domingo, fevereiro 2, 2025
InícioDestaque'Quando o poder sufoca o verbo'

‘Quando o poder sufoca o verbo’

(*) Por Gabriela Moraes

A palavra, em sua essência, carrega o peso dos séculos. Desde os primeiros rabiscos nas cavernas até as mais modernas plataformas digitais, a expressão humana foi veículo de revoluções, reformas e resistência. Contudo, quando o poder decide suprimir a palavra, a história tem nos mostrado que o silêncio imposto reverbera como um grito de socorro. No Brasil atual, vivemos tempos sombrios, nos quais a censura ganha novos contornos, e o verbo, outrora livre, é aprisionado pelo martelo que deveria defender a liberdade.

Nesse sentido, assistimos com inquietação aos movimentos recentes dos ministros do Supremo Tribunal Federal, que, em nome de um suposto equilíbrio social, interferem nas vozes que ousam questionar o statu quo. Entre decisões controversas e ordens judiciais que limitam a circulação de informações e opiniões, surge uma reflexão necessária: a quem serve o silêncio?

Em países onde o silêncio é a regra, o passado e o presente se entrelaçam em histórias de dor. Na China, a Grande Muralha digital separa seus cidadãos de um mundo de pluralidade de ideias. Na Rússia, críticas ao governo são tratadas como atos de traição. Em Cuba, jornalistas independentes são perseguidos, e, na Coreia do Norte, o simples ato de pensar diferente é uma sentença de morte. Em todos esses lugares, o silêncio é a maior prisão.

A liberdade de expressão está em risco no Brasil

Nosso país, que já sofreu com o peso da censura durante os anos de ditadura, volta a flertar com a supressão da liberdade de expressão. A censura, seja ela imposta por governos autoritários ou por instituições democráticas que extrapolam seus limites, sempre carrega o mesmo resultado: sufocar o debate, a criatividade e, principalmente, a verdade. É como apagar as estrelas para negar a existência da noite.

É necessário lembrar que a liberdade de expressão é a primeira linha de defesa de uma sociedade justa e próspera. Quando se cerceia o direito ao desacordo, coloca-se em xeque o próprio fundamento de uma democracia saudável. O argumento de que certas palavras são perigosas ou incitam ódio é uma armadilha. Hoje, censura-se uma ideia; amanhã, censura-se toda uma geração.

O Brasil, com sua diversidade e complexidade, não pode se permitir calar diante das investidas contra a liberdade. Precisamos aprender com as lições dos países que, sob a bandeira de regimes totalitários, sufocaram suas próprias vozes até que o silêncio se tornasse ensurdecedor. O poder, quando não contestado, tem a tendência de esquecer sua verdadeira função: servir ao povo, e não o controlar. 

Que a liberdade seja sempre nossa estrela-guia, e que nunca nos esqueçamos de que o silêncio imposto é o maior inimigo da verdade. Afinal, como já dizia a poeta Cecília Meireles: “Liberdade, essa palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique, e ninguém que não entenda”.

Via Revista Oeste

MAIS DO AUTOR

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui