Em 2017, detetives do Departamento de Polícia do Distrito do Parque Regional East Bay, na Califórnia, tiveram uma ideia inovadora ao trabalhar em um caso não resolvido. Com a ajuda da empresa Parabon NanoLabs, especializada em recriar rostos com base no DNA do indivíduo, eles buscavam pistas no assassinato de Maria Jane Weidhofer, ocorrido em 1990 no Tilden Regional Park, Califórnia. O laboratório usou informações genéticas coletadas na cena do crime para criar um rosto estimado do suspeito.
Ao enviar amostras de DNA coletadas na cena do crime para a Parabon NanoLabs, os detetives receberam algo inédito: o rosto de um possível suspeito, gerado exclusivamente a partir dos dados genéticos encontrados.
O produto, denominado Relatório Fenotípico Snapshot, não era uma fotografia, mas sim uma representação tridimensional. O algoritmo da empresa previu que o suposto assassino era do sexo masculino, de pele clara, olhos e cabelos castanhos, sem sardas e com sobrancelhas espessas. O corte de cabelo e o bigode foram adicionados com base em relatos de uma testemunha.
- Em uma decisão controversa de 2017, o departamento publicou o rosto previsto na tentativa de obter dicas do público.
- Contudo, em 2020, um dos detetives tomou uma medida ainda mais polêmica, considerada uma violação dos termos de serviço da Parabon NanoLabs: solicitou que a representação fosse submetida a um software de reconhecimento facial.
- Essa tentativa inédita de utilizar reconhecimento facial em um rosto gerado algoritmicamente a partir do DNA da cena do crime só veio à tona recentemente, após a divulgação de registros policiais hackeados pelo coletivo Distributed Denial of Secrets.
- Jennifer Lynch, conselheira geral da Electronic Frontier Foundation, classificou a abordagem como “ciência duvidosa” em entrevista ao WIRED, alertando sobre os riscos de identificação equivocada.
- A Parabon NanoLabs, por sua vez, considera tal prática não apenas uma violação de seus termos de serviço, mas também uma ideia prejudicial.
Preocupações éticas
O desfecho da solicitação do detetive à Northern California Regional Intelligence Center para utilizar reconhecimento facial nesse rosto estimado ainda é desconhecido. O NCRIC não respondeu aos pedidos de comentários do WIRED sobre o resultado da solicitação. No entanto, a falta de transparência e supervisão adequada no uso de tecnologias de reconhecimento facial preocupa especialistas.
A diretora de bioinformática da Parabon NanoLabs, Ellen Greytak, disse ao WIRED que a empresa usa aprendizado de máquina para criar modelos preditivos “para cada parte do rosto”. Embora a empresa afirme poder prever com confiança a cor do cabelo, olhos e pele, juntamente com outros traços físicos observáveis, cientistas questionam a viabilidade de prever a forma exata do rosto.
Além disso, os métodos da Parabon não foram revisados por pares, levantando dúvidas sobre a precisão de suas previsões.
A prática de utilizar reconhecimento facial em rostos gerados por fenotipagem é defendida por alguns departamentos policiais, como uma ferramenta adicional na resolução de casos antigos. No entanto, críticos apontam a falta de regulamentação federal e treinamento inadequado no uso dessas tecnologias como preocupações fundamentais.