Início Viagem & Gastronomia Como o filme “Ainda Estou Aqui” pode influenciar o turismo brasileiro?

Como o filme “Ainda Estou Aqui” pode influenciar o turismo brasileiro?

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A tendência de set-jetting, que leva turistas a conhecerem cenários de filmes e séries, tem crescido no mundo todo. A pesquisa Unpack 2025, feita pelo Grupo Expedia, apontou uma tendência de crescimento nesse setor, com dois terços dos 25 mil viajantes entrevistados afirmando que filmes, serviços de streaming e programas televisivos influenciam na escolha do destino.

O sucesso do filme “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, indicado a três categorias do Oscar 2025, pode fazer parte da estatística e influenciar o turismo no Brasil. Pelo menos é o que defende Agatha Abrahão, diretora-executiva da agência Stella Barros Turismo.

“O Rio de Janeiro é um lugar muito bonito, tem um apelo turístico muito forte e aí a gente junta isso com a qualidade de produção de ‘Ainda Estou Aqui’, além da projeção que o Oscar dá para o cinema e para nossa cidade. Não tenha dúvida de que isso vai refletir em ampliar a curiosidade [pela cidade]”, afirma.

“Ainda Estou Aqui” abrange o período da ditadura militar brasileira por meio da história da advogada Eunice Paiva, personagem interpretada por Fernanda Torres na obra, que transita entre a capital fluminense e paulista.

O professor e pesquisador de turismo e cultura Luiz Trigo, da Universidade de São Paulo (USP), destacou que visitações a locais de “Ainda Estou Aqui”, filmado entre o Rio de Janeiro e São Paulo, podem ser mobilizadas se houver organização do setor público ou privado.

“É preciso que os agentes de viagens e organizadores de roteiros estejam bem informados e conheçam as peculiaridades desses locais e saibam inseri-los nos contextos históricos e políticos”, diz Luiz.

Para oferecer um bom serviço, é preciso que as agências de viagem facilitem o acesso às informações, filmes ou publicações que ajudem o visitante a se interessar pelo lugar histórico.


ainda estou aqui
Casa que pertenceu à família Paiva não existe mais e foi reproduzida em “Ainda Estou Aqui” • Reprodução/Sony Pictures/Alile Dara Onawale

No entanto, Agatha afirma que esse movimento turístico a partir de “Ainda Estou Aqui” acabou de começar. A diretora-executiva acredita que o set-jetting da obra não tenha ganhado força o suficiente até o momento.

A estreia em diferentes datas ao redor do mundo pode ser um dos motivos para a demora de estrangeiros interessados no Brasil após assistirem ao longa. O filme ocupou as salas de cinema do país em novembro do ano passado, mas nos Estados Unidos, por exemplo, o lançamento ocorreu só em 17 de janeiro, e no Reino Unido, onde bateu recorde de maior bilheteria de um filme latino-americano, apenas em 21 de fevereiro.

“A gente ainda não viveu o efeito total do cinema nesse ciclo [do turismo], que ainda é importante: o de influência, decisão, compra e embarque”, explica Agatha sobre o processo de set-jetting do filme nacional.

Mesmo assim, a profissional destaca que a casa usada para as gravações do filme no Rio de Janeiro já virou ponto turístico. Em São Paulo, o túmulo de Eunice Paiva ganhou um passeio gratuito com guia turístico.


Lápide de Eunice Paiva no cemitério Araçá, em São Paulo • Divulgação/Thiago de Souza

Como o set-jetting virou tendência de viagem?

A tendência de set-jetting, ou seja, a de visitar locações de obras literárias, cinematográficas, de séries e novelas, tem aumentado nos últimos anos. O estudo Unpack 2025, do Grupo Expedia, mostrou que 36% dos entrevistados dizem que o cinema e a TV impactaram mais os planos turísticos do que no ano passado.

Para Agatha Abrahão, o motivo desse fortalecimento do set-jetting ocorre devido à consolidação da relação entre a tecnologia do streaming e o público. “É todo um novo modelo, um novo comportamento e uma nova relação de confiança, de referência com o filme, com a televisão e a série [que influencia na escolha do público]”, explica.

Luiz Trigo ainda acrescenta que o set-jetting é uma tendência um pouco antiga “possibilitada pela união do turismo de massa a preços mais baixos e à disseminação de filmes e novelas pelo cinema, televisão e, atualmente, o streaming”.

As redes sociais foram outro fator para o crescimento do set-jetting após o YouTube e o TikTok revolucionarem as formas de comunicação visual. Essa nova fase na história mundial começou com o rádio e a televisão até chegar na internet e nos streamings, disseminando a cultura de imagens mundialmente.

“O mundo de mídia se pulverizou e não ficaram só as televisões comerciais clássicas ou os canais à cabo”, completa o professor.


Lily Collins como a personagem Emily Cooper na 4ª temporada de “Emily em Paris” • Divulgação/Netflix

Ele diz que as redes sociais jogam com as megaproduções da indústria cinematográfica, como Bollywood e Hollywood, de uma forma que um destino viralize após o lançamento de filmes e séries no streaming. Mesmo assim, não é qualquer local que cai nas graças do público.

“O destino precisa ter conteúdo. O hotel, por exemplo, precisa ser muito legal e o lugar precisa ter um estilo definido. Esses lugares [que viraram um sucesso] têm algo especial, não adianta querer enganar o turista: se não for muito bom, não vai viralizar”, categoriza.

Alguns exemplos de destinos mundiais parte do set-jetting são Barcelona, Roma, São Francisco e Paris, este último o cenário principal do popular seriado “Emily em Paris”. A Tailândia, onde se passa a terceira temporada de “The White Lotus”, também enfrenta o mesmo fortalecimento do set-jetting.

Agatha afirma ainda que a visita a locações de séries, filmes e livros aprofunda a relação do público com esses conteúdos. “Aquilo constrói uma conexão que não é só geográfica, mas emocional também e faz essa projeção de vitrine”, explica.

Outros filmes do Oscar 2025 enfrentam o mesmo movimento de set-jetting, como “Wicked“, com Ariana Grande e Cynthia Erivo, filmado em Norfolk, no norte da Inglaterra, ou “Conclave“, em Roma, na Itália.

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Via CNN

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