O Brasil enfrenta uma seca histórica – a pior dos últimos 40 anos. Isso poderia explicar o aumento das queimadas. Mas o aparecimento quase simultâneo de fumaça vinda de focos de incêndio levanta suspeitas de ação criminosa e coordenada.
Os dados sobre a seca são do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). Eles cobrem de maio a agosto desde 1981, início da série histórica. Já a origem quase simultânea das fumaças foi constatada pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).
Seca histórica explica parte do aumento das queimadas no Brasil
A seca que afeta 16 estados e o Distrito Federal pode ajudar a explicar o aumento das queimadas em diversas partes do Brasil. É o que disse a pesquisadora Ana Paula Cunha, do Cemaden, ao jornal Folha de S. Paulo.
“Em todos os anos em que temos grandes secas, temos recordes de focos de queimada”, disse a pesquisadora. Atualmente, 69% dos municípios brasileiros enfrentam algum tipo de estiagem. Em 1,3 mil, a seca está em situação severa, segundo análise preliminar do Cemaden.
A falta de chuva é reflexo do fenômeno El Niño, ocorrido em 2023, e da La Niña do Atlântico. O primeiro aquece as águas do oceano, enquanto a segunda resfria (na costa da África, no caso).
No caso da La Niña, esse resfriamento das águas enfraquece o fluxo de ventos úmidos para o Brasil. Enquanto isso, o país enfrenta um aumento de 78% nos focos de incêndio, segundo o BDQueimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). A comparação é entre janeiro e agosto de 2023 e 2024.
Aparecimento quase simultâneo de queimadas levanta suspeitas de ação criminosa em São Paulo
Apesar da pesquisadora do Cemaden apontar como comum a relação entre seca histórica e aumento de queimadas, é preciso considerar ações criminosas neste cenário.
No caso do estado de São Paulo, a simultaneidade dos focos de incêndio indica origem não natural, segundo o Ipam (via G1). Quando incêndios ocorrem de forma natural, a tendência é eles começarem em momentos diferentes.
Em entrevista ao podcast O Assunto, do G1, Ane Alencar, especialista em monitoramento de incêndios do Ipam, reforça que a coincidência de horários é um forte indício de interferência humana.
A análise do instituto apontou o aparecimento de colunas de fumaça entre 10h30 e meio-dia da última sexta-feira (23) – ou seja, um intervalo de 90 minutos. Ainda segundo o Ipam, o estado registrou 2,6 mil focos de calor entre 22 e 24 de agosto.
Até a publicação desta reportagem, seis pessoas tinham sido presas por suspeita de participar dos incêndios no interior de São Paulo, segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP). A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse suspeitar que ocorreu um “novo dia do fogo“.