A Apple está prestes a iniciar, nesta segunda-feira (10), talvez seu evento mais importante em anos, enfrentando uma série de desafios.
Na sua conferência anual Worldwide Developers Conference que começa nesta segunda-feira (10) e será transmitido no site da Apple, a partir das 14h. Espera-se que a empresa anuncie uma parceria com a OpenAI, criadora do ChatGPT, e revele o primeiro lote de ferramentas de inteligência artificial (IA) generativa que chegarão ao seu sistema operacional móvel.
Um grande avanço na IA pode impulsionar o crescimento das vendas de iPhones e serviços por anos, à medida que os clientes estão demorando mais para atualizar seus dispositivos e um ambiente econômico incerto pesa sobre os consumidores, especialmente na China. A empresa também enfrenta escrutínio regulatório em Washington e foi ultrapassada esta semana pela fabricante de chips Nvidia como a segunda maior empresa pública dos EUA.
“Vemos a IA generativa como uma oportunidade chave em todos os nossos produtos e acreditamos que temos vantagens que nos diferenciam”, disse o CEO da Apple, Tim Cook, na última teleconferência de resultados da empresa no início de maio, adiantando que a empresa anunciaria novidades nas “próximas semanas”.
O momento também é notável: a Apple nem sempre é a primeira a adotar e integrar tecnologias emergentes — ela tipicamente pesquisa, desenvolve e busca aperfeiçoar novas tecnologias por anos antes de incluí-las em novos produtos — mas a velocidade com que o mundo está adotando a IA generativa talvez esteja acelerando a necessidade da empresa de ter um smartphone com a tecnologia mais avançada.
De acordo com Dan Ives, analista da Wedbush, a empresa se concentrar totalmente na IA “iniciará uma nova fronteira para a Apple”, que terá um impacto duradouro em seus produtos e serviços.
Aqui está uma visão mais detalhada do que esperar no grande evento da Apple:
IA, IA e mais IA
Espera-se que a Apple chame sua iniciativa de IA de “Apple Intelligence” e a faça ser apenas por adesão. Ela exigirá um iPhone 15 Pro ou um dispositivo com um chip M1 ou mais recente, conforme aponta com um novo relatório da Bloomberg.
Talvez a maneira mais óbvia de a Apple adotar a IA generativa — a forma de inteligência artificial que pode fornecer respostas ponderadas e detalhadas a perguntas — seja através da Siri, a assistente virtual da empresa com um histórico inconsistente. Uma integração com o modelo ChatGPT-4 da OpenAI poderia levar a Siri anos à frente, transformando o recurso em um chatbot do iPhone.
Isso poderia permitir que a Siri realizasse tarefas específicas, como lembrar de uma foto tirada anos atrás no dispositivo ou responder a perguntas detalhadas sobre o clima, notícias ou curiosidades. Com o tempo, poderia aprender as preferências e até a personalidade de uma pessoa, respondendo de acordo.
Observando como os concorrentes já introduziram ferramentas generativas, os recursos alimentados por IA para o iPhone também poderiam provavelmente ajudar os usuários a resumir e redigir e-mails ou chamar informações na tela do dispositivo com um gesto de dedo. Também se adaptaria automaticamente e de maneira contínua, com base em voz, áudio e linguagem natural, junto com imagens e sinais contextuais.
“A IA generativa permitirá que as próximas gerações de iPhones se tornem um sexto sentido, capacitando-nos a escanear e interagir com o mundo ao nosso redor”, disse Thomas Husson, analista da firma de pesquisa de mercado Forrester, à CNN.
Isso também pode significar mudanças para todo o ecossistema da Apple, incorporando IA em seus próprios aplicativos, como Apple Maps, iMovie e iPhoto. Alguns analistas esperam que a Apple lance ferramentas para desenvolvedores e criadores de aplicativos para criar novas experiências.
Reece Hayden, analista sênior da ABI Research, disse que espera que as demonstrações durante o evento destaquem pontos em que a IA no dispositivo traz valor adicional. Ele também acredita que a Apple gastará tempo delineando sua visão de longo prazo.
“A IA será cada vez mais fundamental para todo o foco estratégico da Apple, por isso destacará os esforços de P&D para o futuro, o investimento esperado e as aquisições que a empresa fez para apoiar sua proposta”, disse ele.
Uma parceria estratégica
Meses atrpás, a Apple estava supostamente discutindo oportunidades de parceria com a OpenAI e o Google para alimentar suas ferramentas de IA. Mas agora acredita-se que a empresa tenha firmado um acordo com a criadora do ChatGPT, segundo a Bloomberg. Essa parceria a Apple pode detalhar durante o discurso de abertura na segunda-feira.
“Se a OpenAI for responsável por alimentar as capacidades de IA da Apple, eu esperaria um anúncio formal de parceria, pois os consumidores e as empresas querem entender a regulamentação e as regras e o que estão assinando e como seus dados estão sendo utilizados”, disse Hayden.
Embora a parceria possa dar à empresa um impulso de inovação muito necessário, também pode prejudicar o controle da Apple sobre o desenvolvimento de produtos e sobre as regras e regulamentações sobre coleta de dados e privacidade, disse Hayden.
Alinhar-se a uma empresa e uma tecnologia que ainda não ganharam a confiança do público pode representar alguns riscos para a Apple no futuro. A OpenAI continua a enfrentar críticas sobre algumas de suas práticas. Esta semana, um grupo de funcionários atuais e antigos da OpenAI exigiu que as empresas de inteligência artificial sejam muito mais transparentes sobre os “riscos sérios” da IA — e que protejam os funcionários que expressam preocupações sobre a tecnologia que estão construindo.
O grupo pediu que as empresas de IA promovam “uma cultura de crítica aberta” que acolha, em vez de punir, as pessoas que se manifestam sobre suas preocupações, especialmente enquanto a regulamentação luta para acompanhar a tecnologia em rápida evolução.
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Foco na privacidade e segurança
A Apple tem se concentrado há muito tempo na privacidade e segurança do consumidor, e isso provavelmente também será refletido nos anúncios desta segunda-feira.
As empresas reconheceram os riscos sérios representados pela IA — desde manipulação e disseminação de desinformação até uma perda de controle que poderia resultar potencialmente na extinção humana. Muitos pesquisadores e trabalhadores da IA expressaram a necessidade de educar melhor o público sobre os riscos e as medidas de proteção.
A Apple precisará abordar como o uso desse tipo de tecnologia impactará os consumidores.
Atualização do Vision Pro
A Apple provavelmente fornecerá uma atualização sobre seu headset de realidade mista Vision Pro, que foi anunciado há um ano esta semana e lançado para compra em fevereiro.
Durante a teleconferência de resultados mais recente, o CEO Tim Cook disse que mais da metade das empresas da Fortune 100 já compraram um Apple Vision Pro. “[Estamos] explorando maneiras inovadoras de usá-lo para fazer coisas que não eram possíveis antes”, acrescentou.
A IA generativa poderia potencialmente levar o headset a outro nível de personalização e imersão e abrir novos casos de uso para empresas, especialmente nos espaços de educação e medicina.
Tuong Nygugen, diretor analista da firma de pesquisa de mercado Gartner, disse que qualquer empresa interessada em headsets “tem que estar pensando em [IA]” em todas as suas linhas de produtos.
“Ninguém realmente sabe o que é um vencedor ainda, então eles estão reunindo todos esses casos de uso agora, com foco em empresas, e fazendo um caso de por que isso é o futuro das experiências e dispositivos”, disse ele.
Atualizações também poderiam aumentar as vendas do caro Vision Pro, que começa em US$ 3.499 (cerca de R$ 18.500). A demanda pelo novo headset da Apple tem sido fraca, segundo relatos.
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