O presidente do Irã, Ebrahim Raisi, continua desaparecido depois da queda de um de três helicópteros de seu comboio presidencial, neste domingo, 19. Nos últimos anos, ele se tornou um dos mais conservadores presidentes do país.
Está totalmente alinhado ao atual líder supremo, Ali Khamenei, que é o chefe de Estado e a máxima autoridade política e religiosa do país. Khamenei e Raisi, de 63 anos, são do mesmo grupo. Khamenei foi presidente do Irã entre 1981 e 1989, ano em que substituiu o aiatolá Khomeini (1902-1989) como clérigo máximo.
Raisi é presidente do Irã desde junho de 2021, quando substituiu o moderado Hassan Rouhani. A vitória dele recolocou as instituições políticas iranianas sob o controle de uma linha-dura.
Raisi pode ser definido como “um homem da revolução”, em alusão à Revolução Islâmica no país, em 1979, que tirou do poder a dinastia do xá Reza Pahlavi, apoiada pelos Estados Unidos. O novo governante passou a ser o líder supremo, o aiatolá Khomeini, que rompeu todos os laços com o Ocidente e transformou a nação em uma teocracia.
Raisi é acusado de ser um dos que trabalharam para impor ao país esse regime radical e de ter participado de execuções em massa de prisioneiros políticos nos anos 1980. Ele nasceu em 14 de dezembro de 1960, na cidade de Mashhad, segunda maior cidade do Irã, na região nordeste. Lá está o santuário xiita mais sagrado do país, conta a Folha de S. Paulo.
O pai dele era clérigo e morreu quando Raisi tinha cinco anos. Ainda na adolescência, se tornou um religioso radical, ao entrar em um seminário na cidade sagrada de Qom, com 15 anos de idade. Suas vestimentas, com um turbante escuro e uma longa barba representam a imagem de descendente de Maomé, o fundador do islamismo.
A corrente xiita vem do termo Shīʻatu ʻAlī (partido de Ali). Ali era genro e primo de Maomé. Ele é considerado o legítimo sucessor do maior nome do islamismo. Os xiitas só aceitam sucessores ligados à família do profeta.
Presidente do Irã tem longa carreira no sistema judiciário
Desde que se tornou fiel ao regime radical de Khomeini, Raisi teve uma longa carreira no sistema judiciário iraniano, de cunho implacável e repressor. Tornou-se um símbolo do atual regime, por seu forte alinhamento com o establishment conservador do Irã. Mantém os estreitos laços com o líder supremo do país, Ali Khamenei.
Outros presidentes esbarraram na tentativa de modernizar o regime, por, mesmo que de forma subliminar, tentarem se contrapor ao radicalismo do líder supremo. Ainda que eleitos, inicialmente com a permissão do Conselho dos Guardiões (clérigos indicados pelo líder supremo), não se sustentaram politicamente.
Foram os casos de Mohammad Khatami (1997- 2005), considerado o primeiro presidente reformista do Irã, e de Hassan Rohani (2013-2017). Este último chegou a estar em sintonia com a violência radical quando, em 1999, defendeu a pena de morte para manifestantes.
Rohani, no entanto, mudou o discurso e defendeu os protestos que consideraram fraudulenta a eleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad (2005-2009), um linha-dura que negou o Holocausto.
Foi substituído por Raisi, que acirrou o discurso hostil a Israel. Em sua presidência, Raisi manteve uma forte tensão com o Ocidente, depois da morte do general Qassem Soleimani, em 2020, em ataque norte-americano. E manifestou apoio ao ataque do Hamas a Israel, em 7 de outubro, o que deu início ao ápice da hostilidade entre Israel e Irã.
Sob sua presidência, o governo iraniano realizou o primeiro ataque direto do país a Israel, em 13 de abril, quando mais de 300 drones e mísseis foram lançados. Praticamente todos foram repelidos pelo sistema de defesa israelense, com o auxílio de países aliados.