Na França, a extrema esquerda elegeu o maior número de deputados, mas sem conquistar a maioria para comandar a Assembleia Nacional — e automaticamente ter um primeiro-ministro. O segundo turno para o Poder Legislativo francês ocorreu neste domingo, 7.
Das 577 cadeiras da Assembleia, a coalizão Nova Frente Popular (NFP), de extrema esquerda, vai ter 182 representantes. Quantidade distante da maioria absoluta — 50% mais um —, que é 289.
A NFP não existia no cenário político francês até o início do mês passado, quando o presidente Emmanuel Macron, da centro-esquerda, dissolveu o Parlamento e convocou novas eleições. A decisão se deu depois da vitória da direita na disputa pelas cadeiras do país no Parlamento da União Europeia.
A coalização é comandada por Jean-Luc Mélenchon, de 72 anos. Ele é um veterano na política francesa e já ocupou diversos cargos públicos, iniciando sua carreira ainda na década de 1970, depois de se filiar ao Partido Socialista.
O esquerdista foi ministro da Educação durante o governo socialista de Lionel Jospin no final dos anos 1990. Em 2008, ele deixou o partido para fundar o Partido de Esquerda, do qual saiu em 2014.
Formado em filosofia, Mélenchon foi um trotskista radical na juventude e hoje é uma figura proeminente da esquerda radical. Ele é conhecido por discursos vigorosos contra o capitalismo e por defender fortemente “causas sociais”.
As propostas de Mélechon
A ascensão política de Mélenchon ganhou destaque em 2012, quando fez sua primeira tentativa de presidência da França. Ele concorreu novamente em 2017 e 2022, ganhando apoio crescente, especialmente entre os jovens que o seguem nas redes sociais.
Suas propostas principais incluem taxação mais alta para os ricos e a nacionalização de vários serviços na França, temas que dividem até mesmo a esquerda no parlamento atual.
Em 2017, sua plataforma incluía imposto de 100% sobre rendimentos acima de € 400 mil, redução da semana de trabalho para 32 horas e fim da energia nuclear na França, responsável por quase 80% da eletricidade do país.
Nas eleições de 2022, Mélenchon prometeu diminuir o poder presidencial em favor da Assembleia Nacional, que ele chama de “monarquia presidencial”.
Líder da extrema-esquerda é amigo de Lula, apoiador de ditadores e já foi acusado de antissemitismo
Admirador dos ditadores venezuelano Hugo Chávez e cubano Fidel Castro, Mélenchon também possui posições controvérsias na política externa, com destaque para a guerra no Oriente Médio, na qual tem sido um forte crítico de Israel, sendo inclusive acusado de antissemitismo por declarações públicas sobre o conflito.
O LFI, principal partido da coligação Nova Frente Popular, não condenou o Hamas como organização terrorista, mesmo após eventos de violência contra civis perto da Faixa de Gaza.
Depois dos resultados eleitorais recentes, Mélenchon prometeu pressionar pelo reconhecimento de um Estado palestino, destacando a autonomia internacional que buscará alcançar.
O líder visitou Lula em Curitiba enquanto o ex-presidente brasileiro estava preso. Durante essa visita, Mélenchon expressou sua emoção e solidariedade, afirmando que recebeu “energia” de Lula e condenou o que chamou de “processo político” contra ele. Mélenchon conheceu Lula ainda como sindicalista e, depois prisão, destacou a força de caráter do então ex-presidente brasileiro.
O partido também enfrenta críticas por posicionamentos que foram considerados antissemitas e por minimizar a gravidade do antissemitismo na França. A comunidade judaica no país expressa preocupação com a retórica do LFI, especialmente depois de um aumento significativo nos ataques contra judeus desde conflitos recentes.