Nadadores que vão participar das Olimpíadas de Paris (26/07 a 11/08) estão apostando nos mais recentes avanços em trajes de natação como arma secreta na piscina. Um esporte como esse, em que as vitórias podem ser decididas por uma fração de segundo, a tecnologia de ponta pode fazer toda a diferença.
Inspirada pela tecnologia desenvolvida para viagens espaciais, a Speedo lançou uma nova versão do seu traje Fastskin LZR Racer, anunciado como o mais repelente à água já produzido pela marca.
Grandes nomes da natação adotam traje de tecnologia espacial
Prometendo uma sensação de “ausência de gravidade”, a vestimenta foi adotada por nadadores de elite como Emma McKeon, da Austrália, Caeleb Dressel, dos EUA, e Adam Peaty, do Reino Unido, com a esperança de otimizar cada centésimo de segundo de seus tempos na água.
“Para mim, é como usar meu próprio foguete Speedo”, comentou Dressel, especialista em estilo livre e borboleta, que conquistou cinco medalhas de ouro na versão anterior deste traje nas Olimpíadas de Tóquio, à agência de notícias AFP. “Estou confiante de que este novo traje vai me proporcionar uma vantagem adicional”.
McKeon, por sua vez, vencedora de sete medalhas, incluindo quatro de ouro em Tóquio 2021, descreveu seu novo traje como “mais rápido do que nunca”, proporcionando uma sensação de “deslizar pela água”.
Essas roupas utilizam tecnologia de revestimento originalmente desenvolvida para proteger satélites, representando o mais recente avanço em uma longa disputa por supremacia que envolve marcas como Arena, Mizuno e Jaked, todas buscando ampliar os limites do desempenho humano na natação.
Kevin Netto, especialista em ciência do exercício da Escola de Saúde Aliada da Universidade Curtin, na Austrália, destaca que o maior obstáculo na natação é o arrasto, que representa a maior resistência à velocidade na água. “Qualquer avanço que consiga reduzir o arrasto é extremamente valioso”.
Ao longo dos anos, os materiais utilizados nos maiôs evoluíram significativamente, desde flanela e rayon até materiais modernos como lycra e nylon. A World Aquatics, em resposta ao controverso traje de corpo inteiro da Speedo usado nas Olimpíadas de Pequim em 2008, introduziu regulamentos que exigem que os trajes sejam feitos de materiais permeáveis.
Esse traje, sem costura e parcialmente feito de poliuretano, foi projetado com assistência da NASA para melhorar a flutuabilidade, apoiar os músculos e reduzir significativamente o arrasto, facilitando assim a natação mais rápida e eficiente. A vestimenta contribuiu para uma série de recordes mundiais durante os Jogos de Pequim.
Desde então, novos modelos avançados surgiram, como os trajes de poliuretano da Arena e o Jaked 01, que também viram uma onda de recordes no campeonato mundial de 2009. Após críticas crescentes sobre vantagens injustas, a World Aquatics, então conhecida como FINA, proibiu trajes baseados em polímeros a partir de 2010. Atualmente, apenas as roupas que cobrem do joelho ao ombro para as mulheres e da rótula ao umbigo para os homens são permitidas.
A redução do arrasto continua sendo crucial para os trajes modernos, que comprimem o corpo para melhorar a hidrodinâmica. “Ao fornecer compressão, esses trajes eliminam oscilações desnecessárias na água”, explica Netto. “Isso mantém a forma do corpo simplificada, reduzindo o arrasto e a oscilação da onda”.
Apesar dos avanços tecnológicos, a verdadeira influência desses trajes no desempenho permanece incerta. Um estudo de 2019 realizado pela Universidade Europeia de Madri, na Espanha, analisou 43 pesquisas sobre o assunto, concluindo que não havia consenso claro sobre os benefícios desses trajes. “Existem controvérsias, pois alguns acreditam firmemente que esses maiôs proporcionam melhorias significativas no desempenho”, dizia o artigo. “No entanto, a falta de evidências conclusivas ainda coloca em questão o consenso entre os pesquisadores”.
Além dos trajes, os óculos de natação avançados também têm evoluído, oferecendo feedback em tempo real durante o treinamento, rastreando uma variedade de métricas diretamente dentro dos óculos. No entanto, esses óculos não são permitidos nas Olimpíadas, onde as regras buscam manter a competição o mais equilibrada possível entre os atletas.