Em carta dirigida aos filiados e militantes do Partido dos Trabalhadores (PT), publicada na última sexta-feira, 23, o ex-ministro José Dirceu defendeu uma “revolução social” no Brasil e acusou o sistema financeiro e o Banco Central de serem entraves à justiça social.
O documento, divulgado semanas antes do Processo de Eleições Diretas (PED) do PT, previsto para 6 de julho, também faz um balanço do momento político do país e do próprio Partido dos Trabalhadores.
Na mensagem, Dirceu classifica a atual conjuntura como desafiadora e convoca o partido a reforçar sua base militante, retomar sua capacidade de mobilização social e promover reformas estruturais.
“A conjuntura e as condições que governamos exigem de nós a capacidade de fazer alianças mais amplas que a centro-esquerda, mas ao mesmo tempo criar as condições de mobilização popular, social e sindical para fazer avançar as reformas estruturais que o país reclama: a política, tributária e financeira”, escreveu.
O documento apresenta um endosso direto à candidatura de Edinho Silva, ex-prefeito de Araraquara (SP), à presidência nacional do PT. Dirceu elenca as credenciais políticas do aliado e menciona sua atuação como parlamentar e ministro da Comunicação Social no governo Dilma.
“Creio que Edinho está à altura do desafio de presidir o PT nesse momento histórico e nessa conjuntura que enfrentamos”, afirma. Segundo Dirceu, a candidatura de Edinho é sustentada pela corrente majoritária do partido, mas também busca ampliar apoios para além dessa ala.
O ex-ministro destaca ainda a importância de manter a unidade partidária, que “se expressa na participação de todas as correntes e tendências políticas na direção nacional e em sua executiva”.
José Dirceu critica papel do Banco Central, cujo presidente foi indicado por Lula
Um dos trechos centrais da carta dedica-se à crítica direta ao modelo econômico vigente. Dirceu menciona especificamente o “circuito entre o Banco Central e a Faria Lima” como símbolo de concentração de renda e obstáculo ao financiamento de políticas públicas.
“É preciso uma verdadeira mudança na vergonhosa concentração de renda e no cartel bancário financeiro, na política de juros e nas metas da inflação”, diz. Ele argumenta que o serviço da dívida pública e a isenção tributária das elites comprometem a capacidade do Estado de investir e atender à população.
Segundo Dirceu, “a apropriação e expropriação da renda nacional pelo capital financeiro e agrário” alimentam um modelo que “cada vez mais concentra renda, via os juros altos únicos no mundo”.
A carta também apresenta uma agenda de reformas defendidas por Dirceu. Entre elas estão a tributária — com foco na progressividade e revisão do Imposto de Renda — e a reforma política. Ele aponta a “degradação do parlamento” e o “desvirtuamento das emendas parlamentares” como motivos urgentes para uma mudança no sistema político.
Além disso, defende a ampliação da atuação estatal e a preservação do que classifica como “Estado de Bem-Estar Social conquistado com todas suas limitações na Constituinte de 1988”. Rechaça propostas de privatização de estatais e do desmonte de bancos públicos.
Ao tratar da conjuntura política nacional, Dirceu menciona a necessidade de derrotar o “bolsonarismo” e propõe a formação de uma frente ampla de esquerda para enfrentar adversários políticos à direita. “A tarefa de unificar toda a esquerda numa frente que vá além do PV e do PCdoB para enfrentar o PL e o bolsonarismo”, escreve.
O ex-ministro também defende o fortalecimento da atuação do PT no Congresso, com atenção especial ao Senado. Para ele, o cenário legislativo é estratégico para “criar as condições para dar continuidade ao nosso projeto político e reeleger o Presidente Lula em 2026”.
Por fim, o ex-ministro articula sua visão de política externa e defende uma postura internacional não alinhada. “Nosso lugar é no Sul Global, nos Brics e na relação com a América do Sul e América Latina, com a África e os países árabes”, escreveu.
Dirceu conclui a carta com uma convocação à participação no PED. “Vamos dar uma demonstração da força de nossa democracia interna e de nossa capacidade de unir o PT na diversidade e na pluralidade, para reeleger nosso presidente Lula em 2026 e dar continuidade ao nosso projeto político em defesa do Brasil democrático e popular”, finalizou.