Se nada relevante for feito, nos próximos anos toda a internet pode ficar inacessível durante meses por causa de uma supertempestade solar. A consequência pode ser desastres econômicos e sociais de enormes proporções. Essa é a previsão de Peter Becker, pesquisador da Universidade George Mason, nos EUA. Ele estuda fenômenos da astronomia em parceria com a Marinha norte-americana.
“A internet surgiu em um período em que o Sol estava relativamente quieto. Mas agora ele está ficando mais ativo”, disse Becker em entrevista ao canal Fox.
“É a primeira vez na história humana que teremos uma intersecção entre o aumento da atividade solar com nossa dependência da internet.” (Peter Becker)
Tempestades solares não são fenômenos raros. Porém, geralmente não costumam causar grandes perturbações na Terra. Quando os ventos solares, compostos de partículas de elétrons e prótons, atingem o planeta, somo protegidos pelo campo magnético terrestre. É por causa disso que existe o fenômeno da aurora polar.
Porém, desta vez o Sol está entrando no seu máximo solar, que é quando a estrela entra no seu período de maior atividade dentro de um ciclo de 11 anos. Quando isso acontece, grandes erupções de gás na atmosfera do Sol liberam partículas ionizadas por todo o espaço.
Distorce o campo magnético
Se uma carga mais intensa atinge a Terra, ela consegue distorcer o campo magnético e liberar energia elétrica em direção ao solo, causando sérios distúrbios à rede de eletricidade. Na prática, isso pode fritar até eletrônicos que tenham o terceiro pino para aterramento. “Esse terceiro pino, que normalmente libera a carga elétrica excessiva de maneira segura, pode se tornar um grande circuito elétrico”, diz o cientista.
Para piorar, o monitoramento feito pela Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos EUA (NOAA, na sigla em inglês) mostra que o máximo solar do ciclo atual — que começou em 2019 e vai até 2030 — será mais intenso do que os anteriores. Além disso, o pico solar atual acontecerá um ano antes do previsto, a partir de janeiro de 2024.
Updated prediction for Solar Cycle 25! NOAA predicts solar activity will increase more quickly & peak at a higher level than previously predicted. Solar Cycle 25 to peak between Jan to Oct 2024. Learn more: pic.twitter.com/ucY2weIERV
— NOAA Space Weather (@NWSSWPC) October 26, 2023
Casos anteriores
A tempestade solar mais grave já registrada aconteceu em 1859 e afetou seriamente a rede de telégrafos da época.
“Ele praticamente destruiu o sistema telegráfico, com faíscas literalmente voando das linhas de telégrafo”, disse Becker. “Alguns funcionários foram eletrocutados, porque as linhas carregavam alta voltagem, o que nunca deveria acontecer. Mas as variações no campo magnético ficaram tão fortes que ela se tornou um sistema de gerador e conduziu essas correntes pelos fios do telégrafo.”
Outra consequência da tempestade solar de 1859, também chamado de Evento de Carrington, foi o aparecimento de auroras boreais e austrais em locais distantes dos polos da Terra, como México, Cuba e Colômbia.
Desde então, o fenômeno espacial aconteceu outras vezes em menor intensidade. Em maio de 1921, uma tempestade solar incendiou redes de telefonia e telégrafos em todo o mundo, em especial em Nova York. No mês de março de 1989, o estado de Quebec, no Canadá, ficou sem luz durante nove horas por causa do fenômeno.
Posteriormente, em julho de 2012, uma tempestade solar comparável ao de 1859 quase atingiu a Terra, errando o alvo por uma diferença de nove dias. Se fossemos atingidos em cheio, as consequências seriam catastróficas, com prejuízos estimados em US$ 2 trilhões só nos EUA.
Mais recentemente, em 2022, tempestades solares de baixa intensidade danificaram 49 satélites da empresa Starlink, que reentraram na atmosfera terrestre e foram destruídos.
Como evitar o Apocalipse da Internet?
Segundo Becker, prever uma tempestade solar é tão difícil quanto prever um terremoto. Os raios solares chegam à Terra em cerca de oito minutos, o que dá menos de 24 horas para se preparar para uma possível perturbação no nosso campo magnético.
“Se tivermos um aviso, cada minuto conta, pois é possível colocar os satélites em modo de segurança”, diz. “É possível desligar os transformadores da rede para que eles não queimem. Portanto, há coisas que podem ser feitas para mitigar o problema.”
Becker atualmente trabalha em um projeto em parceria com o Laboratório de Pesquisa da Marinha dos EUA que usa mineração de dados, análises e modelos científicos para entender como o aumento da atividade solar pode afetar a vida na Terra.