quinta-feira, novembro 21, 2024
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Rio Grande do Sul submerge e, enquanto isso…

A primeira reação diante de tragédias como as enchentes que inundam dramaticamente o Rio Grande do Sul (RS), afetando os nossos compatriotas e consequentemente o Brasil de formas que ainda estamos apenas começando a sentir, deve ser a da comoção e da empatia. Assim foi: diversos setores da sociedade civil do país inteiro — e até do mundo — se mobilizaram para ajudar as vítimas em suas necessidades imediatas.

Muitos dizem que não é momento para politização do assunto. Quando o filho do então governador Geraldo Alckmin faleceu em uma queda de helicóptero em 2015, estive no grupo que se levantou contra a “vergonhosa politização da tragédia”, que era a postura absurdamente insensível que adversários políticos de Alckmin estavam adotando diante de um pai que enfrentava dura provação. Mantenho tudo o que disse. Não concordo, porém, que a tragédia seja uma situação especial a ponto de devermos fingir que não estamos vendo o que estamos vendo — em especial, quando sabemos que os malfeitos e invencionices dos políticos só piorarão os efeitos dos desastres se não forem detectados, apontados e combatidos. A empatia humana não pode ser justificativa para omissão cúmplice diante do mal.

Enquanto o Rio Grande do Sul submerge, o governo do presidente Lula — que afirma não ter tido ciência antes que havia tantos negros no Estado, o que não é exatamente algo que eu esperaria ouvir de alguém que comandou o país por tantos anos desde 2003 — tem demonstrado prioridades bastante estranhas. Quer aumentar os salários de ministros do STF, nomear uma presidente da Petrobras que priorize projetos “estruturantes” como a refinaria Abreu e Lima e o Complexo Petroquímico do Rio (“estruturantes” sabemos para o quê desde o Petrolão) e aprovar um projeto de lei que privilegia emissoras, como a Rede Globo. Ao mesmo tempo, irriga panfletos, a exemplo de Carta Capital e Brasil 247 com verbas de publicidade.

As prioridades que chamei de estranhas, na verdade, estão concentradas em alimentar o “consórcio” espúrio que sustenta o atual regime em vigor no país, uma aliança entre setores do Executivo, da grande imprensa e da cúpula do Poder Judiciário (que me parece o lado mais forte da coalizão de conveniência). Para esse consórcio, a maior urgência neste momento é convencer a população a “desver” o protagonismo da sociedade civil no confronto ao drama vivido pelos gaúchos, empreendendo um esforço doutrinador por parte do braço midiático do regime, o Departamento de Imprensa e Propaganda lulopetísticoesseteéfico, digno de embrulhar os estômagos. Vemos “jornalistas” estrelados tentando, a todo custo, convencer os próprios gaúchos de que a realidade não é o que seus olhos veem e que o Estado tem sido o ator mais organizado no enfrentamento ao problema.

O fato insofismável é que o governo Lula mente que nem sente. As mentiras foram tão longe e os desgastes naturais a tal ponto se impõem que as rachaduras do “consórcio” acabam ficando inevitavelmente mais transparentes. A própria Folha de S.Paulo, por vezes atuando como se fosse uma assessoria de imprensa travestida de veículo jornalístico, viu-se impelida a publicar em manchete: “Governo Lula mente ao afirmar que não dispensou oferta de ajuda do Uruguai ao Rio Grande do Sul”. Mesmo assim, o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, o petista Paulo Pimenta, incomodado, pediu uma investigação ao Ministério da Justiça sobre as “fake news” divulgadas por influenciadores digitais a respeito da atuação do “maravilhoso” governo durante as tragédias no Rio Grande do Sul. Ele está preocupado com a “credibilidade das instituições” e o risco de as pessoas perderem “a confiança (…) nas capacidades de resposta do Estado”.

Não é um risco, é certeza: as pessoas perderam tal confiança e tem muitos motivos para isso. A manifestação de Pimenta é mais um ataque de oportunismo, diante de situações-limite e estresses sociais, da sanha censora de tiranetes escroques, prova do nervosismo, em virtude das críticas contundentes que vem sofrendo, em que se encontra uma administração venal que já nasceu moralmente colapsada a partir do ex-presidiário que a comanda.


*Lucas Berlanza é presidente da diretoria executiva do Instituto Liberal

Via Revista Oeste

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