O Gabinete de Segurança Institucional (GSI) perdeu espaço no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) após os ataques de 8 de janeiro, na avaliação de especialistas ouvidos pela CNN.
“O GSI perdeu peso político, importância política, importância simbólica em comparação ao governo [Jair] Bolsonaro”, disse à CNN Victor Missiato, analista político e historiador do Mackenzie. “Havia uma desconfiança muito grande dos militares por parte do novo governo eleito, e essa desconfiança ganhou maiores contornos com tudo que aconteceu no 8 de janeiro”, continua.
O órgão, que é diretamente responsável pela segurança pessoal do presidente e do vice, bem como dos palácios presidenciais e das residências oficiais, não impediu a depredação do Palácio do Planalto nos ataques de janeiro de 2023. O governo federal calculou um prejuízo de R$ 297,7 mil em dados estruturais em sua sede na ocasião.
Segundo Eduardo Grin, cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), “o GSI tinha uma enorme desconfiança com a volta do governo Lula porque vários funcionários e vários militares que atuaram no governo Bolsonaro foram mantidos pelo general G. Dias quando ele assumiu o governo”. “E, depois, isso acabou sendo visto como um dos fatores para que a prevenção dos atos de 8 de janeiro fosse menor do que se devia”.
Durante os oito primeiros meses da terceira administração de Lula, 362 militares do GSI foram exonerados. Após o 8 de janeiro, o número de afastamentos se intensificaram, com militares sendo convocados para depoimentos nas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) do Congresso Nacional e da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) suspeitos de omissão ou planejamento dos atos.
“O processo de saneamento do GSI vai levar um tempo. Nesse sentido, o governo tem uma grande desconfiança em relação a sua estrutura frente ao que ela já foi, inclusive no passado, nos próprios governos do PT, de Lula e Dilma [Rousseff]”, completou Grin.
Em abril de 2023, o então ministro-chefe do GSI, general G. Dias, pediu demissão após a divulgação com exclusividade pela CNN de imagens que o mostravam no Planalto durante os atos.
Grin explica que “Lula tinha uma grande confiança política em G. Dias”, e a sua saída “certamente gera um abalo, porque as imagens do 8 de janeiro são controversas. “Tanto que não se sabe se de fato ele quis mediar para não criar uma situação que não é violenta, se ele foi conivente, se ele tinha informações prévias, se ele não tinha informações prévias”.
O impacto da saída dele, além de pessoal, é política. Porque Lula teve que fazer um enorme esforço, e segue fazendo, agora já mais normalizado, para colocar a relação institucional dele de presidente com os militares. A saída de um militar de alta patente, um general de um órgão importante no qual as Forças Armadas brasileiras, em especial o Exército, sempre acharam que era uma área segura sua, e isso gera impacto político
Eduardo Grin
Missiato, por sua vez, considera que o impacto do pedido de demissão de Gonçalves Dias foi mais simbólico do que estrutural na institucionalidade do GSI.
“Tendo em vista que o governo Lula no segundo semestre começou a fazer novos acordos e a estrutura do GSI se mantém presente por enquanto no mandato de Lula”, expressa o analista político do Mackenzie.
Uma das decisões de Lula à cerca do GSI foi a divisão da atribuição da segurança presidencial com a Polícia Federal (PF), o que causou uma disputa entre os órgãos.
No último mês, aconteceu um novo capítulo nessa história, com a criação do Comitê Nacional de Cibersegurança para aperfeiçoar a segurança cibernética no Brasil.
O órgão tem, entre outras atribuições, a responsabilidade de apresentar medidas para aperfeiçoar a segurança cibernética do país e desenvolver a educação em segurança cibernética. Integrantes da cúpula da Polícia Federal ficaram incomodados com a decisão de o GSI coordenar o comitê.
Entretanto, Missiato analisa que a partir do abrandamento da das relações entre a administração federal e os militares nos últimos meses, o gabinete voltou a ganhar apoio político e financeiro a partir dessa decisão.
Em sua opinião, isso mostra “uma reaproximação ao final do primeiro ano do mandato de Lula em relação ao início de seu governo”.
Compartilhe: