Em 2023, o Telescópio Espacial James Webb encontrou objetos gasosos muito estranhos, com massa planetária e que estão sempre em dupla, flutuando na nebulosa de Orion. Conhecidos como objetos binários da massa de Júpiter (JuMBOs), eles desafiam o que sabemos sobre a formação de estrelas e planetas. Agora, uma nova pesquisa pode ter deixado tudo ainda mais confuso.
Para quem tem pressa:
- Os JuMBOs são objetos misteriosos que não parecem nem estrelas, nem planetas;
- A descoberta de ondas de rádio sendo emitidas por eles deixou tudo ainda mais confuso;
- Os pesquisadores esperam realizar mais observações para entender a origem das emissões e desses objetos misteriosos.
Os JuMBOs foram inicialmente identificados pelo conselheiro científico sênior da Agência Espacial Europeia (ESA), Mark McCaughrean, na nebulosa de Orion, a cerca de 1350 anos-luz de distância da Terra. Agora, no novo estudo publicado no The Astrophysical Journal Letters, um grupo de pesquisadores usou dados coletados pelo Karl G. Jansky Very Large Array (VLA), no Observatório Nacional de Radioastronomia da Fundação Nacional de Ciência dos EUA, para observar sinais de rádio vindos da região.
As novas observações revelaram que entre os 42 pares de JuMBOs descobertos, apenas um foi visto emitindo ondas de rádio, e os pesquisadores não sabem o que está produzindo as emissões.
O sinal de rádio foi detectado no JuMBO 24, no qual ambos os objetos que o compõem possuem cerca de 11 vezes a massa de Júpiter, sendo o maior desses corpos detectado pelo James Webb. Os outros têm, no geral, entre 3 a 8 massas jovianas. As emissões são mais fortes do que as de anãs marrons, que têm entre 15 e 75 massas de Júpiter, mas nas estrelas fracassadas existem mecanismos que explicam as ondas de rádio.
Nem estrela, nem planeta
Os pesquisadores acreditam que as estrelas massivas geralmente preferem vidas binárias, e aquelas com menos massas geralmente preferem estar sozinhas. Na verdade, cerca de 75% das estrelas massivas são binárias. Entre aquelas com massa parecida com a do Sol, essa taxa cai para 50%, e em estrelas menores é de 25%.
Nas anãs marrons, a probabilidade de existirem objetos binários é praticamente zero, assim, os JuMBOs, sendo menos massivos que estrelas fracassadas, não deveriam existir de forma binária caso se formem como estrelas. A não ser que a frequência de corpos estelares binários aumente em objetos com massa inferior às anãs marrons, o que desafia o que sabemos sobre a formação estelar.
Como planetas, os JuMBOs também parecem não se adequar. O provável seria que eles fossem mundos ejetados de seus sistemas estelares devido a efeitos gravitacionais. No entanto, esses eventos de ejeção são muito violentos, sendo pouco provável que pares de planetas permaneçam ligados gravitacionalmente.
A teoria de ejeção gravitacional pode até explicar como os JuMBOs surgiram individualmente, mas não como são binários. Além disso, mesmo que fosse o caso, seriam eventos raríssimos, com poucos pares de JuMBOs sendo descobertos, mas na nebulosa de Orion, a ocorrência é relativamente alta.
Outra grande questão que intriga os pesquisadores é que alguns dos binários dos JuMBOs estão separados por distâncias maiores que todo diâmetro do Sistema Solar, ou seja, estão fracamente ligados gravitacionalmente.
Ondas de rádio emitidas por um JuMBO
Alguns dos pesquisadores envolvidos na nova pesquisa já estão observando a nebulosa de Orion a partir do VLA há algum tempo. Assim, quando os JuMBOs foram descobertos nela, eles decidiram revisitar os dados coletados pelos radiotelescópios para verificar se algum desses objetos misteriosos já haviam sido detectados.
Avaliar esses dados novamente revelou que o JuMBO 24 aparece nas observações anteriores e estava emitindo ondas de rádio, enquanto nos outros, emissões não foram detectadas. Acredita-se que eles também estão emitindo ondas de rádio, mas por serem menores, elas não são detectadas.
Agora, os pesquisadores pretendem fazer observações mais aprofundadas dos JuMBOs para descobrir o processo da criação das ondas de rádio. Além disso, focar radiotelescópios nesses objetos pode revelar se eles estão se movimentando rapidamente, o que indicaria que eles se formaram como planetas e foram eventualmente ejetados, ou se eles estão parados, o que indicaria que eles se formaram como estrelas.
Qualquer uma das possibilidades que se confirme irá mudar completamente o que sabemos sobre a formação de planetas e estrelas.