Os Estados Unidos alegaram, no começo de 2024, que a Rússia estaria desenvolvendo uma arma antissatélite (e possivelmente nuclear). O presidente russo Vladimir Putin negou. Mas aí o país vetou a proposta de reforçar o tratado que proíbe o uso de armas nucleares no espaço. E lançou um satélite militar. Com a escalada da tensão, voltou o medo de uma guerra nuclear nas estrelas.
O uso de armas nucleares no espaço, a depender das condições, afetaria tanto aliados quanto inimigos. Isso torna o custo político e estratégico de puxar o gatilho neste tipo de arma elevado. E desincentiva ações indiscriminadas. Pelo menos, em tese.
A escalada da tensão entre EUA e Rússia – no quesito “uso de armas nucleares no espaço” – foi, resumidamente, assim:
- Em fevereiro, Michael Turner, presidente da Comissão de Inteligência da Câmara dos Representantes dos EUA, alertou sobre uma “séria ameaça à segurança nacional” relacionada ao desenvolvimento de uma arma antissatélite pela Rússia, possivelmente com capacidade nuclear;
- Ainda em fevereiro, Putin negou as alegações, declarou-se contra o uso de armas nucleares no espaço e pediu a ratificação dos tratados de proibição existentes;
- Em abril, a Rússia vetou uma proposta de Japão e EUA no Conselho de Segurança da ONU para reforçar a validade do tratado de proibição de armas nucleares no espaço;
- Em maio, a Rússia lançou o satélite militar Kosmos 2576, cuja órbita sugere ser um protótipo de dispositivo antissatélite, embora sem carga nuclear.
Armas nucleares no espaço
Uma detonação nuclear a 200 km de altitude causaria destruição em massa aos satélites, comprometendo serviços civis e militares, como comunicações, GPS e internet, além de afetar severamente operações financeiras. É o que projeta uma reportagem do El País.
A explosão geraria auroras artificiais intensas para quem estivesse na zona noturna, enquanto na zona próxima ao epicentro, o clarão e os raios X causariam danos devastadores. Daí os danos causados tanto em aliados quanto inimigos – seja em solo ou no espaço – citados no começo desta matéria.
Como alternativa, sugere-se o desenvolvimento de satélites capazes de emitir pulsos eletromagnéticos controlados. Esses pulsos desativariam satélites inimigos de forma localizada e sem necessidade de explosões nucleares.
No entanto, um satélite com pulsos eletromagnéticos exigiria um reator nuclear para alimentar a tecnologia. E o Kosmos 2576 pode estar associado a tais experimentos. Mas não há evidências de que há material nuclear a bordo.
Além disso, Rússia, China e EUA já operam satélites “inspetores” e naves robóticas que realizam aproximações controladas e missões de longa duração – provavelmente testando novas capacidades. A ver quem vai puxar o gatilho primeiro.