O empresário Pedro Luis Kurunczi, de Londrina (PR), é a primeira pessoa a ser denunciada sob a acusação de financiar os atos criminosos de 8 de janeiro de 2023. A denúncia foi apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) em 14 de dezembro, como revelou a CNN.
O processo tramita sob sigilo e, por esse motivo, o nome de Kurunczi foi omitido quando a PGR divulgou a notícia no final do ano. O nome do empresário foi revelado pelo jornal “Folha de São Paulo” e confirmado pela CNN com fontes com acesso às investigações.
A denúncia narra que Kurunczi gastou R$ 59,2 mil para fretar quatro ônibus e levar 108 pessoas a Brasília. De acordo com a PGR, além de financiar os deslocamentos, Kurunczi participou da organização e arregimentação de pessoas para a prática dos atos.
A acusação contra ele foi enviada pelo subprocurador Carlos Frederico Santos ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
A denúncia foi um dos últimos atos de Carlos Frederico à frente das investigações. O subprocurador entregou o cargo dias depois. O procurador-geral da República, Paulo Gonet, avalia assumir ele próprio o inquérito.
Kurunczi vai responder pelos crimes de associação criminosa armada, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça e deterioração de patrimônio tombado. Somadas, as penas podem passar de 30 anos de reclusão.
A denúncia narra que, entre outubro de 2022 e o dia 8 de janeiro de 2023, Kurunczi teria participado ativamente de grupos de mensagens com teor golpista com o objetivo de incitar a população e as Forças Armadas para não só contestar o resultado das eleições como destituir o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Na campanha presidencial de 2022, Kurunczi doou R$ 22 ao então presidente Jair Bolsonaro, que disputava a reeleição. O valor doado faz alusão ao número de Bolsonaro, filiado ao Partido Liberal, na urna eletrônica.
De acordo com a denúncia, Kurunczi mantinha uma lista de transmissão em aplicativo de mensagem destinada a difundir ideias golpistas. Em período próximo aos atos criminosos, ele passou a encaminhar postagens incitando a realização de golpe de Estado e tratando da organização do transporte para Brasília.
No início de janeiro do ano passado, de acordo com a denúncia, ele enviou mensagem informando que alguns ônibus sairiam de Londrina no dia 6 de janeiro para uma “tomada” do Congresso Nacional. Em outra mensagem, segundo a PGR, Kurunczi mostra empenho em garantir arrecadações para pagar as despesas, inclusive de alimentação, das pessoas que estariam em Brasília para os atos.
Entre os passageiros dos ônibus fretados por Kurunczi, estava Orlando Ribeiro Júnior, preso em flagrante no Palácio do Planalto no momento da depredação. Denunciado pela PGR, ele foi condenado pelo STF a três anos de prisão.
Dias depois dos atos de 8 de janeiro, a Advocacia-Geral da União (AGU) ajuizou uma ação civil pública indenizatória à 8ª Vara Federal do Distrito Federal pedindo a condenação dos financiadores dos ataques ao pagamento de R$ 100 milhões. Ao todo, 54 pessoas, três empresas, uma associação e um sindicato foram apontados como financiadores. O nome de Kurunczi estava listado entre eles.
A AGU informava no documento, com base em documentos fornecidos pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que “os réus financiaram/patrocinaram a contratação de ônibus para transporte de manifestantes até a cidade de Brasília, sendo que a partir desse transporte e aglomeração de manifestantes é que se desenrolou toda a cadeia fática que culminou com a invasão e depredação de prédios públicos federais”.
“Sob tal aspecto, financiar o transporte de um movimento declaradamente não pacífico ultrapassa os limites dos bons costumes e daquilo que é lícito, de modo que os réus devem reparar à sociedade tudo aquilo representativo do dano ocasionado pelos fatos em questão, inclusive sob a perspectiva imaterial frente à tamanha gravidade ao patrimônio público, à ordem pública e ao próprio Estado Democrático de Direito”, diz o documento.
A CNN procurou a defesa do empresário Pedro Luis Kurunczi, mas não obteve retorno. O espaço está aberto para manifestações.
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