O regime comunista do ditador chinês, Xi Jinping, fortaleceu ainda mais seu sistema de controle. Reportagem do jornal New York Times mostra que, em uma delegacia de polícia em Pequim, há folhas de papel com informações detalhadas de cada apartamento de um complexo habitacional da região. Essas folhas contém nomes, números de telefone e outros dados dos moradores. O detalhe principal era a codificação por cores das unidades: verde para “confiável”, amarelo para “requer atenção” e laranja para “controle rigoroso”.
Um policial inspecionou a parede e marcou de amarelo a folha que se refere a um dos apartamentos, de onde os moradores mudavam frequentemente, e o classificou como “de alto risco”. A marcação significa que haveria uma visita de acompanhamento na residência.
“Construí um sistema para lidar com perigos ocultos em minha jurisdição”, disse o policial, em um vídeo do governo local, que elogiava seu trabalho como um modelo de policiamento inovador.
A experiência de Fengqiao na nova era comunista chinesa
Segundo o jornal, esse tipo de governança local é o que o ditador Xi Jinping deseja: mais visível, invasiva e sempre vigilante a supostas ameaças. Policiais patrulham prédios ouvindo vizinhos em conflito, enquanto funcionários recrutam aposentados para atuar como olhos e ouvidos extras.
No local de trabalho, empregadores nomeiam “consultores de segurança” que reportam suspeitas à polícia.
Durante a pandemia de covid-19, a vigilância se expandiu para rastrear quase todos os residentes urbanos. Agora, Xi Jinping quer tornar esse controle permanente e mais abrangente, ao integrar o partido na vida diária para evitar qualquer mínimo problema.
Fengqiao se refere a uma cidade onde, na era do ex-ditador comunista chinês Mao Tsé-tung, o partido encorajava os residentes a reeducar supostos inimigos políticos em sessões de luta.
Xi Jinping, que frequentemente menciona Fengqiao em seus discursos, não pediu a retomada dessas sessões. Contudo, a ideia de usar pessoas comuns ao lado da polícia para suprimir desafios ao partido permanece.
Aumento da vigilência durante a pandemia
O Partido Comunista Chinês sempre exerceu um aparato de vigilância abrangente, mas, durante a pandemia, isso atingiu uma escala inédita. Agora, Xi Jinping deseja expandir esse controle para além de ameaças específicas, como o vírus, e integrá-lo profundamente na vida cotidiana.
A mídia estatal elogiou o sucesso inicial da China em conter a covid-19 como prova da utilidade contínua da experiência de Fengqiao. A abordagem detalhada provou sua eficácia durante os protestos de 2022, quando a polícia usou câmeras de reconhecimento facial e informantes para rastrear os participantes.
“A arquitetura está lá”, disse Minxin Pei, professor do Claremont McKenna College, que recentemente publicou um livro sobre o estado de vigilância da China. “Depois de três anos de bloqueios, ver como o sistema funciona provavelmente lhes deu muitas ideias.”
O impacto do big brother da China na economia
Pequim faz uma pressão para expandir rapidamente esse sistema e encoraja governos locais a contratar mais trabalhadores para vigiar as áreas designadas. No mês passado, o partido emitiu diretrizes sobre o gerenciamento desses trabalhadores, ao pedir um treinamento ideológico mais forte e ao formalizar recompensas e punições.
Esses novos monitores de grade vão complementar os milhões de informantes do governo local. No entanto, alguns trabalhadores comunitários e policiais já reclamam nas redes sociais sobre estarem sobrecarregados.
O aperto do Partido Comunista da China também pode sufocar a economia. Uma vendedora de frango frito em Zhangjiawan, que se identificou apenas como Ma, relatou que não conseguiu pagar o aluguel por três meses em virtude das patrulhas policiais que a proibiam de montar seu carrinho na calçada.
“Se a economia sofrer, então haverá problemas de segurança”, disse ela. “As pessoas precisam comer. Se ficarem ansiosas, as coisas vão ficar bagunçadas.”