domingo, maio 11, 2025
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‘Barroso choraminga pela hegemonia midiática perdida’

Em sua fala na abertura do encontro de presidentes dos tribunais constitucionais da América Latina, Luís Roberto Barroso repetiu a arenga oficial do regime brasileiro contra a liberdade de expressão nas redes sociais. Além das habituais menções à “desinformação” e ao “discurso de ódio”, o presidente do STF criticou as redes e seus algoritmos por terem acabado com o monopólio da mídia tradicional. Segundo ele, a velha imprensa tinha um papel “unificador” ao trabalhar com “fatos comuns, objetivos e compartilhados por todas as pessoas a partir dos quais cada um formava a sua opinião”. Já com as redes sociais, “cada um passou a criar a própria narrativa, e a verdade perdeu a importância”.

Barroso não parece refletir muito bem sobre o que está dizendo, e o discurso jorra-lhe da boca com o automatismo típico das palavras de ordem. Em primeiro lugar, fica difícil compreender a relação necessária entre unificação da informação e verdade, uma vez que — como provam os principais regimes totalitários do século 20 — é possível unificar o mercado de informação em prol da disseminação da mentira oficial.

Além disso, não é verdade que a velha imprensa operava com “fatos comuns” e “objetivos”, de modo que cada um podia formar opinião a partir deles. O que acontece é que a opinião culturalmente hegemônica já vinha embutida no processo de seleção, edição e apresentação das notícias. A bem da verdade, já há muito que a imprensa dita “profissional” abandonou noções como as de senso comum e objetividade. Na verdade, é justamente o contrário. É sintomático, por exemplo, que uma badalada professora universitária de jornalismo (de esquerda, obviamente) tenha chegado a descrever a profissão como a arte de “pensar contra os fatos” e “formar um novo senso comum”.

Do que Barroso sente falta

Como já ensinava Walter Lippmann nos anos 1920: “Um jornal, quando alcança o leitor, é resultado de toda uma gama de seleções de quais itens serão impressos, em que posição serão impressos, quanto espaço cada um deverá ocupar, e a ênfase a ser dada”.

Lippmann descreve aí o que podemos chamar de controle do fluxo de informação — também conhecido, nos estudos sobre mídia, como gatekeeping. Nas palavras do jornalista Ben Bagdikian: “O poder de controlar o fluxo de informação é uma peça majoritária no controle da sociedade. Dar aos cidadãos a oportunidade de escolher entre ideias e informações é tão importante quanto lhes dar a oportunidade de escolha política”.

Quando as versões da realidade difundidas pela grande imprensa estão todas de acordo umas com as outras — configurando um padrão artificial de unanimidade que Elisabeth Noelle-Neumann chamou de “versão consoante da realidade” —, a audiência passa a receber uma variedade limitada de informações para formar suas opiniões.

Quando, mediante um processo que Rolf Kuntz chamou de “autofagia jornalística” — o vício de só escrever nos jornais aquilo que se leu nos jornais —, os receptores passam a ser os próprios gatekeepers (ou mediadores), as organizações de mídia tornam-se ideologicamente homogêneas, selecionando as mesmas notícias e reduzindo enormemente, tanto para si quanto para a sociedade, a base factual para a formação de opinião. E é disso que, por interesse na manutenção do hegemon político-ideológico, Barroso sente falta.

Via Revista Oeste

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