O conteúdo de áudios supostamente enviados pelo tenente-coronel Mauro Cid por meio do perfil @gabrielar702 no Instagram veio a público, nesta terça-feira, 17, ao ser incluído no sistema interno do Supremo Tribunal Federal (STF). As gravações apresentam relatos pessoais e críticas do militar no contexto das investigações do suposto plano de golpe de Estado.
O advogado Eduardo Kuntz, responsável pela defesa de Marcelo Câmara, um dos réus no processo judicial, confirmou que trocou mensagens com Cid no Instagram durante os primeiros meses de 2024. A divulgação dos áudios ocorreu poucos dias depois de a revista Veja publicar imagens de conversas entre o perfil e um interlocutor não identificado.
Desamparo e críticas a aliados

Nos registros de voz, o perfil supostamente ligado a Cid expressou sentir-se desamparado por aliados políticos e mencionou diretamente o presidente do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto, por não o defender publicamente.
“Valdemar deu entrevista, falou do Max, do Cordeiro e de mim”, afirmou. “Ah, que legal, né? O Valdemar não defende o Max, o Cordeiro e também não nos defende. Então assim, é complicado, é complicado você se sentir isolado.”
O oficial também relatou ter sido o único prejudicado depois do avanço das investigações. Ele comparou sua situação com a de outros nomes ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro e mencionou que o político “ganhou milhões em Pix”.
“O Braga Netto, quatro estrelas, chegou ao topo… reserva”, disse Cid. “General Heleno, chegou ao topo… reserva. Presidente, ganhou milhões aí em Pix, chegou ao topo. Tudo bem, todo mundo no mesmo barco. E quem que se f**? Quem perdeu tudo? Fui eu.”
Em outro áudio, declarou nunca ter utilizado o termo “golpe” em depoimento à Polícia Federal, mas afirmou que essa palavra foi incluída repetidas vezes no processo. “Cara, vou te dizer, esse troço está entalado, cara”, disse. “Está entalado. Você vê que o cara botou a palavra golpe, cara. Eu não falei uma vez a palavra golpe.”
Cid alega pressão nas investigações
Capturas de tela supostamente mostram que Cid admitiu contato com a revista Veja, que divulgou áudios em que o militar relatou pressão da Polícia Federal para fazer delações sobre fatos que desconhecia.
Em outro trecho, Cid afirmou não receber nenhum tipo de apoio no decorrer das investigações. “Ah, é porque não tem apoio nenhum, zero, quem vai me apoiar?”, perguntou. “Rogério Marinho? Não vai. Os deputados e senadores de direita? Não vão me apoiar. E quem vai me apoiar, o povo?”
O militar também criticou as redes sociais associadas à direita, pois disse ser alvo constante de ataques nessas plataformas. Segundo ele, as mídias o responsabilizavam por notícias negativas, enquanto atribuíam sucessos apenas ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
“E as próprias mídias sociais de direita são voláteis, né?”, afirmou. “Sai uma besteira na Veja, sai uma besteira no Globo, e aí começam a me atacar. Mas quando sai alguma coisa positiva que eu falei [dizem]: ‘Tá vendo? O presidente é que não fez nada’. Só que, quando é para criticar, me criticam.”
Por fim, Cid lamentou o impacto da investigação sobre sua família e demonstrou emoção ao comentar o sofrimento dos parentes diante do processo. “Até me emociono quando eu falo, porque são coisas assim que é só quando a gente passa que a gente vê o problema mesmo”, relatou o militar. “Porque assim, uma coisa é você, a gente apanha, fica preso, mas quando a gente vê a família sofrendo por sua causa, aí o negócio pesa.”