O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, afirmou em entrevista ao Oeste Negócios desta segunda-feira, 10, que investidores estrangeiros perderam confiança no Brasil por causa da condução da política econômica do governo federal.
Para ele, a insegurança jurídica, o aumento de gastos públicos e a falta de previsibilidade nas decisões afasta aportes financeiros e leva empresas a segurarem investimentos. “O que a gente vê é um investidor muito reticente com o Brasil”, disse, ao mencionar sua recente viagem a Nova York, onde ouviu preocupações sobre o ambiente de negócios no país.
De frente com o jornalista Adalberto Piotto, Tarcísio destacou que o Brasil vinha de um ciclo positivo de reformas estruturais desde 2016, com medidas como a reforma trabalhista, a autonomia do Banco Central e o novo marco do saneamento. No entanto, segundo ele, essa trajetória foi interrompida.
“O investidor está vendo um país que perdeu a transparência na questão das contas e que está gastando demais”, avalia o governador. “O investidor pergunta, qual é o rumo do Brasil? Porque a partir do momento que você gasta demais, o investidor fica com medo e o capital sai.”
Ele também criticou a postura do governo federal em relação à privatização e ao setor produtivo. “Quando se começa a discutir rever a privatização da Eletrobras e voltar atrás no marco do saneamento, as mensagens são muito ruins”, afirmou.
Para ele, o país vive um cenário de endividamento acelerado que gera desconfiança no mercado. “Em outubro de 2022, o Brasil se endividava a uma taxa de R$ 710 milhões por dia”, recorda. “Agora, essa taxa ultrapassa R$ 3 bilhões diários.”
São Paulo como porto seguro para investimentos
Diante desse cenário, Tarcísio disse que seu governo se esforça para transformar São Paulo em um ambiente mais favorável para investidores, ao reduzir burocracias e garantir segurança jurídica. “Aqui em São Paulo, a gente está fazendo um exercício para ir na contramão e mostrar para o investidor que existe um porto seguro”, afirmou.
Ele mencionou medidas como a digitalização de processos para abertura de empresas, que reduziu o tempo necessário para obtenção de licenças e alvarás. “O Estado de São Paulo era um dos mais burocráticos do Brasil, estávamos na 26ª posição nesse quesito”, disse. “Agora somos o primeiro, com mais de 900 atividades dispensadas de alvarás e licenciamentos.”
Além disso, Tarcísio ressaltou que seu governo tem fortalecido a segurança jurídica em contratos através de mecanismos para mitigar riscos de câmbio, demanda e geotécnicos em concessões e parcerias público-privadas. Ele destacou que essa abordagem já trouxe resultados concretos, como leilões bem-sucedidos e maior interesse de investidores em projetos de infraestrutura.
Tarcísio avalia governo Lula como “insustentável”
Tarcísio também comentou sobre o cenário político nacional e as perspectivas para as eleições presidenciais de 2026. Segundo ele, há um “anseio” no Congresso e entre investidores por uma mudança de governo, e ele acredita que a direita tem grandes chances de retornar ao poder.
Ele comparou a situação do Brasil com a da Argentina e elogiou as medidas do presidente Javier Milei. “O que o Milei está fazendo é extraordinário”, elogiou. “Ele pegou um pacote que começou no governo Macri, aperfeiçoou, soube comunicar e está implementando medidas duras, mas que estão sendo bem recebidas.”
Para Tarcísio, a direita brasileira já tem um plano estruturado para governar e “dará uma resposta muito rápida” se vencer as eleições. “O cenário é que realmente um bloco de direita deve voltar ao poder, porque é insustentável a situação que nós temos”, declarou.
Segurança pública e combate ao crime organizado
Outro tema abordado pelo governador foi a segurança pública, área que ele considera crucial para a retomada econômica e a atração de investimentos. Ele destacou a redução histórica nos índices de homicídios em São Paulo e atribuiu esse resultado a um trabalho integrado de inteligência e policiamento ostensivo.
Tarcísio disse que seu governo tem investido na ampliação do efetivo policial, com a contratação de 9 mil novos agentes em 2023, além de reforçar a presença policial em áreas críticas como o centro da capital e a Baixada Santista.
Ele também anunciou um grande investimento em tecnologia, como a expansão do programa de câmeras corporais para policiais e o uso de inteligência artificial para monitoramento de ruas e identificação de suspeitos. “Hoje, São Paulo tem um índice de homicídios menor que o dos Estados Unidos”, afirmou.
Tarcísio contra a cracolândia
O governador também falou sobre o combate à cracolândia e afirmou que a cena aberta de uso de drogas na capital paulista está em processo de extinção. “Tínhamos uma média de 1,7 mil pessoas na cracolândia, hoje temos 140, 150 no máximo”, disse. Segundo ele, o trabalho envolve ações simultâneas de segurança, assistência social e moradia.
Ele revelou que o governo planeja um grande projeto de revitalização do centro da cidade, com um investimento de R$ 4,7 bilhões para a construção de um novo centro administrativo estadual. “A Cracolândia vai desaparecer, e em seu lugar teremos um polo de inovação tecnológica, start-ups e novas oportunidades econômicas”, garantiu.
Educação e formação técnica
Na educação, Tarcísio destacou o investimento em escolas cívico-militares, ensino técnico e intercâmbios internacionais, que enviam estudantes da rede pública para estudar no Reino Unido, Austrália, Nova Zelândia e Canadá. “O aluno da escola pública de São Paulo terá a oportunidade de estudar no exterior, algo impensável no passado”, comemorou.
Ele também reforçou a importância do ensino técnico. Tarcísio afirmou que até 2025, 30% dos alunos do ensino médio paulista estarão matriculados em cursos profissionalizantes, número que supera países como França e Alemanha.
“Estamos preparando os jovens para as demandas reais do mercado, alinhando a educação às necessidades da economia”, explicou o governador, que anunciou que São Paulo ampliou a carga horária de português e matemática em 60% e 70%, respectivamente.
Infraestrutura e privatizações
Tarcísio celebrou o sucesso da privatização da Sabesp e destacou que a medida garantirá a universalização do saneamento básico no Estado. Ele garantiu que o modelo adotado traz mecanismos para evitar problemas enfrentados em outros países e assegurar que os investimentos necessários sejam realizados.
“O investidor que entrou na Sabesp é sério, tem acesso ao mercado de capitais, e vamos investir R$ 68 bilhões até 2029”, detalhou. A investidora de referência no processo de privatização da companhia é a Equatorial Energia, que desembolsou R$ 6,9 bilhões pela participação de 15% na empresa.
O governador também anunciou novos projetos de infraestrutura, como a expansão da malha metroviária de São Paulo e melhorias na logística do Estado. Ele afirmou que São Paulo atrai investimentos estrangeiros e que os leilões de concessões têm sido bem-sucedidos graças a um ambiente regulatório mais seguro e previsível.