No sul da Espanha, Sevilha é um caldeirão arquitetônico, cultural e religioso. Capital da Andaluzia, a cidade é berço do flamenco e onde as tapas fazem parte da identidade local. A catedral, além de ser Patrimônio da Unesco, serve como descanso para os restos mortais de Cristóvão Colombo e a prova contundente da diversidade da cidade está em sua arquitetura: construções góticas, renascentistas e no estilo mudéjar ficam lado a lado.
Assim é um gostinho da minha segunda parada na Europa a bordo do SH Diana, novíssimo navio para poucos passageiros da empresa britânica Swan Hellenic que oferece expedições culturais fora do óbvio.
Depois de percorrer as maravilhas do badalado Algarve, em Portugal, foi a vez de me encantar com os sabores e os saberes da vizinha Espanha, que já me preparou para as próximas paradas no Norte da África, tudo isso como parte da 7ª temporada do CNN Viagem & Gastronomia.
Acessível a partir das principais cidades europeias pelos mais diferentes modais, Sevilha me deixou com aquela vontade de “quero mais”, mas também me ensinou que é possível conhecê-la em pouco tempo. E, além dos passeios imperdíveis por sua catedral e pela Plaza de España, é impossível não ser fisgada pelo estômago.
Os sabores de Sevilha: mercadão e tapas
Uma das melhores maneiras de se conhecer uma nova cidade é por meio do “mercadão” local. Visitá-lo é uma forma de entendermos a cultura e também as diferenças de uma região. Em Sevilha não foi diferente: logo que atracamos, segui para o Mercado de Triana, que fica no coração do bairro de Triana e é um dos principais pontos da cidade.
Ele remonta a 1823, mas desde muito antes vendedores ambulantes e agricultores comercializavam aqui seus produtos, já que o local fica estrategicamente posicionado ao lado do rio e da Ponte de Triana, que liga o bairro ao centro.
Andar pelos seus corredores é se deparar com uma variedade de frutas, legumes, carnes, embutidos, especiarias, peixes e frutos do mar, assim como restaurantes de comida tradicional da Andaluzia, de ostras e de arrozes.
“Cada mercado de cada cidade transmite o território e o que se cultiva em cada região. Ir a um mercado é como abrir um livro de história desse lugar”, conta Borja Marrero, chef espanhol que convidei para descobrir o mercadão ao meu lado. Ele comanda o Muxgo, restaurante nas Ilhas Canárias com uma estrela verde Michelin onde trabalha com uma cozinha sustentável. Das cabras até as galinhas e da horta aos queijos, tudo é proveniente de seu próprio rancho.
No mercado, sentamo-nos em uma das vendinhas para realizar uma tradição: comer jamón com vinho, o que me levou a sentir, de fato, a pulsante cultura das tapas de Sevilha.
Claro que as tapas são uma paixão nacional, mas aqui elas formam uma das manifestações culturais mais essenciais da cidade. Tomar uma cerveja ou um vinho em um dos terraços abertos e apreciar pão tumaca, queijos, azeitonas, gazpacho, polvo ou ainda batatas com azeite, cebola e vinagre e o pescaíto frito, que consiste em peixe fresco empanado e frito em azeite, é um dos maiores prazeres em Sevilha.
Para isso, a dica é ir na Casa de la Moneda, um dos restaurantes mais típicos da cidade nos arredores da catedral. Simples e gostoso, ele é ideal para tapas e cerveja e, como o nome denuncia, serviu no passado como sede da casa da moeda de Sevilha. Jamón ibérico, croquetas de jamón, camarão com alho, bacalhau frito e carrillada, prato com carne de porco com vinho e especiarias, estão no cardápio.
Passeios imperdíveis
Ao longo dos séculos, Sevilha foi palco de disputas de diferentes povos e até hoje conseguimos ver os traços e as influências deixadas pelos romanos, árabes e cristãos como herança. A seguir, destaco pontos imperdíveis em uma viagem a Sevilha:
De fora e de dentro ela é inegavelmente imponente. Maior catedral gótica do mundo, a catedral é um choque de beleza e começou a ser erguida no século 15 no lugar de uma antiga mesquita. A nave central alcança uma altura de 37 metros, enquanto a giralda, onde fica a torre sineira, chega a quase 100 metros e foi, em séculos passados, a construção mais alta do mundo.
Um dos programas mais bacanas é justamente subir na giralda e contemplar a vista panorâmica de toda a cidade, enxergando lá de cima também o Pátio das Laranjeiras, parte da catedral. A giralda é, inclusive, uma aula a céu aberto, já que é uma mistura de arquitetura árabe e estilo renascentista, em que ficam dispostos 24 sinos e um sino superior.
De volta ao nível da rua, dentro da catedral fica ainda um mausoléu com os restos mortais de Cristóvão Colombo, descobridor da América e nome fundamental para o “novo mundo” – Sevilha chegou a ser um dos portos mais importantes para as expedições.
No total, a visita dura cerca de 1h15 e sai por 12 € (cerca de R$ 67) pelo site e 13 € (R$ 72,50) na bilheteria. De segunda a sexta, exceto em períodos festivos, a entrada é gratuita entre as 14h e as 15h.
A poucos metros da catedral ficam as muralhas que protegem o Real Alcázar de Sevilha, considerado o palácio mais antigo em uso da Europa. Isso porque, ainda hoje, o local serve como residência oficial dos reis da Espanha na cidade – tal uso começou na Idade Média, em que reis de diferentes épocas deixaram suas marcas por aqui.
Mais uma vez, vários estilos arquitetônicos se complementam: islâmico, mudéjar, gótico, renascentista e barroco. Aqui entendemos séculos de história pelos edifícios, onde toda a herança da cultura árabe, do renascentismo e dos mouros se misturam em uma mesma fortaleza.
A entrada geral no Real Alcázar de Sevilha sai por 14,50 € (cerca de R$ 81).
Vale dizer que o conjunto da Catedral, do Alcázar e do Arquivo das Índias forma o Patrimônio da Humanidade da Unesco. O arquivo entra na conta por possuir documentos valiosíssimos das colônias nas Américas.
Parte de um complexo construído para a Exposição Ibero-Americana de 1929, cada pedacinho da Plaza de España é passível de ser contemplado. Ela fica em uma área de 50 mil m² e o edifício principal da praça chama a atenção por ser semicircular e ter cerca de 170 metros de diâmetro. Não foi à toa que ele foi construído à época para exibir a indústria espanhola e a tecnologia do país.
Hoje, o espaço da Plaza de España tem vários usos, em que é ponto de encontro na cidade e local que recebe concertos e agitos culturais. É um ótimo local para passear, contemplar e apreciar também os azulejos espanhóis.
A Plaza de España fica dentro do Parque de María Luisa, primeiro parque urbano de Sevilha e que também é lar da Plaza de América, outra que vale a pena visitar. Ela é rodeada de três palácios diferentes erguidos para a Exposição Ibero-Americana e que abrigam museus e pavilhões.
Se tiver tempo na cidade, também coloque na sua lista de visitas o Palácio de las Dueñas, em estilo gótico-renascentista; o Museu de Belas Artes de Sevilha, instalado em um antigo convento; a Casa de Pilatos, um palácio de origem mourisca; a Torre del Oro, antiga construção de defesa às margens do Guadalquivir; o Palácio de San Telmo, no centro histórico e de arquitetura impressionante; e o Real Maestranza de Sevilha, uma das praças de touros mais antigas da Espanha.
Chegando em Sevilha
É possível chegar em Sevilha de várias formas. Uma delas é de navio, como fiz com o SH Diana. Sevilha tem acesso ao mar graças ao rio Guadalquivir, o único rio navegável do país e, por essa razão, conseguimos chegar até o limite do centro da cidade, já que as embarcações atracam ao lado do Parque María Luisa, onde fica a Plaza de España.
Se quiser desembarcar aqui de avião, o Aeroporto de Sevilha é conectado com as principais cidades da Espanha e da Europa. Também pode-se chegar de trem das principais cidades do país, como Córdoba, Madrid, Zaragoza e Barcelona, em que Sevilha possui duas estações principais.
Uma vez na cidade, metrô, ônibus e bicicletas alugadas são os modais preferidos para locomoção. E fique atenta à data da visita em Sevilha: o período mais recomendado é a primavera do Hemisfério Norte, com dias agradáveis. Realizei a viagem no mês de agosto, ainda verão, com temperaturas quentes e muitos dos estabelecimentos fechados por conta das férias.
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