Brittany e Blake Bowen, dos Estados Unidos, nunca haviam visitado o Equador antes, mas decidiram se mudar para o país sul-americano em 2021, buscando proporcionar uma criação totalmente diferente para seus quatro filhos.
Antes de se mudarem, o casal, que morava no estado de Washington, vive em Loja, uma pequena cidade no sul da Cordilheira dos Andes e, desde então, afirmam que estão lá para ficar. “Adoramos esse pequeno país”, conta Brittany ao CNN Travel. “Esperamos até poder ter netos aqui um dia.”
Uma decisão importante
Antes de tomar a decisão de se mudar, o casal, casado há quase 17 anos, sentia cada vez mais preocupação com as pressões impostas às crianças pela “sociedade americana moderna” e buscavam algo novo.
“Não gostávamos do que vimos se desenvolver nas últimas décadas…”, explica Brittany, afirmando que sentiam que os jovens nos Estados Unidos estavam se tornando cada vez mais isolados.
“Não estávamos confiantes de que nossos filhos seguiriam o mesmo caminho que as gerações anteriores.”
E continuou: “Quanto mais pensávamos sobre isso, mais nos perguntávamos: ‘Será que é isso que queremos? Será que queremos que eles sigam essa corrida pelo ‘Sonho Americano’?”.
O casal também estava frustrado com o que descrevem como a “vida americana padrão”. “Deslocamentos longos e nunca dinheiro suficiente”, diz Blake.
“Todos aqueles problemas de sempre… Eu estava trabalhando em uma carreira que tomava muito tempo e me afastava de casa. Não queríamos mais isso.”.
Por que o Equador?

“Sempre tivemos a América do Sul em mente”, explica Brittany, fluente em espanhol e que já havia estudado na Argentina.
“Falávamos sobre isso de vez em quando desde que nos conhecemos. Sempre nos perguntando quando e se a porta ia se abrir.”
O casal, que trabalhava anteriormente com gestão de desastres, conta que já discutiam sobre a possibilidade de se mudar há cerca de 15 anos, mas foi só com a pandemia da covid-19, em 2020, que finalmente tomaram a decisão.
“Tudo se encaixou muito bem para a nossa mudança na hora certa”, diz Brittany, acrescentando que finalmente estavam financeiramente preparados para se mudar.
Inicialmente, eles consideraram se mudar para o Chile, mas após pesquisa, optaram pelo Equador, acreditando que seria uma opção melhor.
“Embora o Equador nunca tivesse sido a principal opção, sempre esteve na retaguarda”, comenta Blake, destacando que as fronteiras do Chile estavam fechadas para turistas internacionais devido à pandemia.
“Então, aos poucos, conforme fomos pesquisando mais, pensei: ‘Nossa, esse país é incrível!’. E havia muitas vantagens em viver aqui.”
Entre essas vantagens estavam o fato de o Equador estar a apenas quatro horas de voo de Miami, usar o dólar americano como moeda oficial e ter um custo de vida “bastante baixo”.
“Fazia muito sentido, também, em termos práticos”, acrescenta Blake, observando que o clima temperado durante todo o ano também foi um fator importante para a decisão.
O casal iniciou o processo de solicitação de “vistos profissionais”, que são concedidos a candidatos com diploma universitário (ou superior) e têm validade de dois anos.
Benefícios significativos
Optaram por contratar um advogado de imigração para ajudá-los com os trâmites. “Como compramos um imóvel aqui, também poderíamos ter solicitado um visto de investidor“, diz Brittany.
No final de 2021, os Bowens partiram de Washington com seus quatro filhos – Aurora, Sebastian, Conrad e Truett, que na época tinham entre 6 e 11 anos – para começar a nova vida no Equador.
“Contamos para as nossas famílias no final de março, e chegamos em setembro”, lembra Brittany. “Foi um processo bem rápido.”
Eles dizem que se sentiram em casa no país quase imediatamente. “Assim que chegamos, foi como ‘Ok, é aqui que deveríamos estar’“, recorda Blake.
Após passarem bastante tempo pesquisando sobre as diferentes regiões do país, decidiram se estabelecer em Loja, uma cidade com uma comunidade unida e uma das mais antigas do Equador.
Compraram um terreno de cinco acres, repleto de árvores frutíferas e plantas de café, em uma encosta de montanha, que encontraram no Facebook Marketplace.
“Os equatorianos usam o Facebook para tudo”, diz Brittany. “Então, tivemos que melhorar nossa presença no Facebook depois que chegamos.”
Os Bowens, que registram suas experiências no YouTube no canal Average Family Abroad, passaram o primeiro ano no país focados na construção de sua casa de três quartos e no conhecimento da comunidade local.
“Temos economias”, explica Brittany. “Então, construímos a casa e nos adaptamos à vida. E eu realmente fico feliz de termos feito isso, porque foi um tempo muito precioso.”
O casal investiu cerca de US$ 100 mil (R$ 576,5 mil) no terreno e cerca de US$ 55 mil (R$ 317 mil) na construção da casa, que conta com uma varanda e um terraço.
“A vista é espetacular”, diz Blake. “Saímos de casa e dissemos: ‘Essa é uma vista que vale milhões.’”
Eles foram muito bem recebidos pela comunidade. “Podemos falar o quanto for sobre o povo equatoriano e como são as pessoas mais fascinantes com quem já passamos tempo”, diz Brittany.
“E nós viajamos bastante pela América Latina e temos um amor profundo por toda a região, em especial pela América do Sul.”
Brittany, que era a única fluente em espanhol na família quando chegaram, ficou especialmente feliz ao perceber que suas “piadas eram entendidas”.
“O humor nem sempre se traduz”, observa ela. “Eu posso entender o que alguém disse, mas não saber por que todo mundo está rindo.”
“Mas aqui não é o caso. Eu faço uma piada e ela é entendida como uma piada. As pessoas entendem, e estão rindo comigo. Foi uma descoberta muito agradável.”
Uma das coisas que mais admiram nos equatorianos é o orgulho que muitos têm pelo seu país, e Brittany e Blake perceberam que ninguém se surpreendia por terem escolhido se mudar para lá. Pelo contrário, frequentemente são parabenizados pela decisão.
“Temos tanto amor pela nossa vida aqui”, diz Brittany. “Eu até me surpreendi com o quanto o clima faz diferença na qualidade de vida.”
E completa: “A nossa região do Equador é conhecida como o ‘Vale da Primavera Eterna’, e viver em primavera constante é simplesmente fantástico.”
Os Bowens passam muito tempo cuidando da fazenda e ficaram surpresos ao ver que suas árvores frutíferas continuam a produzir o ano todo.
“Nunca imaginamos que estaríamos colhendo nossas próprias frutas-dragão e abacaxis, muito menos bebendo o nosso café caseiro”, diz Brittany, admitindo que ela e Blake se tornaram exigentes no gosto do café desde então. “Tomamos muito café dos EUA, e ficamos horrorizados.”
Brittany e Blake esperam poder um dia avançar com o café que cultivam e até exportá-lo para outros países. “Nosso região do Equador é famosa pelo café“, diz Brittany. “A qualidade é simplesmente excepcional.”
Comunidade unida
Embora os filhos do casal tenham sido educados em casa nos Estados Unidos, os Bowens decidiram matriculá-los na escola no Equador.
“Ninguém faz homeschooling no Equador”, explica Brittany. “Poderíamos ter continuado com isso, mas sempre seríamos vistos como estrangeiros… Seria uma barreira. E queríamos nos integrar.”
Essa decisão acabou se mostrando bem-sucedida para a família, e o casal diz que, ao se tornarem “pais da escola e participantes da vida da cidade”, sentiram-se parte da comunidade.
“Isso tem sido uma grande alegria”, diz Brittany. “E também é muito bom para questões como segurança, porque todos ficam de olho em você.”
No entanto, Brittany e Blake, que encontraram trabalho remoto desde que se mudaram, admitem que se adaptar ao sistema educacional equatoriano tem sido tão difícil para eles quanto para os filhos.
“É interessante porque eles estão aprendendo história do Equador, não a história dos EUA. E nós não conseguimos ajudá-los com isso”, explica Brittany.
Eles também observam que “o futebol é uma grande paixão aqui”, e seus filhos “nunca haviam chutado uma bola na vida antes de se mudarem.”
“Então, nosso filho de 13 anos está em desvantagem, porque os colegas dele jogam desde que conseguiram andar”, acrescenta Brittany.
“Ele joga no time da cidade, mas nunca vai alcançar os colegas. É só para se divertir. Felizmente, as crianças aqui são muito legais.”
Os quatro filhos agora falam espanhol fluentemente, o que é motivo de grande orgulho para o casal.
“Consideramos o bilinguismo um grande presente que podemos dar aos nossos filhos”, diz Brittany. “E o biculturalismo, ser capaz de funcionar e apreciar outra maneira de viver, acreditamos que é muito importante.”
O casal recomenda que, quem estiver pensando em se mudar para um país como o Equador, conheça bem o lugar primeiro e evite ser rigido.
“Encontramos alguns expatriados meio rabugentos que não parecem amar nem apreciar o Equador ou os equatorianos”, diz Brittany. “Isso é um pouco desolador, e acaba dando uma má impressão sobre os estrangeiros.”
Refletindo sobre sua criação nos Estados Unidos, Brittany admite que agora vê as coisas com outros olhos depois de ter vivido a experiência de se mudar para um país estrangeiro.
“Eu realmente gostaria de ter me aproximado mais das crianças imigrantes na escola e das suas famílias”, diz ela.
“Porque agora estamos nos beneficiando de pessoas que se aproximaram de nós. E essa percepção de que eu poderia ter feito mais.”
Embora a família tenha se adaptado bem à vida no Equador, enfrentaram diversos desafios desde a mudança, incluindo inundações em sua cidade.
Segurança
Em 2024, o Equador entrou em estado de emergência nacional quando um dos maiores traficantes de drogas do país fugiu da prisão e um “conflito armado interno” eclodiu. Desde então, vários novos estados de emergência foram declarados, o mais recente renovado no início deste mês.
O Departamento de Estado dos EUA atualmente aconselha os cidadãos norte-americanos a “terem cautela redobrada no Equador devido a distúrbios civis, crimes e sequestros”, além de evitar viajar para cinco áreas do país, incluindo Guayaquil, “devido ao crime.”
Os Bowens dizem que estão monitorando a situação, e embora seja uma preocupação, isso ainda não os afetou.
“Estatisticamente falando, até esses últimos dois anos, o Equador tem sido um dos países mais seguros da América do Sul“, diz Blake. “Até nossa província, as estatísticas são sempre incrivelmente baixas.”
E completou: “É uma área muito segura. E então nos mudamos para cá, claro, e as coisas começaram a ficar mais tensas pós-pandemia.”
O casal afirma que as “dificuldades atuais” estão isoladas em “alguns pontos da costa”, e admite que, se não assistissem às notícias, provavelmente não saberiam que algo estava errado.
No entanto, Brittany e Blake estão cientes de que as coisas podem mudar a qualquer momento. “Na América do Sul, há sempre uma volatilidade”, diz Brittany. “Acho que isso faz parte da região… E você aceita isso…”
Ela continuou: “Então, não sabemos o que vai acontecer. Temos planos. Somos prudentes. Mas também não vivemos com medo…”
“Uma coisa que dizemos é que, nos Estados Unidos, nós procuraríamos saídas nos supermercados. Procuraríamos lugares para se esconder. O crime lá é aleatório, e isso nos assusta. Enquanto aqui, é uma frase meio cínica, mas há uma lógica por trás do crime.”
Embora não tenham planos de deixar o Equador, Brittany e Blake afirmam que continuarão observando a “estabilidade do país” e tomarão qualquer decisão se ou quando for necessário.
“Estamos aqui para apoiar o Equador também nos momentos difíceis”, diz Brittany. “Mas, se algum dia precisarmos sair por um tempo, com a intenção de voltar, iríamos para outro lugar da América Latina. Os EUA nem estariam no nosso radar.”
Depois de quase quatro anos como imigrantes, Brittany e Blake não conseguem mais se imaginar morando nos EUA novamente, explicando que não acham que conseguiriam manter um estilo de vida nem perto do que têm no Equador.
“Quero dizer, é caro”, diz Brittany, acrescentando que sua família vive confortavelmente no Equador com cerca de US$ 1.500 (R$ 8.648) por mês.
“E as pessoas lá estão bravas. Não gostamos da divisão. Como as pessoas não conseguem ser gentis umas com as outras. Isso é pouco atraente.”
O casal reconhece que seus filhos poderiam escolher voltar aos EUA para a faculdade no futuro, mas dizem que não é algo que eles precisarão decidir.
“Achamos que meio que dissemos ‘adeus’ a isso quando nos mudamos para cá”, diz Brittany. “Não queremos o ‘Sonho Americano’ para nossos filhos.”
“Isso não quer dizer que eles não busquem isso por conta própria, e apoiamos qualquer escolha que eles façam.”
“Mas escolhemos uma maneira de viver diferente e um futuro diferente para nossa família… E acreditamos que eles estarão super preparados para o que o futuro lhes reservar.”
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