quinta-feira, julho 4, 2024
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risco de derreter é maior do que esperado

A gigantesca geleira Thwaites, localizada na Antártica, corre mais risco de derreter do que a ciência imaginava até então. O receio dos cientistas é grande, pois ela é chamada de “Geleira do Juízo Final”, já que, caso derreta por inteiro, poderá elevar o nível do mar em até um metro e representa grande risco ao mundo todo.

Contudo, a descoberta não é um alerta que recai apenas sobre a Thwaites, mas sobre todas as geleiras, podendo elevar o nível do mar e inundar cidades inteiras, como reforça o g1. A informação foi obtida a partir de pesquisa realizada por especialistas de universidades dos Estados Unidos (como a Universidade da Califórnia, Irvine, líder do estudo) e Canadá, com apoio da NASA.

No passado, tínhamos apenas dados esporádicos para analisar isso. Nesse novo conjunto de dados, diário e ao longo de vários meses, temos observações sólidas do que está acontecendo.

Eric Rignot, professor de ciência do sistema terrestre na Universidade da Califórnia em Irvine e coautor do estudo

“Geleira do Juízo Final” mais perto de derreter?

  • Para realizar o estudo, publicado nesta segunda-feira (20) na Proceedings of the National Academy of Sciences, foram utilizadas imagens de satélite que monitoraram a geleira;
  • Descobriu-se que ela está se movimentando, empurrada pela água quente do oceano;
  • Ela está presa no fundo do oceano, mas as marés mais fortes estão levantando-a, permitindo que a água quente entre em sua base por até seis quilômetros;
  • Dessa forma, a matemática é simples: água quente + geleira = maior possibilidade de derretimento;
  • E esse é “apenas” um agravante, uma vez que as mudanças climáticas e o aquecimento global já estão afetando a geleira, entre outros fatores.
Geleira na Antártica (Imagem: Derek Oyen/Unsplash)

Christine Dow, professora da Faculdade de Meio Ambiente da Universidade de Waterloo (Bélgica) e coautora do estudo, detalha que a descoberta indica que, além de Thwaites estar mais próxima de derreter por completo, a ação das marés fortes em combinação com o oceano mais quente pode influenciar toda a camada de gelo, resultando no aumento do nível do mar.

Thwaites é o lugar mais instável da Antártica e contém o equivalente a 60 centímetros de aumento do nível do mar. A preocupação é que estejamos subestimando a velocidade na qual a geleira está mudando, o que seria devastador para as comunidades costeiras em todo o mundo.

Christine Dow, professora da Faculdade de Meio Ambiente da Universidade de Waterloo (Bélgica) e coautora do estudo, em comunicado

Porém, os pesquisadores não têm certeza sobre a rapidez na qual a geleira pode derreter. Eles esperam que seu estudo auxilie nas previsões sobre o futuro de nossos oceanos.

Em entrevista à CNN, Ted Scambos, glaciologista da Universidade do Colorado em Boulder (EUA), que não esteve envolvido no estudo, chamou a pesquisa de “fascinante e importante”.

Essa descoberta fornece processo que, ainda, não foi levado em consideração nos modelos. [E, embora esses resultados se apliquem apenas a certas áreas da geleira], isso poderia acelerar o ritmo da perda de gelo em nossas previsões.

Ted Scambos, glaciologista da Universidade do Colorado em Boulder (EUA), em entrevista à CNN

Imagem do movimento das marés em Thwaites, registado pela missão de satélite comercial ICEYE, da Finlândia, com base em imagens dos dias 11, 12 e 13 de maio de 2023 (Imagem: Eric Rignot/UC Irvine)

Já James Smith, geólogo marinho do British Antarctic Survey, que não esteve envolvido no estudo, falou à CNN que é preciso desvendar se o fluxo de água sob Thwaites é algo novo ou se é significativo, mas desconhecido há tempos.

“De qualquer forma, é claramente um processo importante que precisa ser incorporado aos modelos de mantos de gelo”, continuou.

Noel Gourmelen, professor de observação da Terra na Universidade de Edimburgo (Escócia), que não esteve envolvido no estudo, ressalta a importância do uso de ferramentas espaciais para acompanharmos o estado da Terra. “Ironicamente, é indo ao Espaço, utilizando nossas crescentes capacidades de satélite, que aprendemos muito mais sobre esse ambiente”, disse à CNN.

Gourmelen também esclarece que não está claro até que ponto as descobertas da pesquisa significam para a geleira, tampouco está claro até onde o que está acontecendo com Thwaites se generalizou (ou não), ” embora seja altamente provável que isso também esteja acontecendo em outros lugares”.

Visão aérea de enchente em cidade no Rio Grande do Sul
Visão aérea de enchente em cidade no Rio Grande do Sul (Imagem: Gustavo Mansur/Palácio Piratini)

Por que Thwaites coloca o mundo todo em risco?

Para começar, o derretimento da “Geleira do Juízo Final” equivale a 4% da elevação do nível do mar mundial anualmente, número gigante para uma só geleira, sem contar que pesquisas anteriores indicaram que ela já vinha derretendo com mais rapidez (detalhe: seu tamanho é similar ao da Flórida, estado estadunidense).

E, com isso, o que vimos nas últimas semanas no Estado do Rio Grande do Sul pode se repetir no mundo todo. Por exemplo: especialistas projetam que um quinto de Bangladesh, localizado no sul da Ásia, pode ficar inteiramente submerso.

Ainda, ilhas do Pacífico podem sumir totalmente e ajudar a encher de água cidades estadunidenses, como Miami e Nova York. Claro que o Brasil não fica de fora: uma análise da NASA aponta que 293 cidades portuárias do mundo serão afetadas pelo derretimento de diversas porções de todas as massas de gelo da Terra.

E por que o Brasil não fica de fora? Porque, nesse estudo, foram citadas as cidades de Rio de Janeiro (RJ), Recife (PE) e Belém (PA).

“Os impactos da permanência baixa do gelo marinho da Antártica durante mais de 20 anos seriam profundos, inclusive no clima local e global”, disse Louise Sime, coautora do estudo, em nota. Os autores também alertam para suas descobertas, no sentido de que elas aumentam as provas de que a região passa por “mudança duradoura de regime”.

Via Olhar Digital

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