O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, afirmou à CNN que os atos criminosos do dia 8 de janeiro de 2023 “eram evitáveis” desde o ano anterior.
“Em nenhum momento você poderia deixar esses criminosos se reunirem. E mais ainda: em frente a unidades militares, onde se deveria ter no dia 8 de janeiro uma operação robusta”.
Segundo ele, o movimento que culminou no ataque à sede dos Três Poderes começou durante o processo eleitoral. “Nós fizemos de maneira inédita mais de 30 prisões durante esse processo de campanha eleitoral, e no período entre a eleição e a posse. Coisa que jamais havia acontecido no país. Houve questionamentos do processo eleitoral, da integridade do Poder Judiciário, enfim do sistema de votação”, disse.
As declarações fazem parte de entrevista ao especial da CNN sobre os atos dia 8 de janeiro. A série de reportagens será exibida ao longo da próxima semana.
Para o diretor, a situação se agravou no dia 12 de dezembro, quando um indígena foi preso após ameaças de invasão a prédios públicos.
“Fui eu quem assinei o pedido de prisão de um cidadão que estava movimentando um grupo, em tese indígenas, invadindo aeroporto, shopping e aí tentaram invadir, agredir o presidente Lula no hotel que ele estava hospedado naquele período. Nós contivemos em seguida, fiz a solicitação de prisão e esse cidadão foi preso dia 12”.
Esse episódio, segundo ele, desencadeou uma onda de violência. “Isso foi aumentando e o acampamento foi crescendo em frente as unidades militares. O que, por si só, já era mais um alerta a todos. Chegamos então dia 24 de dezembro, quando um caminhão de combustível, um caminhão tanque de combustível para aviação, foi encontrado o próximo aeroporto [de Brasília] com uma caixa de dinamite. E a explosão foi tentada. Felizmente por falha não deu certo”.
Rodrigues disse que chegou a sugerir a retirada do acampamento em frente ao quartel-general do Exército. Mas as forças militares não teriam concordado.
“O movimento segue, os protestos aumentam, os acampamentos nos quartéis aumentam e nós acompanhando isso preocupados. Houve tentativa de desmobilizar o acampamento, o que foi impedido pelas próprias forças militares, e isso cada vez mais nos preocupando. Então chegamos ao dia 7 de janeiro, eu conversando com o Ministro [da Justiça] Flávio Dino externei a preocupação, porque a minha área de inteligência me abastecia com dados, informações”, contou.
De acordo com o diretor-geral, a situação se agravou no dia seguinte. “Ficou bastante claro que os manifestantes praticamente foram conduzidos até os prédios públicos; o caminho foi sendo aberto. […] o problema não era na Polícia Militar o problema era no comando, na estrutura que foi posta pra fazer esse enfrentamento”, reforçou.
O diretor falou que fez inúmeros alertas em reuniões e em documentos. “Eu dizia: eles não são manifestantes, eles são criminosos. Eles estão é pregando um golpe de Estado, eles estão pregando tomada de poder. Havia várias chamados que eram esse: ‘vamos tomar o poder’. E isso é crime no nosso país”.
Questionado sobre os responsáveis pelas falhas na segurança, o diretor-geral da PF foi categórico em apontar a cúpula da segurança pública do Distrito Federal.
“Naquele momento fui eu quem pediu a prisão do Secretário de Segurança Pública, do comandante-geral da PM, porque eles, na minha avaliação, validada pelo Ministério Público e chancelada pelo pela Suprema Corte, foram os grandes responsáveis na questão operacional naquele momento. Há outros responsáveis que as investigações estão trabalhando e apurando”.
Sobre o papel do Exército em todo o processo, Rodrigues afirmou que não se pode macular uma instituição por conta de atos isolados de algumas pessoas.
“O Exército Brasileiro tem centenas de milhares de profissionais e o que se viu de fato foi uma não adesão a essa transloucada tentativa. Mas enfim, pontualmente alguns personagens ali atuando, infelizmente integrantes de uma instituição respeitável e que merece toda a nossa consideração. É preciso fazer essa separação. Nós vamos ser rigorosíssimos com o soldado, com o general, com o médico, com o policial”.
Ainda de acordo com ele, a corporação tem sido rigorosa nas investigações relativas ao ataque às sedes dos Três Poderes. “Indiferente se o cidadão que cometeu os crimes é civil, é militar, é jornalista, é policial, é médico ou engenheiro; é general, é soldado, não nos importa. O que importa é o papel de cada um dos atores nesse cenário”.
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