A Procuradoria Regional Eleitoral do Paraná defendeu, na noite de quinta-feira (14), a cassação do mandato do senador Sergio Moro (União Brasil-PR) e de seus suplentes pela prática de abuso de poder econômico, na ação proposta pelo Partido Liberal (PL) – do ex-presidente Jair Bolsonaro – e pela Federação Brasil da Esperança (PT/PCdoB/PV), sobre as eleições de 2022.
A manifestação, assinada pelos procuradores regionais eleitorais Marcelo Godoy e Eloisa Helena Machado, diz que “a lisura e a legitimidade do pleito foram inegavelmente comprometidas pelo emprego excessivo de recursos financeiros no período que antecedeu o de campanha eleitoral”.
Os gastos realizados por Moro em pré-campanha presidencial, conforme o documento, coloca em dúvida a isonomia entre os candidatos ao Senado.
No processo, é relatado o valor de R$ 2.030.228,09 pelo Podemos (antigo partido de Moro) e o União Brasil, representando 39,78% do total de despesas contratadas pela própria campanha eleitoral e 110,77% da média de gastos em campanha eleitoral dos candidatos ao Legislativo.
A defesa do senador afirmou ainda na noite de quinta-feira que acredita na improcedência da ação que pede a perda de mandato dele. O advogado Gustavo Guedes disse que discorda do parecer do Ministério Público Eleitoral do Paraná (MPE-PR) porque, na visão dele, as despesas seriam justificáveis.
Guedes defende que há uma falha no processo “na medida em que considerou gastos fora do Paraná e aqueles indiferentes eleitorais (segurança, para não ser assassinado pelo PCC) como despesas pré-eleitorais”.
Em nota, o advogado de Moro ironiza os dados que fundamentaram o parecer. “A boa notícia é que dos R$ 20 milhões inventados pelo PT; e os R$ 6 milhões criados pelo Podemos, já reduzimos para R$ 2 milhões. Seguiremos baixando ainda mais a conta no trabalho de convencimento dos juízes do TRE. A improcedência acontecerá“, declarou.
A defesa do senador Sergio Moro (União Brasil-PR) anexou uma tabela em suas alegações finais para “desinflar” e “desmitificar” seus gastos de campanha no processo de cassação de sua candidatura no Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE), conforme documento que a CNN teve acesso.
No material, o senador informa que foram gastos R$ 1.891.349,73 na pré-campanha à Presidência da República pelo Podemos entre novembro de 2021 e março de 2022.
Outros R$ 1.829.187,69 foram desembolsados pelo União Brasil na pré-campanha a senador ou deputado federal por São Paulo abril de 2022 e junho de 2022. E R$ 2.319.157,31 na pré-campanha do União Brasil a senador pelo Paraná entre junho de 2022 e agosto de 2022.
O argumento da defesa é que as pré-campanhas à Presidência e ao Senado em São Paulo foram interrompidas à revelia da vontade de Moro e que não trouxeram benefícios a ele na disputa no Paraná.
Além disso, muitos gastos não teriam sido individualizados, mas feitos em viagens para encontros do partido ou outros eventos coletivos.
Mesmo os mais de R$ 2 milhões que constam como pré-campanha ao Senado no Paraná só poderiam ser parcialmente contabilizados, na visão da defesa.
Constam da planilha monitoramento de redes sociais para diferentes candidatos, segurança e transporte não exclusivos, passagens para evento de campanha da candidata à Presidência do partido, Soraya Tronicke, entre outros.
Por conta disso, Moro solicita aos juízes que considerem apenas 2,34% dos mais de R$ 6 milhões da pré-campanha que foram levantados pelos partidos que pedem sua cassação, o PT de Lula e o PL de Bolsonaro.
À CNN, Bruno Cristaldi, advogado do PL do Paraná, diz que “com o reconhecimento das ilicitudes pela Procuradoria Regional Eleitoral do Paraná, as chances de Sergio Moro – e seus suplentes – escapar impune, mesmo no TRE-PR, praticamente se desintegraram”.
“A ação, agora reforçada pelos argumentos do MP, mostra que o abuso de poder econômico na pré-campanha dos investigados foi grave o suficiente para a cassação e a inelegibilidade. Ainda assim, entendemos que o parecer, por mais que favorável, deveria ter sido mais severo em relação a muitos outros pontos que foram relevados”, continua.
O advogado da Federação Brasil da Esperança do Paraná, Luiz Eduardo Peccinin, afirmou à CNN que o parecer do MP está “atento aos valores fundamentais de nossa democracia”.
“Temos certeza que a Justiça Eleitoral do Paraná não se furtará a sua história de intransigência com o abuso de poder, cassando e declarando a inelegibilidade de Sérgio Moro e seu suplente”, expressou Peccinin.
O deputado estadual Arilson Chiorato, presidente do PT do Paraná, relatou à reportagem que a sigla “vê que estava certa desde o começo, quando falava de tudo isso”.
Após prestar depoimento ao Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR), em 7 de dezembro, Moro disse à CNN que os processos são resultados de uma “perseguição política”.
Segundo ele, os esclarecimentos à Justiça Eleitoral serviram para mostrar que as acusações, feitas pelo PT e por integrantes do PL no Paraná, “não se sustentam”.
“Foi uma boa oportunidade para esclarecer no caso. No fundo, as ações são um castelo de cartas, promovidas por uma perseguição política, em parte pelo PT e, do outro lado, por oportunistas que perderam a eleição no Paraná e são membros do PL. Mas as alegações não se sustentam”, declarou.
“Falaram que tinha caixa dois, desvio, mas quando se vê nos processos, não tem nada, não tem prova nenhuma disso, porque esses fatos não ocorreram”, prosseguiu.
Ele ainda rebateu o argumento dos autores da denúncia ao TRE de que teria sido pré-candidato à Presidência, ainda no início de 2022, como subterfúgio a uma eventual candidatura ao Senado, que se concretizaria meses depois.
“Quem acompanhou os fatos, sabe que foi o contrário. Foi penoso desistir da candidatura presidencial. E aí querem pegar os gastos do período anterior à campanha, de atividade partidária, e chamar de abuso de poder econômico”, disse.
“A ação vai ser julgada, e a gente respeita a Justiça Eleitoral. Vamos esperar o julgamento. Mas os fatos que eles alegam ou não existem, ou não foram provados, ou não fazem sentido.”
Segundo os reclamantes, a chapa de Moro causou desequilíbrio eleitoral.
Isso teria ocorrido desde a filiação partidária do ex-juiz ao Podemos, em novembro de 2021, com o lançamento de sua pré-candidatura para a Presidência da República até o momento de sua eleição para o Senado pelo União Brasil.
O argumento das partes é de que Moro usou “estrutura e exposição de pré-campanha presidencial para, num segundo momento, migrar para uma disputa de menor visibilidade, menor circunscrição e teto de gastos vinte vezes menor, carregando consigo todas as vantagens e benefícios acumulados indevidamente, ferindo a igualdade de condições entre os concorrentes ao cargo de senador”.
A ação diz que o ex-juiz teve os seguintes serviços à sua disposição durante a pré-campanha presidencial:
- media training;
- assessoria de imprensa;
- planejamento de marketing;
- produção de vídeos em ambos os partidos;
- remuneração mensal;
- segurança privada;
- viagens aéreas nacionais e internacionais para Moro e equipe;
- veículo blindado;
- hospedagens;
- exposição midiática de presidenciável;
- protagonismo em metade das inserções de propaganda partidária gratuita no rádio e na televisão;
- produção de conteúdo e estratégia de campanha;
- pesquisas eleitorais.
Em novembro de 2021, Moro se filiou ao Podemos com pretensões de disputar o Palácio do Planalto, chegando inclusive a aparecer em pesquisas de intensões de voto.
No final de março de 2022, ele se desfiliou do partido e entrou no União Brasil. Na ocasião, o ex-juiz anunciou que havia desistido de sua pré-candidatura “neste momento”.
Na mesma época, Moro solicitou sua transferência de domicílio eleitoral do Paraná para São Paulo. A medida foi aceita pela 5ª Zona Eleitoral, na zona oeste. Entretanto, em junho, o Tribunal Regional Eleitoral do Estado de São Paulo (TRE-SP) acolheu um recurso do PT contra a decisão.
Com a impossibilidade de se candidatar por São Paulo, Moro anunciou, em julho, sua candidatura ao Senado pelo Paraná.
(Publicado por Lucas Schroeder, com informações de Basília Rodrigues, Caio Junqueira, Douglas Porto, Nathan Lopes e Raquel Landim)
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