sexta-feira, novembro 22, 2024
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Quem é Javier Milei, o novo presidente da Argentina

O deputado Javier Milei, de 53 anos, elegeu-se presidente da Argentina neste domingo, 19. Ele superou o atual ministro da Economia e candidato do kirchnerismo à Casa Rosada, Sergio Massa.

O novo presidente da Argentina soube explorar a insatisfação dos hermanos com os políticos de carreira. A inflação no país, de três dígitos; a crise econômica aguda, sem indícios de melhora; e a pobreza de 40% da população, legados do governo de Alberto Fernández, impulsionaram a vitória do candidato outsider.

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Líder do partido Libertad Avanza, Milei apresenta-se como um representante do libertarianismo. Para o novo presidente da Argentina, o Estado deve abster-se das atividades que podem ser desempenhadas pela iniciativa privada. Ele defende a união civil entre pessoas do mesmo sexo, a legalização das drogas e o armamento da população. Ao mesmo tempo, posiciona-se contrariamente ao aborto, à pena de morte, à ideologia de gênero, à sobrecarga de impostos e às cotas para as minorias.

Indagado se não seria um contrassenso participar da política, tendo em vista que os libertários rejeitam a existência do Estado, Milei não hesitou. “Isso não significa abandonar a batalha cultural”, disse à Agência France-Presse. “Se você atua apenas na batalha cultural, deixa de agir na vida prática. Os torcedores do Barcelona foram legais, mas os gols foram marcados por Messi.”

Formado em economia na Universidade de Belgrano, Milei era colunista de publicações, como La Nación e El Cronista, e participou várias vezes como analista de economia em programas de televisão. Nessas participações, foi construindo o que viria a ser a base de sua proposta econômica. Passou pelo mercado financeiro e sempre foi um crítico ferrenho das duas principais correntes políticas do país.

“De aparência e hábitos um tanto excêntricos, conhecido por muitos como El Peluca, em razão de seu penteado pouco convencional, Milei parece saber como impressionar plateias e eleitores”, observa o economista Ubiratan Jorge Iorio, colunista de Oeste.

Milei chamou atenção do público ao sortear todos os meses o salário que recebe como deputado nacional e declarar-se pai de seus cães, uma matilha de mastins ingleses, a quem chama de “filhos de quatro patas”, batizados com os nomes de seus economistas favoritos: Milton (Friedman), Murray (Rothbard) e Lucas (Robert Lucas).

Para a cientista política Maria Eugênia Assis, a ascensão de Milei ocorre especialmente em virtude de seu comportamento irreverente diante do público. “Ele vende a imagem de um rockstar, e isso chama atenção das pessoas, sobretudo dos jovens”, explicou. “Há ainda uma postura politicamente incorreta, que vai de encontro à velha política.”

As propostas de Javier Milei

1) Reforma do governo, passando de 18 para 8 ministérios, a saber: Interior, Relações Exteriores, Defesa, Economia, Justiça, Segurança, Infraestrutura e Capital Humano;

2) Realocação dos funcionários públicos; forte redução das nomeações políticas; abolição dos privilégios dos funcionários públicos, como guarda-costas e motoristas, exceto nos casos em que forem absolutamente necessários; e o início de um processo geral de privatização ou encerramento de todas as empresas estatais;

3) Redução significativa dos gastos públicos, visando ao superávit; eliminação de 90% dos impostos que apenas arrecadam uma fração de 2% do Produto Interno Bruto, mas têm fortes efeitos de distorção; e a baixa dos impostos restantes;

4) Flexibilização da regulamentação trabalhista, com redução dos custos de demissão e implementação de um regime privado de seguro-desemprego, com o objetivo de aumentar o emprego formal no setor privado (dos atuais 6 milhões de postos de trabalho para 14 milhões);

5) Liberalização da economia, buscando o livre comércio unilateral ao estilo do Chile, com a eliminação de todas as tarifas de importação e exportação e a redução da regulamentação;

6) Reforma monetária, com a permissão do uso de qualquer mercadoria ou moeda estrangeira como moeda legal; e a extinção do Banco Central, com a consequente eliminação do peso argentino. O principal plano para essa reforma é o desenvolvido pelos economistas Emilio Ocampo e Nicolas Cachanosky, que prevê um tempo de implantação entre nove e 24 meses, sendo a conversão feita à taxa de câmbio de mercado e, uma vez convertidos dois terços da base monetária, o acionamento de uma contagem regressiva para a última data de conversão;

“Peronismo à brasileira”, reportagem de Silvio Navarro publicada na Edição 121 da Revista Oeste

7) Reforma energética, com a eliminação de todos os subsídios aos fornecedores de energia, redução de seus custos e melhorias na infraestrutura por um sistema de declarações de interesse público para projetos a serem financiados e executados pelo setor privado, mas com uma garantia mínima de receita por parte do governo;

8) Fomento ao investimento de longo prazo, com ênfase em mineração, combustíveis fósseis, energia renovável e silvicultura, com eliminação de restrições cambiais e impostos de exportação;

9) Estímulos à agricultura, com eliminação do spread entre a taxa de câmbio oficial e a de mercado por meio da liquidação do Banco Central; a eliminação de todas as taxas e retenções de exportação e do imposto sobre a receita bruta; a extinção de todas as restrições ao comércio exterior, incluindo cotas e necessidade de autorização; a promulgação de uma nova lei de sementes; e a melhoria da infraestrutura rodoviária por meio da iniciativa privada;

10) Reforma judicial, com a designação de um ministro da Justiça com o consenso do Poder Judiciário, bem como a nomeação de um ministro do Supremo Tribunal Federal sem filiação política para preencher a presente vaga existente, vedando a participação de membros do Poder Judiciário na política partidária, além da promoção da independência orçamentária do Poder Judiciário;

11) Reforma previdenciária, mantendo os atuais benefícios, porém visando a avançar depois de alguns anos para um sistema privado;

12) Reforma educacional, com maior grau de liberdade para currículos, métodos e educadores, lançamento de um programa piloto de vouchers escolares e de um sistema de avaliação das escolas para que possam concorrer aos incentivos;

13) Reforma da saúde, permitindo maior liberdade de escolha e competição, e a disponibilização dos benefícios de saúde existentes em vouchers; e

14) Reforma da segurança, com mudanças nas leis de segurança interna, defesa nacional e inteligência, no sistema penitenciário, presídios público-privados e intensificação da repressão ao narcotráfico.

O que especialistas dizem sobre o novo presidente da Argentina

O economista Fernando Ulrich, mestre em economia pela Escola Austríaca, acredita que Milei reúne as ideias mais apropriadas para tirar a Argentina da crise. Mas ressalva: o novo presidente terá longa jornada para colocar seu projeto em prática.

“Milei terá a viabilidade de governança?”, interpelou Ulrich. “Será que vai conseguir mesmo movimentar o Congresso para aprovar as pautas? Conseguirá aprovar as reformas estruturantes, a dolarização, a reforma fiscal e a redução drástica do gasto público? A gente precisa aguardar e torcer para que dê certo.”

Em entrevista ao jornal Presente, Milei explicou as bases de seu pensamento. “Filosoficamente, sou anarquista de mercado”, disse. “Acredito nos indivíduos, na ordem espontânea, no autogoverno.”

Segundo a jornalista Maria Laura Assis, Milei precisará ceder em suas posições para conseguir desempenhar as atividades na Casa Rosada. “Ele perceberá que muitas de suas ideias não são possíveis de ser aplicadas, porque o mundo da política é complexo”, observou.

Os próximos passos de El Peluca

Às 20h36, no horário de Buenos Aires, Milei já podia ser declarado o mais novo presidente eleito da Argentina. Com 91% das urnas apuradas, o libertário tinha 55,86% dos votos. Massa, representante do peronismo, surgia com 44,13%.

Ao votar no início da tarde, Milei alegou que, em sua jornada enquanto presidenciável, teve de lidar com outros adversários políticos. De acordo com o novo presidente, houve propaganda de difamação contra sua família.

Milei deverá assumir a Presidência da Argentina em dezembro. Durante o mandato, terá a companhia de sua companheira de chapa — e agora vice-presidente eleita — Victoria Villarruel.

Advogada de carreira, Victoria, de 48 anos, está em seu primeiro mandato como deputada. No sistema eleitoral argentino, enquanto vice-presidente, Victoria também desempenhará a função de presidente do Senado da Argentina.

Como presidente, Milei terá de encarar problemas a serem deixados pela esquerda. Atualmente, o país registra inflação anual acima dos 140%. Desvalorizado, cada peso vale, no câmbio oficial, US$ 362. Indicadores divulgados em setembro mostram que a pobreza tornou-se um problema para cerca de 40% da população.

Via Revista Oeste

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