A Universidade de São Paulo (USP) explicou à Justiça os motivos de ter negado a vaga ao candidato Alison dos Santos Rodrigues, aprovado em medicina por meio da cota para pretos, pardos e indígenas. Ele acabou barrado pela instituição de ensino em 26 de fevereiro.
Segundo a universidade, os motivos foram estes: “boca e lábios finos”. Além disso, a USP alega que Rodrigues tem pele clara e “se apresentou com o cabelo raspado” — o que impediu a bancada de identificá-lo adequadamente.
A USP também afirma que o candidato “foi submetido a procedimento bastante criterioso” para a avaliação, com múltiplas conferências e bancas diferentes.
Os critérios definidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF) sobre os aspectos de pretos e pardos a serem considerados nos processos seletivos são:
- Textura do cabelo (crespo ou enrolado);
- Nariz largo;
- Cor da pele (parda ou preta); e
- Lábios grossos e amarronzados.
Mais de 200 candidatos recorreram contra a decisão da USP de negar autodeclaração racial em 2024
Ao longo deste ano, a USP tem tido alguns problemas com candidatos que se autodeclaram pretos, pardos ou indígenas. De janeiro a março, a instituição registrou um total de 204 apelações de candidatos cujas declarações raciais foram recusadas.
Glauco Dalalio do Livramento, um dos postulantes rejeitados, entrou com uma ação judicial contra a universidade depois de perder a vaga. A defesa dele disse que o procedimento de averiguação feito pela USP foi inconstitucional.
Como funciona a política de cotas da USP
A política de cotas da USP aloca 50% de suas vagas de graduação para estudantes da rede pública. Dessas, 37% são especificamente para candidatos pretos, pardos e indígenas.
Em nota, a instituição defendeu seu modelo de cotas. “O desenho da política tem revelado a sua eficácia, respondido às metas e mostrado que os critérios acordados não se confundem com um tribunal racial, mas com a efetividade de uma política pública fundamental para o Brasil”, argumentou.