em 8 de janeiro não estavam originalmente no acampamento.

Tinha senhora ali que não ia conseguir andar lá do Comando (do Exército) até aqui (Esplanada). Foram pessoas que foram chegando como se fosse um grande piquenique, um passeio, uma manifestação, só que no meio tinham baderneiros, e gente que promoveu aquele quebra-quebra

José Múcio

Segundo o ministro, as ações dos vândalos no dia não tiveram uma liderança. “Era gente que corria para um lado, corria para outro, tudo correndo, como uma loucura”, afirmou. “Eram senhoras, crianças, rapazes e moças, como se fosse uma grande baderna, uma grande balbúrdia, sem liderança”, disse.

José Múcio disse que é do interesse das Forças Armadas que os suspeitos de envolvimento nos atos sejam “detectados para que sejam punidos”.

Em fevereiro, o ministro Alexandre de Moraes fixou o Supremo Tribunal Federal como órgão competente para julgar militares envolvidos nos atos de 8 de janeiro.

Até o momento, não foi oferecida denúncia no Supremo contra algum militar.

O ministro declarou que houve “uma mistura muito grande” dos mundos político e militar. Ele afirmou que um episódio como o de 8 de janeiro não se repetirá mais.

Aquilo foi um alerta. Tiramos algumas coisas positivas daquilo, algumas precauções que não tivemos naquele momento. O ambiente do governo, da classe política com a classe militar, é o mais pacífico possível, todos com responsabilidade de servir ao país

José Múcio

Via CNN

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