De “Guernica”, Picasso até os “Desastres da Guerra”, de Goya, a arte já retratou conflitos de formas marcantes. Uma das representações mais antigas e impressionantes é o famoso Tapeçaria de Bayeux, da França, do século XI.
Com mais de 70 metros de comprimento por 70 centímetros de altura, essa obra-prima bordada narra a conquista da Inglaterra em 1066 — a última vez que o país foi invadido com sucesso por uma força estrangeira — sob o comando de Guilherme, Duque da Normandia, mais tarde conhecido como Guilherme, o Conquistador.
Os artistas responsáveis pela tapeçaria se perderam na história, mas acredita-se que ela tenha sido encomendada por Odo, bispo de Bayeux e meio-irmão de Guilherme, para decorar a nave da catedral de Notre-Dame de Bayeux, consagrada em 1077.
Desde 1983, a tapeçaria está em exibição no Grand Séminaire de Bayeux, no noroeste da França, como parte do complexo de museus da cidade, que também abriga o Memorial da Batalha da Normandia e o Museu de Arte e História Baron Gérard.
No entanto, quem deseja ver esse icônico exemplo de arte propagandística precisa se apressar: o museu fechará às 19h (horário local) do dia 31 de agosto de 2025 para uma grande reforma e restauração, com reabertura prevista para outubro de 2027.
A nova inauguração coincidirá com os mil anos do nascimento de Guilherme, o Conquistador.
Maior e melhor
O projeto, liderado pelo estúdio britânico de arquitetura RSHP, incluirá uma nova ala no Grand Séminaire, dobrando o espaço de exibição da tapeçaria.
Com um orçamento de 38 milhões de euros (R$ 226,5 mil), a renovação está sendo conduzida pela Cidade de Bayeux, em parceria com o Estado francês — proprietário da tapeçaria —, além do Conselho Departamental de Calvados e o Conselho Regional da Normandia.
“Em termos de impacto econômico e cultural, este é o projeto mais complexo e ambicioso já realizado pela cidade de Bayeux”, declarou o prefeito Patrick Gomont em comunicado à imprensa.
Assim como antes, a tapeçaria será mantida em uma sala hermeticamente selada para protegê-la de variações de luz, clima e poluição do ar. Mas agora ela será exibida em um suporte inclinado, desenvolvido especialmente para garantir a preservação desse tecido delicado, que já soma quase mil anos de existência.
Em 2024, quase 600 mil visitantes passaram pelos museus de Bayeux, com a maioria dos turistas internacionais vindos do Reino Unido e dos Estados Unidos.
Na época de sua criação, no século XI, a tapeçaria foi uma forma de contar histórias para um público majoritariamente analfabeto, combinando imagens e inscrições textuais.
A cena mais famosa retrata o rei anglo-saxão Haroldo, último rei da Inglaterra antes da conquista normanda, sendo atingido por uma flecha no olho durante a Batalha de Hastings.
Outro momento marcante é a representação do cometa Halley — seis séculos antes de o astrônomo inglês Edmond Halley dar nome ao fenômeno.
Trabalho delicado
Preservar essa relíquia milenar exige muito mais do que simplesmente lavá-la na temperatura certa.
“Nos períodos em que o museu fecha ao público, a estrutura de exibição pode ser deslocada dentro do próprio prédio, transformando-se em um verdadeiro laboratório”, explicou Antoine Verney, curador-chefe dos Museus de Bayeux, em comunicado.
“Isso permitirá fotografias detalhadas, monitoramento contínuo e estudos aprofundados, além de um ambicioso plano de restauração conduzido pelo Estado francês, que busca estabilizar os danos da tela bordada.”
Apesar de seus quase mil anos, as cores originais se mantiveram surpreendentemente vivas. No entanto, restaurações feitas no século XIX — especialmente nas últimas seções da peça — desbotaram severamente.
O processo de desmontagem e restauração começou em janeiro de 2025, com uma limpeza cuidadosa do linho e a retirada do forro de lã adicionado em 1983. No outono de 2025, a tapeçaria será removida de sua vitrine, embalada em uma caixa de conservação e transferida para um local temporário.
Não será a única grande atração francesa a passar por reformas. O Centro Pompidou, em Paris — famoso por sua arquitetura inovadora dos anos 1970, com tubulações expostas — também será fechado, mas por um período ainda maior: cinco anos, a partir do segundo semestre de 2025.
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