domingo, novembro 24, 2024
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Região brasileira pode virar deserto; saiba qual

A agricultora Ana Lucia da Silva, que vive na zona rural de Juazeiro (BA) há quase 25 anos, relata que o clima e a paisagem da região têm mudado ao longo do tempo. Ela já não consegue mais plantar mandioca e mamona, assim como seus pais e avós faziam. As chuvas diminuíram e se tornaram mais raras, tornando o clima cada vez mais quente. Ana Lucia e outros moradores fazem o trabalho no campo sofrendo com o calor intenso, em área que tem potencial de virar deserto no futuro.

Pesquisadores do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) identificaram cinco municípios do nordeste da Bahia que formam a primeira região de clima árido observada no Brasil: Rodelas (BA), Juazeiro (BA), Abaré (BA), Chorrochó (BA) e Macururé (BA). Essa região ocupa área de 5,7 mil km².

Em novembro do ano passado, o Cemaden divulgou nota técnica que revelou essa descoberta. Conforme o Climatempo, a pesquisa analisou dados climáticos do país ao longo de 60 anos e comparou as mudanças nas condições climáticas em blocos de tempo de 30 anos. Com base na análise das alterações na radiação solar, precipitações, ventos e evaporação, os pesquisadores concluíram que o clima nessa região havia mudado.

Mudanças climáticas transformando região brasileira em deserto

  • Essa mudança do padrão de clima semiárido para árido tem impacto significativo, pois ocorre diminuição no índice de chuvas – de 800 mm por ano, em média, para 500 mm por ano;
  • Essa redução nas chuvas é insuficiente para suprir a perda de água pela evapotranspiração, combinação de evaporação da água no solo e transpiração das plantas e corpos d’água;
  • A pesquisadora do Cemaden, Ana Paula Cunha, afirma que o resultado da pesquisa foi inesperado, pois os pesquisadores esperavam apenas avanços do semiárido para outras regiões além do Nordeste e partes de Minas Gerais;
  • Ela destaca que essa região apresenta aumento acentuado de temperatura desde a década de 60, e esse aumento tem sido ainda mais acelerado nos últimos anos;
  • A pesquisa do Cemaden também demonstrou a relação entre o aquecimento global e a mudança no padrão climático no Brasil;
  • O aumento das temperaturas acelera a evaporação, levando a déficit hídrico e a secas mais intensas;
  • Dados do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) indicam que a temperatura na superfície da Terra aumentou 1,1 °C entre 2011 e 2020 em comparação com o período de 1850 a 1900;
  • No Brasil, esse aumento foi ainda mais intenso, chegando a 1,5 °C em média e até 3 °C em algumas regiões.

A redução na oferta de água devido à aridização já afeta a produção agrícola, a pecuária e a geração de energia no País. Atualmente, 49,8% da água disponível no Brasil é utilizada para atividades de irrigação. Além disso, 24,3% são usados para consumo humano, 9,7% pela indústria e 8,4% na agropecuária.

A desertificação é outro problema enfrentado na região. Apesar de não ser classificada como deserto, cerca de 85% do semiárido brasileiro sofre com processo de desertificação, o que leva à perda de fertilidade do solo, perda de biodiversidade e êxodo rural.

A agricultora Ana Lucia está buscando soluções para enfrentar as altas temperaturas e a escassez de chuvas, como o cultivo de espécies de plantas resistentes ao clima árido, como hortaliças e espécies da Caatinga. O pesquisador Javier Tomasella enfatiza que as soluções para a adaptação climática já existem e é necessário adotá-las quanto antes.

Diante desses desafios, o Ministério do Meio Ambiente encomendou o estudo do Cemaden e planeja lançar novo plano de combate à desertificação e mitigação dos efeitos da seca ainda este ano.

Via Olhar Digital

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