A partir desta segunda-feira, 4, o Ministério da Saúde inicia a substituição das doses de reforço da vacina oral poliomielite bivalente pela versão injetável, a vacina inativada da poliomielite.
Com essa mudança, todo o esquema de vacinação contra a poliomielite será realizado exclusivamente com a vacina injetável. No modelo atual, as crianças recebem inicialmente três doses da vacina inativada aos 2, 4 e 6 meses, seguidas por duas doses de reforço da vacina oral aos 15 meses e aos 4 anos.
Agora, o novo cronograma inclui uma dose aos 2 meses, outra aos 4 meses, mais uma aos 6 meses, e um reforço final aos 15 meses.
O Ministério da Saúde destaca que o personagem Zé Gotinha continuará a ser utilizado nas campanhas de vacinação. A decisão de substituir a vacina oral faz parte de uma tendência global, amplamente discutida na Reunião da Câmara Técnica Assessora em Imunizações (CTAI).
“O personagem entrou em campo também para alertar sobre a prevenção de outras doenças imunopreveníveis, como o sarampo”, afirmou a pasta, em um comunicado divulgado em setembro. “Portanto, ele continua trabalhando em prol da imunização.”
A VOP, ou gotinha, é uma vacina feita com o vírus enfraquecido e é administrada via oral. Já a vacina VIP contém o vírus inativado (morto), administrada via intramuscular.
Brasil está livre da poliomielite há 34 anos
Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), explicou ao portal g1 que a vacina oral teve um papel crucial na imunização no Brasil, que está livre da poliomielite há 34 anos. Hoje, o vírus selvagem da poliomielite só é encontrado no Afeganistão e no Paquistão.
Mesmo que raramente, o vírus vacinal pode sofrer mutações e se tornar virulento, causando paralisia em não vacinados.
Ao canal CNN, Alfredo Gilio, Coordenador da Clínica de Imunização do Hospital Israelita Albert Einstein, explicou as possíveis implicações da mudança.
“Quando eu substituo a vacina oral, eu estou tirando [do esquema] uma vacina de vírus vivo”, disse. “Esse tipo de vacina apresenta algumas restrições, principalmente para crianças com alterações na imunidade, que podem ter problemas quando tomam vacinas de vírus vivo.”
Segundo o especialista, trocar a gotinha pela vacina injetável beneficiará pessoas com imunidade baixa e reduzirá o risco de contaminação por uma “variante vacinal” do vírus.
“Quando usamos a vacina oral de vírus vivo, ele é excretado nas fezes. Em um país como o Brasil, com baixa taxa de saneamento, esse vírus pode ser esparramado na comunidade”, acrescentou. “O vírus vivo no meio ambiente gera o risco de se transformar e formar o poliovírus derivado vacinal, que pode ser patogênico. Existe até um descritivo disso em outros países. Mas, no Brasil, ainda é um risco teórico.”