domingo, outubro 6, 2024
InícioInternacionalSaiba a importância do plebiscito que envolve a Venezuela e a Guiana

Saiba a importância do plebiscito que envolve a Venezuela e a Guiana

O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, realiza neste domingo, 3, um plebiscito sobre a anexação do Essequibo, um território que representa 70% da Guiana. A votação ampliou a tensão entre os dois vizinhos e os temores de um conflito militar na região.

O plebiscito, convocado depois da definição da chapa opositora que desafiará Maduro no ano que vem, mostra que o ditador tenta com a votação avaliar o grau de mobilização de sua base e a adesão popular ao chavismo.

“Conheça a Guiana, país que atingiu PIB de US$ 15 bilhões e se tornou alvo da Venezuela”

Depois de anos de recessão econômica e êxodo em massa, o interesse venezuelano na Guiana é também econômico e tem crescido nos últimos anos, em razão da descoberta de petróleo na costa do país.

O plebiscito tem cinco perguntas. A principal prevê a inclusão do Essequibo como o 25º Estado venezuelano. A isso, se seguiria um plano acelerado para atender a sua população, incluindo a concessão de cidadania venezuelana e carteiras de identidade. Cerca de 125 mil pessoas vivem na região, 12% da população da Guiana.

Guiana Venezuela | Parte das águas do Rio Essequibo, território em disputa com a Venezuela, abrigou parte do petróleo encontrado em 2015 | Foto: Divulgação/Google MapsGuiana Venezuela | Parte das águas do Rio Essequibo, território em disputa com a Venezuela, abrigou parte do petróleo encontrado em 2015 | Foto: Divulgação/Google Maps
Parte das águas do Rio Essequibo, território em disputa com a Venezuela, abrigou alguma quantidade do petróleo encontrado em 2015 | Foto: Divulgação/Google Maps

O que Maduro quer com o plebiscito sobre a Guiana, segundo especialistas

Para o analista Jesús Castellanos Vásquez, a votação vai permitir ao governo monitorar diversas métricas que são importantes para a eleição de 2024. “A votação serve como termômetro para medir a capacidade de apoio ao regime e de controle”, disse Vásquez, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, referindo-se à mobilização da máquina chavista.

A consultora Eglée González-Lobato concorda. “Tendo em conta as pesquisas, que deixam em evidência o baixíssimo apoio da população, o plebiscito permite o diagnóstico da mobilização dos eleitores e mede a lealdade de governadores e prefeitos”, disse

Segundo a especialista, a oposição mostrou uma alta mobilização nas primárias de outubro, o que preocupa os chavistas. “A oposição demonstrou uma forma de votar em bloco, concentrado, articulado”, afirmou. “É uma combinação ganhadora, frente a um oficialismo monolítico. Por isso, Maduro busca atrair, com uma visão nacionalista, patriótica, o entusiasmo de um eleitorado que se afasta dele.”

A disputa sobre o Essequibo ganhou contornos geopolíticos. No mês passado, militares chavistas fizeram treinamentos na fronteira, o que chamou a atenção do Brasil e dos Estados Unidos. Os norte-americanos enviaram à Guiana chefes militares para contribuir nos planos de defesa.

YouTube videoYouTube video

Brasil acende sinal de alerta

O Ministério da Defesa do Brasil intensificou a presença militar na fronteira em Roraima e afirmou que monitora a crise. O Itamaraty, por sua vez, expressou preocupação com a disputa, mas não deve se pronunciar sobre a votação. “Do ponto de vista do Brasil, o referendo é um assunto interno da Venezuela”, disse a secretária do Ministério de Relações Exteriores para América Latina e Caribe, Gisela Padovan.

Usar ameaças externas para mobilizar sua base política não é novidade para o chavismo. Desde 1999, tanto Maduro quanto seu antecessor, Hugo Chávez, denunciaram planos da Colômbia e dos EUA para derrubá-los. Agora, com a normalização das relações com Bogotá, governada pelo esquerdista Gustavo Petro, a Guiana é a bola da vez.

YouTube videoYouTube video

Maduro usa a retórica do nacionalismo

Para isso, Maduro abusa da retórica nacionalista e recorre a métodos pouco convencionais. Com músicas de reggaeton pró-governo, vídeos nas redes sociais, distribuição de mapas revisados e aulas sobre geografia transmitidas pela TV estatal, o chavismo utiliza a história para tocar o público, transformando escolas em palcos de fervor patriótico.

“O governo venezuelano está usando a cartilha nacionalista para fortalecer seu apoio, que é cada vez menor, e procurando evitar qualquer questionamento dentro das Forças Armadas”, disse Kenneth Ramírez, presidente do Conselho Venezuelano de Relações Internacionais. “A ideia é tentar dividir a oposição entre os mais pragmáticos, que consideram importante participar no referendo, e aqueles que questionam a relevância do plebiscito.”

Já o cientista político venezuelano José Castillo Molleda acredita que o atual cenário é parecido com aquele que envolve a Argentina e as Malvinas. “Aquilo causou desconforto no Reino Unido, mas não mudou a situação além do simbolismo da medida”, disse.

No ano passado, a Rússia usou uma estratégia similar quando tentou anexar Províncias de etnia russa do leste da Ucrânia em meio à guerra: plebiscitos e uma campanha em massa para formalizar a cidadania russa dos habitantes dessas regiões.


Revista Oeste, com informações da Agência Estado

Via Revista Oeste

MAIS DO AUTOR

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui