Kawara Welch, de 23 anos, foi presa em Uberlândia por stalking, ao perseguir um médico de Ituiutaba, Minas Gerais. Foragida desde março de 2023, a artista plástica enviou 1,3 mil mensagens e fez 500 ligações ao médico e sua família.
A defesa alega que existia um relacionamento, mas o médico nega o fato e registrou 42 boletins de ocorrência. Segundo o delegado Rafael Faria, Kawara acreditava ter uma conexão inexistente com o médico, frequentava os mesmos lugares que ele. O profissional não quis ser identificado.
Detalhes da investigação
O delegado destaca que as investigações mostram que a obsessão criada por Kawara foi a motivação do crime. Ainda segundo Rafael Faria, a jovem “tinha necessidade de se autoafirmar com um relacionamento, com uma conexão inexistente com o médico”.
Faria ainda observa que em nenhum momento das investigações ficou comprovado que os dois tivessem um relacionamento amoroso. Ele ressalta que o fato de o médico sempre denunciar os episódios de perseguição, registrar boletins de ocorrência e as montagens de conversas feitas pela jovem também são indicativos de que o relacionamento não existia.
O delegado destaca que, mesmo que o relacionamento tivesse ocorrido, o comportamento da artista plástica não é justificável.
Relato do médico
Em entrevista ao programa Fantástico, o médico contou que conheceu Kawara em 2018, quando ele a atendeu com um quadro de depressão. Ainda segundo o médico, as perseguições a ele e sua família começaram em 2019.
Por causa das insistentes tentativas, a artista plástica foi excluída da lista de pacientes do profissional. Com isso, ela passou a fazer ameaças e também ligar para os familiares do médico, inclusive o filho dele, de 8 anos.
Ela teria enviado fotos a ele, com lençóis e cordas amarrados no pescoço, e outras em tom de despedida. Ele e a esposa registraram 42 boletins de ocorrência por perturbação do sossego, lesão corporal, ameaça e extorsão.
A stalker Kawara também teria começado a segui-lo nas ruas. Em 2022, de acordo com o profissional de saúde, a jovem invadiu o seu consultório e houve um desentendimento entre ela e a esposa do médico, com agressões.
Um ano depois, também na clínica, houve mais um episódio que a jovem invadiu o espaço e teria furtado o celular da esposa do médico. A artista plástica chegou a ser presa, mas foi liberada depois de pagar fiança de R$ 3,5 mil e passou a responder ao processo em liberdade.
A prisão da stalker
Em nota, a Polícia Civil informou que cumpriu o mandado de prisão preventiva contra Kawara em 8 de maio. A ordem judicial foi expedida pelo Poder Judiciário de Ituiutaba. O delegado também informou que a polícia investiga o caso desde o início e que ela foi presa pela primeira vez, em 2021.
Nas redes sociais, a jovem se identifica como artista plástica e modelo. Nas publicações, ela compartilha fotos suas e de suas obras. Kawara acumula mais de 6,5 mil seguidores.
O que diz a defesa?
A defesa da jovem alega que os dois tinham um relacionamento. Ainda segundo os advogados que representam a artista plástica, o relacionamento teria começado quando ela era adolescente, entre seus 16 e 17 anos.
“A companheira da suposta vítima descobriu então essa situação e passou ‘coagir’ a suposta vítima”, afirmam os advogados da stalker, em nota. “Infelizmente, como dito, a senhora Kawara não teve a oportunidade de declarar tudo o que agora declara por sua defesa e fornecer documentos para que tudo fosse apurado.”
Eles ainda destacam que Kawara “nunca foi intimidada” para prestar qualquer esclarecimento sobre os fatos. “O único erro da senhora Kawara é de permanecer iludida pela suposta vítima em ter um relacionamento com a própria”, destacou a defesa.
Crime de stalking
O crime de perseguição, também conhecido como stalking, foi incluído no Código Penal em março de 2021. Isso consiste em perseguir uma pessoa reiteradamente e por qualquer meio, que pode ser o virtual, “ameaçar-lhe a integridade física ou psicológica, restringir-lhe a capacidade de locomoção ou, de qualquer forma, invadir ou perturbar sua esfera de liberdade, ou privacidade”.
Com pena prevista de seis meses a dois anos, mais multa, a norma altera o Decreto-Lei n° 2.848 do Código Penal de 1940.
Como identificar um stalker
- O autor vigia a vítima, observa-a insistentemente;
- Segue a vítima;
- Ronda os locais frequentados pela vítima, como trabalho, escola, universidade e academia;
- Contata reiteradamente a vítima de forma indesejada ou agressiva;
- Faz ameaças ou divulga injúrias; e
- Invade a privacidade da vítima, acessa indevidamente redes sociais, e-mails e dispositivos de mensagens.