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Veja como americana conseguiu visto de nômade digital e se mudou para Itália

Um novo programa de vistos permite que trabalhadores remotos se mudem para a Itália. Embora a autorização para nômades digitais do governo italiano tenha sido lançado em abril de 2024, houve poucos relatos de pessoas que conseguiram o documento até agora. Para aqueles dispostos a investir tempo, esforço e quantias consideráveis ​​de dinheiro, as recompensas podem mudar a vida.

O programa de visto para nômades digitais da Itália foi anunciado pela primeira vez em 2022. Para muitos, era o sonho de poder tomar um cappuccino perfeitamente preparado e fazer uma pausa para o almoço na praia em uma tarde de trabalho duro.

Seis meses depois, no entanto, a Itália não foi invadida por estrangeiros e trabalhadores remotos. Muitas pessoas que querem aderir ao estilo de vida de nômades digitais dizem que há pouca informação sobre o visto – a ponto de começarem a duvidar que o documento exista.

Mas o visto é uma possibilidade real — e uma mulher da Califórnia, nos Estados Unidos, é a pessoa que pode provar isso. Chelsea Waite, uma profissional de relações públicas autônoma, mudou-se de São Francisco para Milão, em julho.

Na nova fase da vida, ela mora em um apartamento chique em uma das partes mais elegantes da cidade, trabalha remotamente para seu negócio na Califórnia e sai para conhecer todo mundo, desde os baristas nos cafés perto de seu apartamento até outros migrantes. Ela aprende italiano — mas descobriu que, em Milão, é possível criar raízes mesmo só falando inglês.

Essa é uma vida pela qual ela sempre se sentiu atraída, mas temia nunca conseguir, já que teve seu visto para a Itália negado no passado. Desta vez, com persistência e muita preparação, ela diz que vive seu sonho italiano.

“Eu deveria viver aqui”

Waite se apaixonou pela Itália em sua primeira visita, em 2017, quando fez uma viagem a Florença e à Toscana. Ao contrário de muitos estrangeiros que têm a ideia romântica de que podem simplesmente fazer as malas e se mudar para lá, Waite sabia que era tão difícil emigrar para Bel Paese quanto para aqueles que sonham em se mudar para sua terra natal, os Estados Unidos.

“Eu realmente me apaixonei por tudo que a Itália tinha a oferecer, mas sabendo que teria que encontrar patrocínio ou emprego, não parecia viável”, diz ela.

Além de tudo, ela tinha um emprego de período integral em São Francisco na época, mas então veio a pandemia. Em 2020, ela fez a transição para o trabalho remoto.

Dois anos depois, ela abriu sua própria empresa de Relações Públicas para trabalhar com startups de tecnologia. Naquela época, São Francisco era o melhor lugar para morar.

Então, em 2023, ela visitou Milão pela primeira vez. “Eu tinha um sentimento profundo de que era para eu viver aqui”, diz.

Ao retornar, ela entrou em contato com um advogado de imigração, mas eles tinham más notícias.

“Ouvi que, como eu era autônoma, os desafios seriam ainda maiores. Eu precisava encontrar uma empresa italiana para se tornar minha cliente e ter um contrato de colaboração dizendo que seria benéfico para os negócios dela se eu estivesse na Itália, mas não foi algo que consegui fazer.”

Waite esperou mais um pouco para conseguir fazer a mudança, mas, logo depois, o governo italiano liberou o visto para nômades digitais – após anos de especulação.


Chelsea Waite
Chelsea Waite está retratada na Toscana, Itália • Chelsea Waite via CNN Newsource

“Nada menos que um milagre”

“Eu fiquei tão empolgada”, diz Waite, que imediatamente começou a pesquisar profundamente como conseguir um visto.

Não só havia pouquíssima informação disponível, como também marcar uma consulta em um consulado italiano para solicitar o visto é notoriamente difícil.

Waite procurou todos os dias durante seis semanas, sem sucesso. Mas, no final de maio, a situação melhorou. “Olhei por acaso em um horário diferente do habitual e fui direcionada a um portal”, conta ela.

Embora o site avisasse sobre um tempo de espera mínimo de quatro meses, ela viu um horário disponível no consulado de São Francisco para dali a 10 dias.

Então, ela agendou — imaginando que seria mais uma consulta inicial para obter informações suficientes para reaplicar no futuro. Os detalhes sobre o visto e como obtê-lo eram extremamente escassos, e ela achou que a melhor maneira de descobrir exatamente o que precisava para a solicitação era tentar — correndo o risco de ser rejeitada.

“A falta de informações foi o que mais me atrapalhou”, conta. “Não há ninguém online compartilhando suas experiências, nada que mostre o que era necessário para receber o visto. Eu sabia que 10 dias era um prazo apertado — eu precisaria de um contrato de aluguel, seguro de saúde, declarações fiscais, contratos de clientes e a certificação do meu diploma.”

Por sorte, destino, ou quem sabe ambos, tudo acabou dando certo. O pai de Waite, que trabalha no ramo imobiliário, conectou-a com um corretor em Milão que aceitou fechar um contrato mesmo sabendo que talvez não pudesse usá-lo. Ela pagou um depósito equivalente a três meses de aluguel, confiando que conseguiria reaver o dinheiro caso o visto não fosse aprovado.

Além disso, contratou um seguro de saúde e certificou seu diploma — o processo levou apenas alguns dias, embora outras pessoas que ela conhecia tivessem levado meses.

Waite reuniu toda a documentação provando que trabalhava remotamente desde 2020 e incluiu seu contrato com o empregador anterior, além de todos os documentos atuais com clientes: “Não só para mostrar que eu tenho clientes ativos, mas também que sou consistente e confiável”.

Ela ainda anexou suas declarações de imposto de renda — o governo exige um rendimento mínimo de cerca de 27 mil dólares, mas ela tinha ouvido rumores de que, na prática, para obter o visto seria necessário provar uma renda três vezes maior.

Como é extremamente meticulosa, ela também incluiu certidões de antecedentes criminais do estado e do governo, além do currículo.

No total, levou um pacote de 120 páginas de documentos para sua consulta no dia 7 de junho deste ano.

“Disseram que me avisariam”, ela conta. “O tempo de processamento seria de sete a 14 dias. Mas 10 dias depois, eu já estava com o meu visto nas mãos. Foi quase um milagre, tudo se encaixou”.


Chelsea Waite
Chelsea Waite com sua melhor amiga de São Francisco visitando Milão neste verão • Courtesy Chelsea Waite via CNN Newsource

Mudança de vida em 48 horas

Era o desfecho que ela tanto sonhava, mas o caminho até o visto não foi nada fácil. No dia 17 de junho, ela recebeu o documento; no dia 19, já estava de partida para Londres, na Inglaterra, onde tinha uma viagem de um mês planejada.

A maioria das pessoas deixaria para resolver a mudança para a Itália depois de voltar de Londres, ou até cancelaria a viagem.

Não foi o caso de Waite — ela decidiu ir direto de Londres para Milão – em apenas 48 horas, mudou totalmente de vida. Ainda, ela organizou o transporte de seus dois cachorros resgatados para acompanhá-la.

Desde que recebeu o visto e embarcou para Londres, Waite não voltou mais a São Francisco. Em setembro, ela “oficialmente se mudou” de seu antigo apartamento, contratando um assistente e contando com amigos para embalarem suas coisas.

Ela também fez uma “faxina” entre a consulta e a confirmação do visto, numa tentativa de “pensar positivo”. As últimas malas com seus pertences foram enviadas pelos amigos e chegaram a Milão, em setembro.

Enquanto isso, Waite trocou seu apartamento de um quarto “absurdamente caro” em São Francisco por um de dois quartos em Milão — e está economizando US$ 1.500 (R$ 8504) por mês.

“Eu amo Milão”, diz ela. “Trabalho com tecnologia, e acho que é a cidade mais focada em negócios da Itália. Me vejo morando aqui por um bom tempo. Já conheci vários expatriados e estou começando a criar uma comunidade.”

Amigos de amigos (e amigos de amigos de amigos) têm sido de grande ajuda, segundo ela, que não tem medo de se expor: participa de workshops, aulas na academia e conversa com pessoas em café da região para fazer novas amizades.

Ela também começou a explorar a Itália e além, com várias viagens já feitas ao Lago de Como (a cerca de uma hora de Milão), Florença, Toscana e até voos para a Grécia.

O visto de nômade digital vale por um ano e pode ser renovado por uma autorização de residência. Após cinco anos, ela pode se qualificar para a residência permanente; e após 10, pode solicitar o passaporte italiano. Com o visto, paga 5% de imposto sobre sua renda à Itália e uma parte nos EUA.

“Até agora, minha experiência tem sido extremamente positiva. Fiz novos amigos, outros expatriados, e moro em um condomínio maravilhoso com vizinhos muito gentis”, conta ela. Se o entusiasmo se mantiver, ela pretende pedir a renovação.

Como conseguir um visto de nômade digital?

Por que parece tão raro conseguir o visto de nômade digital? Waite participa de vários grupos nas redes sociais de pessoas que estão aplicando, mas até agora não ouviu falar de outro caso bem-sucedido.

A CNN Travel perguntou ao ministério de relações exteriores da Itália quantos vistos foram emitidos até agora, mas ainda não obteve resposta. O consulado italiano em Londres emitiu 13 para residentes britânicos.

Embora esteja “muito grata” por conseguir o visto, ela acredita que há formas de candidatos se destacarem perante as autoridades.

Confirmar uma acomodação de longo prazo é crucial, ela afirma: “No começo pensei que poderia alugar um Airbnb por alguns meses e depois resolver algo mais definitivo, mas isso não seria suficiente.”

Os candidatos têm que apostar e fazer um depósito para obter um contrato assinado — mas devem garantir que o documento permita cancelamento antes da mudança, além de estar preparado para lutar pelo reembolso se não conseguirem o visto.

Ela também acredita que é importante mostrar um salário bem acima do valor oficial de 25.500 euros (R$ 156,4 mil). Como parte de sua documentação, ela provou que atingiu ou superou essa meta nos últimos três anos.

Por fim, recomenda certificar seu diploma e qualificações profissionais. “É um requisito enorme para afirmar sua posição profissional e expertise”, diz Waite — cujo diploma é em relações públicas, a mesma área em que atua. Estar superpreparado dá melhores chances de sucesso, ela diz.

Como se pode ver, esse processo não é para os fracos de coração. Também não é para quem está sem grana — só o pedido do visto custou 124 dólares (R$ 702), e ela estima que gastou entre 5.000 e 10.000 dólares (R$ 28,3 mil e R$ 56,6 mil) no total, incluindo certificações de documentos, verificação de antecedentes e o depósito do apartamento.

Mas se não der certo na primeira tentativa, sempre é possível tentar de novo, garante Waite — com o aprendizado de onde errou da última vez.

Enquanto isso, Waite trabalha com um guia eletrônico para ajudar futuros nômades digitais que, assim como ela, ficaram perdidos com a falta de clareza sobre o visto.

Apesar das dificuldades, Waite afirma que tudo valeu a pena. “Houve altos e baixos intensos, e foi muito emocional”, diz sobre o processo de aplicação. “Mas o importante é manter o pensamento positivo.”

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Via CNN

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