Um submersível da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, desapareceu misteriosamente na Antártida depois de realizar descobertas inéditas na Geleira Thwaites, apelidada de “Geleira do Juízo Final”.
Nomeado Ran, o submersível foi enviado pela primeira vez em 2022 por uma equipe internacional de pesquisadores para explorar a cavidade e escanear o gelo na Antártica Ocidental. A Geleira Thwaites é a maior do mundo e seu colapso pode causar um aumento drástico no nível do mar.
Em janeiro de 2024, a equipe retornou com Ran à Plataforma de Gelo Dotson para continuar os estudos, com expectativa de documentar mudanças. Ran desapareceu depois de um único mergulho sob a plataforma de gelo Dotson, sem deixar rastros.
Durante 27 dias, o submersível percorreu mais de mil quilômetros, atingindo 17 quilômetros na cavidade sob a plataforma de gelo.
Por que o submersível está no oceano
Essa pesquisa faz parte de uma missão de cinco anos, em colaboração entre os Estados Unidos e o Reino Unido, para estudar a Geleira Thwaites.
O artigo, publicado na revista Science Advances no fim de julho, apresentou os primeiros mapas detalhados de amplas áreas da parte inferior da geleira. Isso ajuda a entender o derretimento das geleiras.
“Embora tenhamos obtido dados valiosos, não conseguimos tudo o que esperávamos”, escreveu Anna Wåhlin, professora de Oceanografia na Universidade de Gotemburgo e principal autora do estudo. “Esses avanços científicos foram possíveis graças ao submersível único que Ran era. Essa pesquisa é necessária para entender o futuro da camada de gelo da Antártica, e esperamos ser capazes de substituir Ran e continuar este importante trabalho.”
Os pesquisadores descobriram que a base da geleira não é lisa, mas possui picos e vales, semelhantes a dunas de areia.
As novas descobertas sobre o derretimento das geleiras
Os modelos atuais não explicam esses padrões, que podem ter sido formados pela água em movimento sob a influência da rotação da Terra.
O submersível também permitiu medir as correntes sob a geleira pela primeira vez. Os cientistas já sabiam que as geleiras derretem mais rápido onde essas correntes corroem a base, mas agora puderam entender por que a parte ocidental da Plataforma de Gelo Dotson derrete tão rapidamente.
“Já usamos dados de satélite e núcleos de gelo para observar como as plataformas de gelo mudam ao longo do tempo”, afirmou Anna Wåhlin. “Ao navegar com o submersível na cavidade, conseguimos obter mapas de alta resolução da parte inferior do gelo. É um pouco como ver o outro lado da lua pela primeira vez.”
Karen Alley, glaciologista da Universidade de Manitoba e coautora do estudo, acrescenta que os mapas produzidos pelo Ran representam um progresso na compreensão das plataformas de gelo da Antártica. “Já tínhamos pistas de quão complexas são as bases das plataformas de gelo, mas Ran revelou uma imagem mais extensa e completa do que nunca”, disse.