sábado, maio 10, 2025
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Como tarifaço de Trump afeta turismo nos EUA? Especialistas explicam

O mercado de turismo é um dos mais importantes dos Estados Unidos, sendo o maior de exportação de serviços do país. Em 2023, o setor contribuiu com US$ 2,36 trilhões para o Produto Interno Bruto (PIB) americano, superando os valores pré-pandemia, de US$ 2,27 trilhões (2019), conforme a plataforma online Statista.

Para se ter uma ideia, um emprego é gerado no país a cada 40 visitas internacionais, segundo dados do ITA (Administração de Comércio Internacional).

No entanto, esse cenário pode mudar devido às tarifas de importação que o presidente Donald Trump anunciou, tendo a China, o México e o Canadá, os maiores compradores de produtos norte-americanos, como os principais alvos.

A empresa de serviços financeiros J.P. Morgan e a instituição global Goldman Sachs projetaram um enfraquecimento das viagens e previsões fracas de lucros das companhias do setor. A redução dos gastos com viagens ao exterior deve tirar 0,1% do PIB dos EUA em 2025, sendo que o impacto pode chegar a 0,2% a 0,3%.

Mesmo assim, o estudo “Previsão de visitantes internacionais”, do Escritório Nacional de Viagens e Turismo dos EUA (NTTO, na sigla em inglês), seguiu o caminho contrário e previu um aumento das visitas internacionais no país em 2025. Na pesquisa, estimaram receber 77,1 milhões de estrangeiros, tendo um crescimento de 6,5% em comparação a 2024.

Porém, em março, o número de visitantes internacionais caiu 11,6% nos EUA em comparação ao ano anterior. Os dados são do ITA (Administração de Comércio Internacional, na sigla em inglês), segundo o jornal The Guardian.

Glauber Santos, economista e coordenador da pós-graduação em turismo da Universidade de São Paulo (USP), diz não ser possível analisar as tarifas de Trump sem considerar a política de controle migratório nos EUA. O segundo mandato do presidente começou marcado pela deportação de imigrantes do país — o primeiro voo de brasileiros chegou em 24 de janeiro.

“As duas medidas têm consequências negativas sobre o turismo receptivo americano”, pontua Glauber, afirmando que o turismo estadunidense já está em declínio.

“As pessoas estão menos interessadas em ir aos Estados Unidos nesse momento e isso está acontecendo tanto em razão das tarifas, quanto em relação aos controles migratórios reforçados”, completa.

Lucas Leite, professor de Relações Internacionais da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), diz que países como a China, o Canadá e o México, que tem muito intercâmbio comercial e turístico com os EUA, devem sofrer mais “pela percepção de hostilidade da ideia de que eles não são bem-vindos”.

“Essa percepção pode gerar um reposicionamento dos EUA, de um país aberto e globalizado, para um país imprevisível, muito fechado e que muda o tempo todo sua política”, explica.

Já em fase de negociação, as tarifas também devem aumentar a inflação americana e os preços dos produtos nos EUA — principalmente, dos que dependem das importações de insumos e os industrializados, que costumam ser adquiridos da Ásia.

Com isso, o turismo de compras, popular entre os brasileiros e entre os viajantes de países menos desenvolvidos, deve ser afetado. “Esses produtos agora ficam mais caros e, com isso, o turismo de compras deve cair bastante — já está caindo, na verdade”, diz o professor.

Como viajantes do Brasil devem se comportar?

As viagens para compra não são a única forma de turismo afetada: as viagens de negócios, muito importantes nos EUA, também devem ser atingidas. Guilherme Dietze, economista e presidente do Conselho de Turismo da FecomercioSP, ressalta que esse tipo de deslocamento sustenta o transporte aéreo mundial com um ticket médio elevado — um indicador de performance de vendas.

“Tem uma oportunidade para o Brasil aumentar a correlação não só com os EUA, mas com a Europa e outros lugares, aumentando o turismo de negócios com o mundo”, destaca o economista do órgão.

O turismo de lazer também deve diminuir com relação aos anos anteriores. Para Glauber, países europeus e o Canadá serão favorecidos para os viajantes brasileiros.

“Parece que as tarifas do Trump não estão gerando e não tem perspectivas de gerar reações, por exemplo, nas tarifas entre Europa e Brasil ou outros pares de países do mundo. De modo que esse efeito deve ficar bastante contido nos EUA, deixando mais marcado e evidente o favorecimento dos destinos concorrentes do país norte-americano”, explica.

Já Dietze acredita que o brasileiro não deve deixar de viajar a trabalho ou a lazer para os EUA. Ele diz que a procura intensa de visita ao país norte-americano envolve desde passeios por diversão e participação em feiras até intercambistas interessados em estudar na nação.

“Não vejo como impacto essa redução de turistas brasileiros nos EUA. O que impactaria seria um câmbio muito desfavorável, o que não é o caso: a gente está vendo o câmbio mais comportado de R$ 5,60, abaixo dos R$ 6,30 que vimos no final do ano passado. Isso vai estimulando os turistas brasileiros a irem aos EUA”, opina.

Diante desse cenário, os especialistas ressaltam a incerteza sobre em qual medida as tarifas de importação de Donald Trump se concretizarão. Apesar de discordarem sobre os comportamentos dos brasileiros com o possível aumento da inflação e desvalorização do dólar, um fato é certo: com tarifas de 10% sobre produtos nacionais, o Brasil é um dos países menos afetados na guerra comercial.

Viagem de trem mais longa dos Estados Unidos dura 65 horas

*Com informações de Siddarth S, da Reuters, em Bengaluru

Via CNN

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