O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes retirou, neste domingo (24), o sigilo da decisão que autorizou a prisão de três suspeitos pelos assassinatos de Marielle Franco e Anderson Gomes.
O documento de 41 páginas narra como se deu o crime, quais as contribuições das colaborações premiadas e quais as provas obtidas pela Polícia Federal (PF).
Foram presos:
- o deputado federal Chiquinho Brazão (União-RJ),
- o conselheiro do Tribunal de Contas da União do Rio de Janeiro (TCU-RJ) Domingos Brazão
- e o delegado Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro.
Os novos elementos que culminaram nas prisões surgiram, principalmente, da delação do ex-sargento da Polícia Militar do Rio de Janeiro (PM-RJ) Ronnie Lessa — que foi contratado por intermédio de Edmilson da Silva de Oliveira, conhecido como “Macalé”, para executar o homicídio. Macalé foi executado em 2021 no Rio.
Moraes baseia sua decisão no relatório da Polícia Federal (PF) sobre o assassinato. O documento da investigação aponta que o assassinato teria sido motivado por uma série de dissidências entre a atuação da parlamentar e os supostos mandantes.
Dentre essas razões, destaca-se a ligação da milícia na disputa por terras no Rio de Janeiro.
Confira alguns dos elementos usados por Moraes para basear a decisão deste domingo (24):
O documento cita que a origem do planejamento da execução de Marielle e Anderson teria acontecido no segundo semestre de 2017, meses antes do assassinato de ambos, em março de 2018, segundo a delação de Lessa.
O trecho também cita “a descontrolada reação de Chiquinho Brazão à atuação de Marielle na apertada votação” de um projeto de lei que tratava sobre questões fundiárias na capital fluminense.
O documento cita, na sequência, diversos indícios do envolvimento dos irmãos Brazão, em especial de Domingos, com atividades criminosas. “Incluindo-se nesse diapasão as relacionadas com milícias e ‘grilagem’ de terras, e, por fim, ficou delineada a divergência no campo político sobre questões de regularização fundiária e defesa do direito à moradia.”
A recompensa prometida a Lessa pelo assassinato da vereadora teria sido a concessão de “terrenos em novas áreas a serem loteadas pelos irmãos Brazão”.
Outro trecho do documento explica que a contratação do ex-sargento da PM-RJ não foi um caso isolado. Segundo o relatório, foi confirmada a “parceria entre Ronnie Lessa e Edmilson Macalé na prática de homicídios, mediante pagamento, no município do Rio de Janeiro”.
Para obter informações internas, segundo relatório da PF, os irmãos Brazão infiltraram Laerte Silva de Lima no PSOL, partido ao qual Marielle era filiada.
Tal movimento resultou na “indicação de que Marielle pediu para a população não aderir a novos loteamentos situados em áreas de milícia”, diz trecho da investigação.
O PSOL disse que Lima foi expulso do partido em 2020. A CNN tenta localizar a defesa do suspeito.
Segundo o depoimento de Lessa à PF, Rivaldo Barbosa, então chefe da delegacia de homicídios, exigiu que a execução não fosse feita no trajeto da Câmara do Rio para evitar “conotação política”.
“Ronnie pontuou que Rivaldo exigiu que [Marielle] não fosse executada em trajeto de deslocamento de ou para a Câmara Municipal do Rio de Janeiro, pois tal fato destacaria a conotação política do homicídio, levando pressão às forças policiais para uma resposta eficiente”, pontuou o relatório.
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