Com cada vez mais diferenças em relação à novela original, o remake de “Renascer” (TV Globo) apresentará algumas tramas inéditas. Adaptada por Bruno Luperi, 35, neto do autor original, Benedito Ruy Barbosa, a história poderá ter um encontro de Zinha (Samantha Jones) e Joana (Alice Carvalho).
Em entrevista à CNN, o autor da adaptação revelou que nenhum final da novela está definido. Apesar disso, ele afirma que as personagens podem render frutos em algum momento.
“Não tenho escrito Joana com a Zinha, mas enquanto uma vive um momento de desilusão, por conta dos sonhos de Tião [Irandhir Santos], que não aceita o pouco que Deus lhe deu, a outra está descobrindo a sexualidade tardiamente, porque nunca se aceitou”, revela Bruno.
Pelo que eu já passei no texto, acho que as duas juntas dariam um resultado bonito, porque são duas grandes atrizes
Bruno Luperi
Em 1993, Zinha nem mesmo era mulher. Na versão original, o personagem era interpretado por Cosme dos Santos e terminou ao lado de Lurdinha (Íris Nascimento), funcionária da venda de Norberto (Nelson Xavier).
Ainda naquela época, Joana (Tereza Seiblitz) teve seu final ao lado de padre Lívio (Jackson Costa), que precisou largar a batina para ficar com a personagem após a morte de Tião Galinha (Osmar Prado).
Por mais que, no remake, Bruno Luperi tenha alterado a religião do personagem, que se tornou um pastor — algo que diminuiria os impedimentos do relacionamento com Joana —, para ele, suas criações na trama ganharam certa independência.
“A novela parte do texto, mas cada núcleo, como cenografia, figurino, direção, atuação, edição, tudo aquilo vai compondo outras camadas dos personagens”, justifica.
Luperi ainda rasga elogios para Samantha Jones que, em sua visão, conseguiu definir muito bem a relação de Zinha com João Pedro (Juan Paiva): a de amizade.
“O medo que a gente tinha com a Zinha, era do pessoal querer shippar ela com o João Pedro. Porque, no papel, eles são muito próximos, são um ‘casal feito’. Mas ela e o Juan [Paiva] conseguiram pisar em um espaço que o texto propunha, com muita propriedade, de que é uma amizade para além do gênero”, afirma. “Ela é a irmã que ele nunca teve, mesmo tendo três irmãos”.
Já quanto a pastor Lívio, papel de Breno da Matta, o autor fez com que ele ocupasse um novo lugar na trama. “Ele consegue esse espaço novo, de uma figura do ecumenismo, que se desigrejou e tem sua própria trajetória, mas que não tem necessariamente a questão que tinha do padre Lívio de uma ‘Paixão de Cristo’, um caminho que não era o nosso”.
Quando você coloca esses agentes todos, vão surgindo algumas coisas. Ainda está em aberto esse final da Zinha com a Joana. Os finais estão todos em aberto, porque eu ainda estou rumando para lá. Mas a ideia é que eu dê para os personagens aquilo que eu tiver de melhor pelo caminho
Bruno Luperi
O autor ainda afirmou que está curioso para ver como a história se desenrolará, já que o desempenho de Samantha Jones e Alice Carvalho em capturar a essência dos personagens permitiu que isso acontecesse no papel.
“Tudo vai compondo com a gente a novela, é um organismo muito vivo. Não sei dizer se elas vão terminar juntas, sei que vai ter um encontro ali. [Mas não sei] Se vai ser bonito, se vai se desenvolver para um final feliz, se vai ter um outro desencontro, está tudo bem…”, disse Luperi, relembrando o encontro entre Zinha e Lu (Eli Ferreira).
Sexualidade de Zinha no remake de “Renascer”
Enquanto estava descobrindo sua sexualidade, Zinha demonstrou interesse pela professora Lu, que não correspondeu, mas foi essencial para ajudar a personagem neste momento de autoentendimento.
“Como é bonito poder acompanhar o dilema de pessoas que passam por aquilo que elas [as personagens] estão passando, porque não estamos discutindo se ela é lésbica ou não, mas se ela vai ser feliz no final”, aponta Luperi.
“Tem uma certa modernidade no desenvolver dos arcos de todos os personagens. Está bem dentro do nosso tempo, com uma sexualidade e um gênero mais fluido, mais amplo, de uma compreensão de que está tudo bem. Mas, de repente, na cabeça daquela pessoa que está passando por aquilo, é difícil, é um trauma”, conclui o autor.