Ao redor do Brasil, ruas, escolas, rodovias, entre outras localidades são nomeadas em homenagem a personagens ligados à ditadura militar brasileira.
Segundo o site “Ditamapa”, que compila locais que enquadram nesse ponto, todos os estados brasileiros possuem locais públicos que fazem referência a autoridades que integraram o regime militar.
O projeto, desenvolvido pelos pesquisadores Giselle Beiguelman, da Universidade de São Paulo (USP), e Andrey Koens, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), é um mapa de ruas, avenidas, pontes e viadutos que têm nomes dos presidentes que governaram o país entre 1964 e 1985.
“O que está por traz desse processos de nomeação é uma história do poder, das narrativas oficiais que, via de regra, apagam as dissidências e as histórias contra-hegemônicas”, avalia Beiguelman sobre a escolha dos nomes.
Ao todo, são 538 locais registrados pelo Ditamapa. Sendo eles:
- 157 referências a Humberto Castelo Branco, primeiro presidente militar;
- 184 referências a Artur da Costa e Silva, segundo presidente militar;
- 3 referências a Junta Militar;
- 109 referências a Emilio Garrastazu Médici, terceiro presidente militar;
- 51 referências a Ernesto Geisel, quarto presidente militar;
- 34 referências a João Figueiredo, quinto e último presidente militar.
As homenagens ao período associado à censura e perseguição política geram controvérsia.
É muito importante fazermos a crítica da nossa história e isso passa por contestar as homenagens a ditadores, torturadores, traficantes de escravos entre outros. É importante, no entanto, criar recursos, em museus, arquivos, e também online, como é o caso do Ditamapa, que deem legibilidade às histórias de violência que nos constituem como país e sociedade.
Giselle Beiguelman
Um dos casos mais emblemáticos de contestação ocorreu em São Paulo, com a alteração do nome do antigo Elevado Costa e Silva, conhecido entre os paulistanos como “Minhocão”.
A via, que fazia referência ao presidente militar que esteve a frente do país de 1967 a 1969, passou a homenagear o presidente deposto no golpe de 1964 e se tornou Elevado Presidente João Goulart.
A sanção do projeto de lei ocorreu na gestão de Fernando Haddad (PT), em 2016. No mesmo período, a prefeitura lançou o programa “Ruas de Memória”, instituído pelo decreto 57.146/2016 — dedicado a “alterar progressivamente e de maneira participativa o nome de logradouros que homenageiam violadores de direitos humanos da ditadura militar”.
De lá para cá, além do Minhocão, outros cinco logradouros tiveram seus nomes alterados na capital paulista:
- Rua Alcides Cintra Bueno Filho para Rua Zilda Arns;
- Av. General Golbery do Couto para Avenida Giuseppe Benito Pegoraro;
- Praça General Milton Tavares de Souza para Paulo Sella Neto (Tin Tin);
- Rua Doutor Sergio Fleury para Frei Tito;
- Viaduto 31 de Março para Therezinha Zerbini.
Logradouros que ainda homenageiam agentes da ditadura na cidade de São Paulo:
- Rua Alberi Vieira dos Santos;
- Praça Ministro Alfredo Buzaid;
- Rua Alcides Cintra Bueno Filho;
- Praça Augusto Rademaker Grunewald;
- Avenida Presidente Castelo Branco;
- Rua Délio Jardim de Matos;
- Avenida General Ênio Pimentel da Silveira;
- Rua Senador Filinto Müller;
- Rua Hely Lopes de Meirelles;
- Rua Henning Boilesen;
- Praça General Humberto de Souza Melo;
- Rua Mário Santalucia;
- Rua Octávio Gonçalves Moreira Junior;
- Rua Olímpio Mourão Filho;
- Rua Governador Roberto Costa Abreu Sodré.
Na capital do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, uma avenida homenageia o primeiro presidente militar da ditadura brasileira: Humberto de Alencar Castello Branco.
Em 2014, chegou a ser aprovada uma lei que alterava o nome da via para avenida da Legalidade e Democracia. Em 2018, porém, o Tribunal da Justiça (TJ) considerou a determinação ilegal e o nome anterior foi recuperado.
No município de Alexânia, a cerca de 90 quilômetros da capital federal, Brasília, o Colégio Estadual 31 de Março faz referência direta a data em que se iniciou o golpe de Estado — que no meio militar costuma ser citado como “movimento revolucionário”.
Principal ligação entre a região metropolitana de São Paulo com o centro-oeste do estado, a mudança do nome da Rodovia Castelo Branco chegou a ser proposta pelo então deputado do PT, Wagner Lino, em 2001.
Até hoje, porém, a via mantém o nome do presidente militar.
Entre os bairros Costa e Silva e Ernesto Geisel, a rua Presidente Médici é um dos diversos logradouros da cidade que, em seu próprio nome, é uma homenagem.
João Pessoa, capital da Paraíba, faz referência a um notório político de Pernambuco — que chegou a ser candidato a vice-presidente na chapa de Getúlio Vargas e foi assassinado em 1930.
A cerca de dois quilômetros da rodovia Transamazônica (traçada uma linha reta no mapa) está a Travessa Presidente Ernesto Geisel, em Altamira, no Pará.
Símbolo da ditadura militar e rodeada de polêmicas — que vão desde as condições da via até a passagem por terras indígenas —, a BR-230 começou a ser construída em 1970, durante o governo Médici. A inauguração se deu dois anos depois.
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