No início do ano, o Rio Acre, em Rio Branco (AC), atingiu a segunda maior cota histórica, causando enchentes que atingiram mais de 70 mil pessoas. Agora, pouco mais de dois meses depois, o manancial atingiu a menor marca para o mês de maio nos último cinco anos e pode causar uma seca prolongada.
Especialistas chamam atenção para mais um evento provavelmente causado pelas mudanças climáticas.
Rio Acre teve flutuações extremas em poucos meses
- Em março, chuvas acima de 400 milímetros fizeram o Rio Acre chegar a 17,89 metros, causando a maior enchente de Rio Branco desde 2015;
- Já em abril, o principal rio do estado ficou abaixo dos sete metros, uma queda de mais de 10 metros em relação ao mês anterior. O pico foi no dia 14, quando atingiu 6,42 metros;
- Neste mês, a situação se agravou. O manancial não superou os 4,89 metros, sendo que a média histórica do período é de 5,63 metros;
- Nesta quinta-feira(3), a Defesa Civil Municipal marcou que o rio chegou a um nível mínimo de 2,52 metros, o menor nível de maio nos últimos cinco anos.
Esquema de chuvas e eventos climáticos estão afetando o rio
Em comparação com março, em que o nível de chuva superou os 400 milímetros, foram apenas dois dias de chuvas significativos em maio, nos dias 4 e 5. O total do mês não passou dos 54,1 milímetros em Rio Branco, sendo que o esperado é de 108 milímetros.
Assim como outros eventos climáticos extremos recentes, como as chuvas e enchentes no Rio Grande do Sul, a situação do Rio Acre está sendo agravada pelas mudanças climáticas. Segundo reportagem do g1, os gases de efeito estufa estão causando uma mudança no ciclo hidrológico e, consequentemente, baixando o índice de precipitação na região.
Eventos climáticos como o El Niño também têm influência. No caso deste, que já caminha para seu fim, as chuvas ficam abaixo da média e tendem a causar secas no Norte e Nordeste do Brasil, enquanto aumenta os índices no Sul e Sudeste (como no RS).
Acre pode passar por secas este ano
A situação do Rio Acre alertou especialistas. Além desses eventos climáticos extremos, eles mencionam a possibilidade de uma seca severa em 2024, que causará desabastecimento da capital e uma possibilidade do rio “morrer”.
Ao g1, o coordenador da Defesa Civil Estadual, coronel Carlos Batista, afirmou que o manancial está abaixo do mesmo período em 2023 (quando estado de emergência foi decretado e reconhecido pelo governo federal para 22 municípios) e que isso pode ser indicativo de seca este ano.
Segundo ele, o estado já se prepara com planos de contingência para uma possível estiagem prolongada, incluindo o desabastecimento e incêndios florestais.
Já Saulo Aires de Souza, especialista em regulação de recursos hídricos e saneamento básico da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), disse que estudos feitos pela agência sobre um cenário estimado para 2024 identificaram uma diminuição média de 40% de disponibilidade água em rios, principalmente na bacia Amazônia. Com isso, a quantidade de dias secos mais do que dobraria.
“Morte” do Rio Acre não está confirmada
Em relação à “morte” do Rio Acre, o fenômeno ainda precisa ser avaliado. O estudo da ANA vai se aprofundar no grau de intermitência do rio.
A morte de um curso de água acontece quando ele passa de perene (rios que correm o ano inteiro) para intermitente (que secam completamente em certas épocas do ano).
No caso do Rio Acre, há uma chance de aumento de intermitência. Ou seja, o manancial pode passar por situações de seca mais vezes. No entanto, apesar dos riscos, isso ainda não é suficiente para determinar que o rio vai “morrer”.