E aí, toca o telefone.
Era um certo Sarkis, com voz carregada, sotaque forte de árabe, hebraico, polonês, húngaro, sei lá, não me lembro bem.
Ele queria me oferecer fotos, fotos de times e jogadores de futebol.
Eu estava começando em 1994 a ser colunista, numa loucura do Arnaldo Branco que Sérgio Xavier, da Placar, e Nilson Camargo, do Agora, não abortaram.
Fui até o apartamento do fotógrafo Sarkis.
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Avenida Rio Branco, centro velho, prédio feio, cinzento, homens estranhos, mulheres não casadoiras de vida nada fácil, portaria de hotel de filme afegão e elevador (manual) londrino dos tempos de Jack, o estripador.
Cheguei, o velho Sarkis disse-me de cara que eu era “um bem-intencionado historiador”, mas com fotos paupérrimas.
E ele dormia entre elas, dentre elas e com elas.
O apartamento era um imenso sótão com caixas e mais caixas de fotos-papel, pilhas de livros, sofás puídos cheios de estranhas máquinas fotográficas, numa desordem completa que me apaixonou.

É que Sarkis, no seu mundo particular de vida ao lado de ninguém, tinha milhares de fotos daquilo que mais gosto, além de minha família e de tentar entender o mundo maravilhoso do vinho: jogador de ontem, jogador de futebol “véio”.
É uma questão de gratidão.
Quem jogou futebol e falou de futebol no rádio, forjou meu Norte, à deriva até 1971.
E Sarkis tinha o que eu mais queria: fotos de 63, 64, 65, 66, os anos mais felizes de minha vida a bordo de meu velho rádio GE de capa de couro marrom.



Aflito, sôfrego, as fotos que via no soturno apartamento davam vida, a cada segundo, a quase tudo que havia ouvido nas vozes de Pedro Luiz, Edson Leite, Haroldo Fernandes, Flávio Araújo e, principalmente, de Fiori Gigliotti.
Sarkis pediu três reais por foto.
Paguei cinco, levei 615 delas.
E em 25 anos de coluna, quase todas foram publicadas e, no cantinho, as letrinhas sempre fizeram justiça: “Foto: Sarkis”.
Nem sei se ele via, lia ou se sentia algum prazer.
O meu foi e continuará sendo indescritível.
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Sou bom de rádio, apesar que já fui um Barcelona e hoje estou mais para um Corinthians, digamos, em boa fase.
Na TV, sou o Guarani campeão brasileiro de 1978, e, escrevendo, subi de Hepacaré de Lorena ou Seleto de Paranaguá para Fortaleza de Vojvoda.
Mas em duas coisas sou parada dura para perder: na gratidão e no amor ao boleiro de ontem.
- “Fausto Silva, o grande bom caráter da TV mundial, chega aos 75 anos!”
E boleiro para mim é todo aquele que calçou chuteira ou que empunhou um microfone esportivo.
Conheço um pouquinho de cada um deles depois de tanto ouvir, ler e ver.
E sabem qual foi a melhor emissora que eu vi em toda minha vida?
A TV Sarkis.
É que essa TV me fez ver quase tudo que só ouvia em Minas e que tanto queria curtir nos estádios e não podia.
O post Fotógrafo Sarkis, o imortalizador de craques apareceu primeiro em Revista Oeste.
Via Revista Oeste