Reguladores federais concederam à SpaceX a tão esperada licença para avançar com um quinto lançamento de teste não tripulado do Starship, o sistema de foguete mais poderoso já construído.
A Administração Federal de Aviação (FAA) dos EUA, responsável pelo licenciamento de lançamentos de foguetes comerciais, anunciou neste sábado (12) que a SpaceX “atendeu a todos os requisitos de segurança, ambientais e outros requisitos de licenciamento para o voo de teste suborbital.”
O foguete Super Heavy, equipado com a espaçonave Starship, deve decolar das instalações da empresa em Starbase, Boca Chica, Texas, nos EUA, durante uma janela de lançamento de 30 minutos que começa às 9h (horário de Brasília) deste domingo, de acordo com o site da SpaceX.
A missão de demonstração está programada para incluir uma tentativa ambiciosa de manobrar o propulsor do foguete de 71 metros de altura de volta a uma estrutura de aterrissagem gigantesca, após queimar a maior parte de seu combustível e se separar da espaçonave Starship. Se bem-sucedida, o Super Heavy será capturado no ar com um par de enormes pinças metálicas que a SpaceX chama de “hashi”.
Enquanto isso, a espaçonave Starship continuará voando sozinha, usando seus seis motores a bordo, antes de praticar uma manobra de aterrissagem sobre o Oceano Índico cerca de uma hora após a decolagem.
O objetivo de cada marco é entender como a SpaceX pode, um dia, recuperar e relançar rapidamente os propulsores do Super Heavy e as espaçonaves Starship para futuras missões. A recuperação e reutilização de partes de foguetes é considerada essencial para o objetivo da SpaceX de reduzir o tempo e o custo de levar carga — ou pessoas — à órbita da Terra e ao espaço.
Em última análise, a SpaceX planeja usar a cápsula Starship como o veículo de aterrissagem que transportará astronautas da Nasa à superfície lunar já em 2026, como parte da missão Artemis III — e, eventualmente, para levar os primeiros humanos a Marte.
Conflito da SpaceX com a FAA
A aprovação da FAA para esta missão ocorre em um momento em que a SpaceX — e, em particular, seu CEO Elon Musk — têm entrado em conflito publicamente com a agência federal.
A FAA esperava conceder uma licença para este teste há semanas. A SpaceX afirmou que o veículo Starship estava pronto para decolar “desde a primeira semana de agosto.”
No entanto, a agência adiou a licença porque a SpaceX apresentou a solicitação sem “divulgar que estava em violação das leis do Texas e federais em alguns assuntos”, disse o Administrador da FAA, Mike Whitaker, durante uma aparição no Congresso em 24 de setembro.
Whitaker afirmou que um atraso de 30 dias ocorreu quando a SpaceX não forneceu à FAA um “relatório de boom sônico” atualizado. Os booms sônicos são os barulhos altos que um foguete pode emitir ao começar a viajar mais rápido que a velocidade do som.
Outro atraso foi causado pela “falta de conformidade com a lei do Texas” por parte da SpaceX, disse Whitaker, referindo-se aparentemente a acusações de que a SpaceX não tinha os devidos alvarás para operar um sistema de dilúvio de água no Texas, que é usado para atenuar o impacto do foguete Super Heavy durante a decolagem.
Em uma carta compartilhada publicamente, a SpaceX negou a afirmação de Whitaker de que os atrasos estavam relacionados à segurança pública.
“Além disso, a afirmação de que a SpaceX violou a lei estadual é simplesmente errada. A SpaceX não violou a lei estadual — a SpaceX tinha um alvará para operações de dilúvio da Comissão do Meio Ambiente do Texas (TCEQ)”, afirmou a empresa em uma declaração de 24 de setembro. A comissão não respondeu imediatamente ao pedido de comentário da CNN.
A SpaceX também negou publicamente relatos de que a empresa violou regulamentos de águas residuais com o sistema de dilúvio, que, segundo a SpaceX, utiliza água potável.
Em uma postagem no blog de setembro, a SpaceX afirmou que a “água residual foi testada após cada uso do sistema e consistentemente mostrou traços insignificantes de qualquer contaminante, e especificamente, que todos os níveis permaneceram abaixo dos padrões para todos os alvarás estaduais que autorizariam a descarga.”
Em uma declaração sobre o sistema de dilúvio de água, a FAA disse na sexta-feira que considera a SpaceX em conformidade com a Lei de Água Limpa.
Essa determinação veio após a FAA receber confirmação de reguladores do Texas e da Agência de Proteção Ambiental dos EUA em agosto e setembro, respectivamente, de que a SpaceX concordou “em obter um alvará do Sistema de Eliminação de Descargas de Poluentes do Texas, pagar penalidades civis e cumprir com vários requisitos de monitoramento e relatórios”, de acordo com uma declaração da FAA.
A EPA direcionou perguntas para a Comissão do Meio Ambiente do Texas, que não respondeu aos pedidos de comentário da CNN.
A SpaceX também enfrenta um processo judicial de ambientalistas sobre a questão, que a empresa chamou de “injustificada e frívola.”
Aguardando para voar
A SpaceX indicou, até o final de setembro, que esperava receber aprovação para o último voo de teste do Starship em novembro. Esse prazo foi inesperadamente antecipado no início de outubro.
Não está claro o que provocou a mudança.
Musk usou repetidamente o X, a plataforma de mídia social anteriormente conhecida como Twitter que ele comprou há dois anos por US$ 44 bilhões, para criticar a FAA.
Em uma postagem de 17 de setembro, ele ameaçou processar a agência por “excesso regulatório.” Musk — que tem adotado uma postura cada vez mais vocal sobre política, expressando aversão ao governo Biden e apoiando o ex-presidente Donald Trump — também postou em 25 de setembro que acredita que Whitaker “deveria renunciar.” Musk também alegou que as atividades da agência eram “motivadas politicamente.”
As declarações de Musk vieram após a FAA propor US$ 633.009 em penalidades civis contra a SpaceX por violar os requisitos da licença de lançamento duas vezes durante voos de seu foguete Falcon 9.
A SpaceX negou irregularidades relacionadas a esses requisitos, afirmando que nenhuma das alegações estava relacionada à segurança pública. Em uma carta de 18 de setembro, a empresa afirmou que também deu à FAA aviso prévio sobre alterações em suas operações de lançamento e que a agência não agiu de maneira oportuna.
Durante sua aparição perante o Comitê de Transporte e Infraestrutura da Câmara dos EUA em setembro, Whitaker disse que apoiava os objetivos da SpaceX, mas esperava responsabilizar a empresa.
“Concordo que esta é uma missão vital”, disse Whitaker ao deputado Kevin Kiley, um republicano da Califórnia, sobre o desenvolvimento do Starship pela SpaceX. “Acho que a SpaceX tem sido uma empresa muito inovadora — mas acho que também é uma empresa madura. … E acho que eles precisam operar no mais alto nível de segurança.”
A SpaceX já enfrentou problemas com a FAA durante os testes do Starship. Notavelmente, a empresa lançou um voo de teste de um protótipo de foguete, chamado Starship SN8, sem obter a aprovação prévia da FAA para uma isenção de segurança pública. Na época, a FAA disse que havia negado a isenção, embora não planejasse tomar mais medidas contra a SpaceX.
O tom de Musk em relação à FAA tem mudado rotineiramente. Em um determinado momento de 2023, por exemplo, ele disse que não culpava a FAA por atrasar os lançamentos do Starship.
“Para ser justo com a FAA, é raro que eles causem atrasos significativos nos lançamentos,” disse Musk na época. “Em sua maioria, a responsabilidade é nossa.”
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