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Festivais Gastronômicos: o impacto desses eventos para os restaurantes

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Abocanhado pela holding Alife Nino em abril, o Grupo Irajá, criado pelo chef Pedro de Artagão, deve sua fama, principalmente, ao Boteco Rainha. A primeira unidade do bar foi inaugurada na primeira trégua da quarentena, em julho de 2020. Depois surgiram a Taberna Rainha, o Boteco Princesa e o Galeto Rainha. E ainda há o Irajá Redux, só com unidades em shoppings, derivado do extinto Irajá Gastrô, o célebre restaurante autoral de Artagão.

Com a venda para o Alife Nino, que detém marcas como Boteco Boa Praça e Nino Cucina, o chef virou sócio minoritário de tudo e passou a comandar as cozinhas de todos os bares e do Irajá Redux. Dada a força do Grupo Irajá, é de imaginar que ele costume nadar de braçada em festivais gastronômicos, que se multiplicaram pelo Brasil nos últimos e anos e parecem ter vindo para ficar.

É o caso do Rio Gastronomia, promovido pelo jornal O Globo. “Na edição deste ano, faturamos cerca de R$ 600 mil”, gaba-se Artagão. “Nossa operação foi a segunda que mais faturou, por uma diferença de R$ 10 mil”. Ele acrescenta que o Grupo Irajá figurou entre os primeiros colocados nas dez últimas edições do evento. “Sempre saímos no lucro, que nos ajuda a incrementar a empresa ao longo do ano, e mais fortalecidos. A participação, afinal, dá relevância para o grupo e ajuda a mantê-lo na boca do povo”.

Em eventos do tipo, Artagão não participa com uma marca ou outra, mas com um mix de várias. No último Rio Gastronomia, por exemplo, ele serviu o pastel de camarão do Boteco Rainha, o arroz de bacalhau do Irajá Redux e uma sobremesa cuja receita não revela por nada, o bolo de brigadeiro do Irajá Gastrô. Em cada edição, de 10 mil a 12 mil unidades desse último item costumam ser vendidas. “O intuito da nossa participação é permitir que os visitantes provem um pouco das nossas marcas principais”, resume o chef.


Pedro Artagão
Pedro de Artagão, criador do Grupo Irajá • Divulgação

Com a experiência de quem já montou operações em eventos diversos, do Rock in Rio ao show no Rio de Janeiro da última turnê da dupla Sandy e Junior, Artagão idealizou uma logística especial para ocasiões do tipo — tudo para encurtar as filas e maximizar as vendas. “Normalmente, os empreendimentos criam uma fila para pedidos e pagamento e uma segunda para a retirada”, diz o chef. “Nós não. Deixamos tudo pronto, assim como as redes de fast food, e entregamos o pedido assim que a compra é feita. Só funciona, é claro, porque a nossa demanda é muito grande. Do contrário, comprometeríamos a qualidade”.

Artagão acrescenta que não admite a hipótese da comida acabar em um evento desses. “Não pode acontecer de jeito nenhum, por isso sempre levamos matéria-prima a mais”, revela. “Não podemos passar uma imagem negativa para potenciais novos clientes”.

Dono do Babbo Osteria, em Ipanema, o chef Elia Schramm é outro que tem propriedade de sobra para falar sobre festivais gastronômicos. Para o Rio Gastronomia, de cuja última edição participou, é só elogios. “Ajuda a trazer público novo para o restaurante”, informa. Neste ano, pela primeira vez, o Babbo Osteria marcou presença no Rio2C. “Foi um teste”, avalia Schramm. “Foi um sucesso de vendas para nós, mas, no fim, foram elas por elas”.

O chef aproveita para reclamar dos eventos que cobram de 25% a 30% do faturamento dos restaurantes e bares participantes. “Quando o percentual exigido pelos organizadores está dentro dessa faixa, a participação se limitará a uma ação de marketing”, sustenta. “É impossível sair com algum lucro assim, levando em conta todo os custos com insumos, mão de obra e transportes. Uma taxa de cerca de 15% é mais razoável”.

Ele já participou de outros festivais, a exemplo do Chefs na Praça, em Ipanema, e do Gastronomia Sem Fronteiras, em São Conrado, e de outros eventos badalados, caso do Rio Open. “O maior erro é participar de eventos que atraem um público que não tem nada ver com o dos seus restaurantes”, conclui Schramm.


Fachada do restaurante Babbo Osteria, do chef Elia Schramm • Rodrigo Azevedo

Presidente do SindRio, o Sindicato de Bares e Restaurantes do Rio de Janeiro, Fernando Blower pensa parecido. “Só faz sentido participar de eventos que tenham o mesmo público-alvo do seu estabelecimento”, aconselha. “Em muitos casos, afinal, se trata principalmente de uma exposição de marca, que pode ser muito vantajoso a médio prazo. Mas desde que você se conecte com o público certo”. Blower atenta ainda para a importância de uma análise detalhada sobre custos e ganhos, que nem sempre são financeiros. “É preciso contabilizar uma porção de gastos extraordinários, seja com aluguel de equipamentos, seja com a contratação de funcionários extras”, argumenta. “E é importante ter em mente que nem sempre se lucra com eventos do tipo e que, para empreendimentos muito pequenos, a conta pode não fechar”.

A participação da unidade carioca do Rancho Português na edição deste ano do Rio Gastronomia rendeu R$ 216 mil ao restaurante. “Tivemos uma margem de lucro pequena, mas valeu muito a pena”, avalia Aragão de Melo, gerente-geral do endereço, que serviu itens como bacalhau à gomes de sá e arroz de pato. “É uma forma exitosa de ampliar a clientela do restaurante no dia a dia”. Ele só lamenta o fato de que choveu em um dos fins de semana do evento. “Daí o movimento despencou”, recorda. “Mas foi ruim para todo mundo”.


Bacalhau à Lagareiro do Rancho Português • Marcelo Cabral

Na beira de um penhasco, casebre de 200 anos ganha estrela Michelin

Via CNN

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