Existem muitos mistérios em torno do vento solar, um fluxo de partículas carregadas que o Sol libera a milhões de quilômetros por hora, afetando tudo em seu caminho pelo Sistema Solar.
Para desvendar suas origens, a Agência Espacial Europeia (ESA) desenvolveu a sonda Solar Orbiter, que utiliza o coronógrafo Metis, um instrumento italiano dedicado a investigar a coroa solar, a camada externa do astro de onde esses ventos sopram.
Usando esse instrumento, um grupo internacional de cientistas, coordenado por pesquisadores do Instituto Nacional de Astrofísica da Itália (Inaf), conseguiu observar a propagação dos movimentos turbulentos do vento solar das áreas mais internas da coroa do Sol para o espaço.
Turbulência do vento solar é comum, mas difícil de registrar
O Metis é um coronógrafo que bloqueia a luz intensa do disco solar, criando um eclipse artificial que permite a visualização da coroa, uma região tênue e extremamente quente. Com alta resolução temporal e espacial, ele capta detalhes minuciosos e mudanças rápidas.
Em 12 de outubro de 2022, o instrumento registrou imagens da turbulência na coroa solar enquanto a sonda estava a 43,4 milhões de km do Sol. Ao combinar essas imagens com dados em ultravioleta extremo de outro instrumento, cientistas criaram uma visão detalhada do comportamento do vento solar.
A turbulência observada na coroa não é um defeito, e sim uma característica fundamental do vento solar. Ela começa perto do Sol e persiste à medida que o vento se afasta, viajando pelo espaço interplanetário. As observações do Metis revelam a estrutura e o movimento desse material, confirmando teorias sobre mecanismos que influenciam sua liberação, aquecimento e trajetória. Esses processos nunca haviam sido vistos com tamanha clareza.
Compreender o comportamento do vento solar é crucial para a previsão do clima espacial, que pode interferir em satélites, sistemas de comunicação e redes de energia na Terra. O trabalho da missão Solar Orbiter, especialmente com o Metis, está ajudando a decifrar esses mistérios.
Futuramente, a espaçonave ajustará sua órbita para observar os polos solares pela primeira vez, o que promete trazer novas descobertas sobre o vento solar e suas interações. Os resultados dessas observações foram publicados quinta-feira (26) na revista The Astrophysical Journal Letters.